Checkpoint Berlim: Ampelmännchen, um sobrevivente
1 de julho de 2016Na primeira vez que estive em Berlim, um dos maiores símbolos da cidade foi uma das coisas que mais me chamou atenção: o Ampelmännchen (homenzinho do semáforo). Confesso que, ao visitar a capital alemã, não sabia que eles eram tão diferentes dos brasileiros. E, como achei os bonequinhos de chapéu fofos, eles foram modelos em diversas fotografias no álbum da viagem.
Durante o passeio em Berlim, fui descobrindo que o Ampelmännchen é um dos símbolos mais famosos da cidade, quase tão conhecido quanto o Portão de Brandemburgo e, com certeza, mais cult do que o monumento. Além de ser uma marca com locais de venda para produtos exclusivos, o homenzinho do semáforo estampa uma enorme variedade de objetos e peças de vestuário em praticamente todas as lojas de souvenires da capital.
No auge dos seus 55 anos, o Ampelmännchen tem uma história um tanto curiosa. Ele é um dos últimos resquícios da Alemanha Oriental na atual Alemanha. Com a Reunificação, o modelo do lado ocidental foi quase que imposto ao antigo pedaço socialista. Assim, símbolos, produtos e padrões de sistemas, como o educacional ou o de transporte, da República Democrática Alemã (RDA) foram engolidos pela mudança.
Ameaçado, o homenzinho do semáforo conseguiu, porém, sobreviver nesse ambiente hostil, graças ao apoio de moradores de Berlim, que criaram um comitê para salvá-lo da substituição pelo modelo adotado no lado ocidental. Um dos argumentos que evitou sua extinção foi o mesmo que serviu de inspiração para seu criador, o psicólogo para o trânsito Karl Peglau, em 1961: sua facilidade de chamar a atenção de crianças e idosos.
Depois de ter sido quase extinto, o Ampelmännchen se tornou o queridinho da cidade e conseguiu diversificar seu habitat. Agora ele não vive mais somente no lado oriental da capital alemã, mas conquistou espaço em muitos semáforos da antiga Berlim ocidental e, desde 2005, passou a substituir os colegas do oeste quando esses dão defeito.
Atualmente, o homenzinho de chapéu auxilia ainda no trânsito em outras cidades alemãs. Além disso, ele ganhou uma versão feminina e viaja pelo mundo em souvenires levados como lembrança de Berlim.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.