Cinza é a cor predominante do inverno em Berlim e surge em todas as nuances possíveis. Passa o Natal, e a estação recebida com entusiasmo já parece durar décadas. A paciência com o frio dura bem menos que o inverno.
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Janeiro está chegando ao fim e com ele vem aquela sensação característica de que o inverno já dura décadas em Berlim. A paciência para esta estação se esgota em algum momento entre o Natal e os primeiros quinze dias do novo ano.
O frio é apenas um detalhe do inverno na cidade e é fácil contorná-lo, até mesmo os 20 graus negativos que peguei no primeiro ano em Berlim. Aqui, todos os lugares têm aquecimento, então dentro de casa é sempre aconchegante. Já passei mais frio em Curitiba do que na Alemanha. Na capital paranaense, as casas parecem geladeira, com temperaturas sempre menores do que do lado de fora.
Mas essa experiência que vivi desde a infância, apesar de sofrida, é muito útil hoje em dia, pois auxilia na economia do gás usado para o aquecimento. Para mim, em casa, a temperatura interior não precisa simular um verão artificial, como ocorre em certos lares alemães, bastando permitir que se ande com uma blusa de lã.
O grande problema do inverno em Berlim são os dias cinzentos. É cinza que não tem mais fim. O sol aparece raramente nesta estação. Aquele cinza eterno renasce dia após dia e traz consigo uma depressão profunda e a vontade de hibernar até esse período passar ou até aparecer um daqueles dias ensolarados de contar nos dedos, que trazem a esperança de um fim de inverno próximo.
No entanto em janeiro o fim do inverno, que na prática começou em algum momento em outubro, parece muito distante. As temperaturas só vão atingir um nível agradável, com muita sorte, a partir de abril, porém mais provavelmente em maio.
Além disso, alguma neve deve cair nos próximos meses. Apesar de bonita nas primeiras horas, ela adquire o tom marrom ao se misturar com os passos e as pedrinhas colocadas para evitar escorregões e, no fim, contribui para ressaltar o cinza de Berlim e deixar a cidade com uma aparência suja e descuidada.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Dez razões por que as casas alemãs são quentinhas
Sistemas de calefação nos prédios e mesmo no transporte coletivo são uma necessidade nos países de inverno intenso. Mas também detalhes de construção, como o isolamento de paredes e aberturas, são fundamentais.
Foto: Fotolia/VRD
Isolamento externo com isopor
Para efeito de isolamento, placas de isopor de até 15 cm de espessura cobrem as paredes externas de prédios e casas.
Foto: Getty Images/S. Gallup
Lã de vidro nos telhados
Para evitar a entrada do frio, especialmente quando os telhados ficam cobertos de neve, as paredes do sótão são forradas com lã de vidro, que também pode ser usado nas paredes internas para isolamento acústico.
Foto: picture alliance/dpa Themendienst
Aberturas voltadas para o sul
Para o aproveitamento máximo da luz e do calor solar, as casas no Hemisfério Norte são construídas, se possível, de forma a que as aberturas sejam voltadas para o sul.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Müller
Vidros duplos ou triplos
Se antigamente a técnica de isolamento era fazer janelas duplas, com uma câmara de ar no meio, hoje em dia estas câmaras estão embutidas na própria janela. As mais modernas já têm até três camadas de vidro.
Foto: imago/chromorange
Isolamento das aberturas
Já na construção das casas, a instalação de portas e janelas é acompanhada de um engenhoso sistema de isolamento para impedir toda entrada de ar e umidade.
Foto: Jürgen Fälchle/Fotolia
Porão também ajuda
A maioria das edificações tem porões na Alemanha. Eles não são usados apenas como despensa e área de festas, mas servem de câmara intermediária entre o frio do solo e o piso térreo. Ao longo do ano, a temperatura no porão costuma se manter constante, entre 12 e 15 ºC.
Foto: picture-alliance/dpa/M.C. Hurek
Sustentabilidade que aquece
Telhados verdes não são apenas bonitos. Entre suas muitas vantagens, eles também protegem contra oscilações de temperatura, tanto no inverno quanto no verão.
Foto: picture-alliance/dpa/H.Ossinger
Calor que irradia do chão
O sistema de piso radiante garante a distribuição homogênea do calor. Através dos pequenos canos debaixo do piso, passa água quente, mas também pode ser fria, no verão, se o equipamento for combinado com uma bomba de calor reversível.
Foto: picture-alliance/dpa
Com calefação, tudo quentinho
Nos prédios mais antigos, os sistemas de aquecimento ainda funcionam a carvão ou óleo de calefação, enquanto nos modernos as caldeiras são a gás. Para climatizar os ambientes, é usada também a geotermia (aproveitando o calor de dentro da Terra) ou a troca de ar frio pelo quente, através de tubos enterrados no solo em volta do prédio (foto).
Foto: Fraunhofer ISE
Lixo gera calor e eletricidade
Muitas prefeituras investiram em usinas de incineração de lixo e aproveitam o calor para gerar eletricidade ou vapor quente distribuído por uma rede urbana. Também as termoelétricas distribuem, além da eletricidade, vapor quente para sistemas de aquecimento.