"Charlie Hebdo" tem histórico de provocações ao islã
7 de janeiro de 2015Publicação semanal de pequena tiragem, impressa em papel de jornal, o Charlie Hebdo é dessas publicações mais conhecidas do que lidas. A fama vem da acidez de seus escritores e cartunistas, que alvejam para todos os lados – principalmente para aquilo que ganha aura de sagrado e institucionalizado, como o bom humor deve fazer.
Presidentes, papas, o politicamente correto em geral são alvos tradicionais do semanário. Mas famoso mesmo ele se tornou por seu retrato sarcástico, irônico e afiado do fundamentalismo islâmico. Em diversos momentos, o Charlie Hebdo publicou charges do profeta Maomé, despertando a ira de radicais islâmicos.
Foi assim em 2006, com a republicação de desenhos publicados originalmente na Dinamarca; em 2011, com uma edição especial chamada Sharia Hebdo, que tinha Maomé como "editor convidado"; em 2012, quando Maomé apareceu nu e em pose pornográfica, e isso em meio ao furor causado por um filme sobre o profeta; e em 2013, numa edição especial de 64 páginas dedicadas ao profeta.
"Somos uma revista de sátira, de política, de desenhos. E somos, sobretudo, uma publicação ateísta: lutamos contra todas as religiões a partir do momento em que elas abandonam o âmbito privado para se ocupar da política e da opinião pública. A religião muçulmana tenta fazer uso da política, por isso ela deve, como todas as outras forças políticas, submeter-se a críticas", declarou o editor-chefe, Gérard Biard, em entrevista à DW, em 2012.
Em 2011, o Charlie Hebdo foi pela primeira vez alvo da ira dos fundamentalistas. No dia em que a publicação com Maomé na capa chegou às bancas, a redação foi destruída num ataque com bombas. A edição se esgotou em poucas horas, e políticos saíram em defesa da revista e da liberdade de imprensa.
Em 2012, o ministro do Exterior, Laurent Fabius, considerou as charges de Maomé uma provocação e ordenou o fechamento de embaixadas, centros culturais e escolas francesas em cerca de 20 países por causa do temor de uma reação violenta aos desenhos da revista.
"Maomé não é sagrado para mim. Eu vivo sob lei francesa", declarou então o diretor do semanário, Stephane Charbonier, o Charb, à agência de notícias AP. Ele morreu no atentado desta quarta-feira (07/01) contra a redação, em Paris, quando a equipe participava de uma reunião de planejamento.
Politicamente, o Charlie Hebdo é considerado uma publicação de esquerda na França. A circulação gira em torno dos 50 mil exemplares. Em 2006, com a publicação das charges de Maomé, chegou a quase meio milhão de cópias.