Clärchens é um dos últimos salões de baile remanescentes do século passado em Berlim. Inaugurada em 1913, casa sobreviveu a bombardeios e uniu alemães na cidade dividida durante a Guerra Fria.
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O prédio antigo com um jardim em frente chama atenção de quem passa na rua Auguststrasse, no centro de Berlim. Pela movimentação, a impressão inicial é que o local seja apenas um restaurante, mas quem decide dar uma bisbilhotada descobre que aquela construção com as paredes externas descascadas escondeu uma das casas de baile mais tradicionais e charmosas da cidade.
Ao passar pelo corredor de entrada, o visitante viaja no tempo é transportado para um grande salão do início do século 20, com uma pista de dança, palco e mesas ao seu redor. No andar superior, a Sala dos Espelhos impressiona pela beleza. Inaugurada em 1913, a casa de baile Clärchens sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e ao fim da Alemanha Oriental, e é um dos últimos salões remanescentes da década de 1900 na cidade.
A casa de baile foi idealizada pelo casal Fritz e Clara Bühler e inaugurada com o sobrenome do casal, porém, devido a Clara, os frequentadores apelidaram carinhosamente o salão de Clärchens (Clarinha). Com a morte de Fritz em 1929, Clara continuou tocando o negócio sozinha até 1932, quando ela casou novamente e ganhou um novo sócio.
Em 1944, o regime nazista proibiu eventos públicos. Dessa maneira, o salão deixou de receber dançarinos e passou a servir apenas como local de encontro para café com bolo. O andar superior, a imponente Sala dos Espelhos, foi transformado em local de lazer para soldados.
Com o fim da guerra, a Clärchens voltou a dar seus famosos bailes. Localizada no lado da República Democrática Alemã (RDA), a fama da casa ultrapassou as fronteiras socialistas e tornou-se também um ponto de encontro de visitantes da Berlim capitalista.
A Sala dos Espelhos, porém, ficou fechada durante anos e hoje ainda conserva as marcas do tempo e das bombas que caíram sobre Berlim. Os proprietários optaram por preservá-la exatamente como ficou depois da guerra. Espelhos e teto quebrados, paredes desbotadas dão um charme a mais ao espaço.
Em 2003, os herdeiros de Clara venderam o local. Os novos donos decidiram sabiamente não mudar nada na casa, preservando toda as marcas da história. Aberta todos os dias, os visitantes podem escolher durante a semana os ritmos que mais gostam: nas segundas-feiras, por exemplo, é o dia da salsa e, nos fins de semana, todos os ritmos se encontram.
Além de bailes, aulas de dança de salão são oferecidas no Clärchens. Nos últimos anos, a casa de baile ganhou fama mundial. O local foi escolhido com cenários para filmes de Hollywood. Quentin Tarantino, por exemplo, rodou algumas cenas de Bastardos Inglórios no salão.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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Dez filmes que se passam na Alemanha
Cidades do país foram cenário de várias produções internacionais ao longo dos anos, especialmente Berlim.
Foto: Koch Media
Alemanha ano zero
Uma das principais obras do neorealismo italiano, o filme de 1948, dirigido por Roberto Rossellini, faz parte da trilogia do diretor composta também por "Roma, cidade aberta" (1945) e Paisà-Libertação (1946) – todos três situados na Itália e na Alemanha do pós-guerra sob as heranças do fascismo e do nazismo. O filme é uma crítica aguda às relações sociais e de poder na Alemanha da época.
Foto: Koch Media
Cortina rasgada
Longa-metragem americano de 1966, dirigido por Alfred Hitchcock, foi mal recebido pela crítica. Sem a elaboração narrativa de seus trabalhos anteriores, o filme narra a história de um físico americano que, durante uma passagem por Copenhague, resolve seguir secretamente para Berlim Oriental, ou seja, para além da Cortina de Ferro, em companhia da namorada.
Foto: picture-alliance/dpa/United Archives/IFTN
Helsinki Nápoles: toda a noite
O cineasta finlandês Mika Kaurismäki escolheu para sua comédia policial, lançada em 1987, Berlim como cenário – cidade situada entre Hensinki e Nápoles, origem dos pais do protagonista do filme. "Road movie" que se passa durante apenas uma noite na capital alemã, o filme tem participações especiais dos diretores Wim Wenders, Jim Jarmusch e Samuel Fuller.
Foto: picture alliance/United Archives/IFTN
Alemanha Ano 90 Novo Zero
O título original deste filme de Jean-Luc Godard, de 1991, "Allemagne 90 neuf zéro", traz a ambiguidade entre o "nove zero" dos anos 1990 e o "novo zero", ou seja, a ideia de uma Alemanha "zerada" após a queda do Muro de Berlim e a reunificação do país. Um filme-ensaio cheio de citações e associações, no qual o espião Lemmy Caution perambula pela capital alemã.
Europa
O dinamarquês Lars von Trier recebeu por essa coprodução internacional de 1991 o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes. Parte da "Trilogia Europa", o filme narra os confrontos de um protagonista cheio de ideais em meio à decadência europeia no ano de 1945. Com sua estética noir, voz off e sobreposição de imagens, o longa tem roteiro inspirado em "América", livro de Franz Kafka de 1927.
Foto: picture alliance / United Archives
Dr. M
Coprodução internacional, "Dr. M" é o remake, dirigido pelo francês Claude Chabrol em 1990, de "Dr. Mabuse, o jogador", filme de Fritz Lang de 1922. Da mesma forma que no clássico de Lang, no filme de Chabrol a cidade de Berlim, cenário da narrativa, é abalada por uma série de supostos suicídios inexplicáveis. Na versão do diretor francês, o vilão é substituído pelo magnata da mídia Dr. Marsfeldt.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Galuschka
O escritor fantasma
Filme de suspense de Roman Polanski, lançado em 2009, tem praticamente todas as suas locações na Alemanha – tanto nos estúdios Babelsberg, de Potsdam, quando em Berlim e na costa alemã dos Mares do Norte e Báltico (mais precisamente nas ilhas de Usedom, Romo e Sylt). Polanski foi premiado com o Urso de Prata de melhor direção pelo filme no Festival de Cinema de Berlim.
Foto: Kinowelt
Praia do Futuro
Dirigido pelo brasileiro Karim Aïnouz, o filme foi rodado em Berlim, Fortaleza e na costa alemã do Mar do Norte. Lançado em 2014, o longa-metragem conta a história de amor entre o salva-vidas Donato (Wagner Moura) e Konrad (Clemens Schick). O filme tem na trilha sonora, entre outros, "Heroes", de David Bowie.
Foto: Alexandre Ermel
Grande Hotel Budapeste
Coprodução internacional dirigida pelo americano Wes Anderson, essa tragicomédia de 2014, exibida no Festival de Berlim, foi rodada sobretudo na cidade de Görlitz, localizada na fronteira entre Alemanha e Polônia e chamada de "Görliwood" por atrair a atenção de diversos diretores de cinema como cenário de filmes. Anderson e equipe passaram mais de 50 dias gravando na cidade.
Foto: Twentieth Century Fox
Ponte dos espiões
Longa-metragem de 2015 dirigido por Steven Spielberg, o filme tem diversas locações em Berlim e arredores, entre eles a Glienicker Brücke – ponte a que se refere o título do filme. O protagonista da história é um advogado (Tom Hanks) que, durante a Guerra Fria, defende um espião soviético detido pelos EUA, sendo enviado a Berlim para negociar sua troca por um norte-americano preso pelos russos.