Em Berlim, maior galeria de arte urbana do mundo nasceu com mês marcado para ser demolida com tudo dentro: em junho. Projeto temporário possuiu obras de 165 artistas, inclusive do Brasil.
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Desde abril, dia após dia, o público faz fila em frente ao prédio que recebeu a maior galeria de arte urbana do mundo. Pacientemente, centenas de pessoas aguardam para ver obras de 165 artistas de 14 países no espaço The Haus, localizado próximo à nobre e tradicional avenida de compras Kurfürstendamm, uma das mais chiques da cidade. O Brasil é representando por um mural de Paulo Consentino.
Na fila, um público variado de diferentes gerações e contextos sociais. A espera é compreensível, afinal, eles têm apenas dois meses para visitar esse "museu" que será demolido em junho com todas as suas obras dentro. A visita também é a única possibilidade para conhecer o espaço, pois é estritamente proibido fotografá-lo.
"A realidade é bem mais bonita do que na internet", respondeu Kimo von Rekowski, um dos idealizadores do museu temporário, quando o questionei sobre a proibição de fotografias. Os artistas querem "tirar as pessoas de casa" e proporcionar uma vivência ao público, ao proibir que os visitantes passem batido pelo local apenas fazendo selfies com celulares. Assim, quem se interessa pela ideia tem que vir até a The Haus para poder ver as obras.
"The Haus": a galeria de arte de rua que será demolida
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E, realmente, dentro da The Haus, as pessoas observam atentamente a arte, interagem umas com as outras sobre o que estão vendo, como era antigamente antes da era dos smartphones. Não há aquela loucura de tirar uma foto, postar nas redes sociais e mostrar a todos onde estão, mas sem realmente estar ali curtindo o momento ou enxergando o que está a sua frente.
Outro aspecto fascinante no projeto é sua data de validade. Em junho ele será demolido, e quem não viu as obras nunca mais poderá vê-las. Os artistas que toparam participar do projeto sabiam desde o início deste destino. Kimo explica que a transformação é uma das premissas de arte urbana. Intervenções externas e destruição seriam mecanismos que incentivam criatividade do artista.
Além de promover a arte urbana, o projeto é ainda um manifesto de Berlim, que cada vez mais vem perdendo espaço criativos em detrimento da especulação imobiliária. "A cultura está perdendo espaço no centro da cidade, sendo expulsa por aluguéis caros", acrescentou Alexander Wolf, que também contribuiu para tirar a ideia do papel.
O prédio que abriga a The Haus foi cedido aos artistas para o uso temporário. No local do antigo escritório de um banco, agora museu, serão construídos 75 apartamentos de luxo. Os artistas esperam que com o sucesso do projeto, no futuro, mais parcerias como esta sejam fechadas e, dessa maneira, seja possível evitar que a cidade conhecida pela convivência constante com arte urbana perca essa característica.
Por isso, Wolf destaca que a demolição é importante, para mostrar ao setor imobiliário que é possível a cooperação em projetos temporários.
Em apenas algumas semanas, os artistas transformaram o prédio de cinco andares num verdadeiro museu, com arte em 108 salas e espaços, como corredores e banheiros. Além de grafite, há esculturas e instalações de realidade virtual. Uma das minhas obras preferidas é a sala que recriou um túnel de trem e remete ao ambiente que fascina grafiteiros.
Com entrada gratuita, a ideia do projeto é proporcionar o acesso a esta arte para toda a população. A The Haus fica na Nürnbergerstrasse 68 e recebe o público até o dia 31 de maio.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Tesouros da Ilha dos Museus em Berlim
Numa ilha fluvial no centro da capital alemã, encontra-se um Patrimônio da Humanidade: a Ilha dos Museus. Seus cinco prédios abrigam uma das mais importantes coleções de arte do mundo. Conheça algumas peças de destaque.
A Ilha dos Museus no bairro berlinense de Mitte é um dos complexos de museus mais importantes do mundo. Um deles é o Novo Museu (Neues Museum). Ali se encontra uma das peças mais significativas da história mundial da arte: o busto da rainha egípcia Nefertiti. Ele foi confeccionado em pedra calcária e gesso em cerca de 1340 a.C., na chamada Era de Amarna durante o Novo Império, na 18ª Dinastia.
No Novo Museu se encontram hoje as coleções do Museu Egípcio, o qual antes da queda do Muro de Berlim se localizava no bairro de Charlottenburg. Além da Nefertiti, chama atenção esta estátua de culto do faraó Amenemés 3°, executada em granito no Médio Império, durante a 12ª Dinastia, em cerca de 1840-1800 a.C., em Mênfis.
O Altar de Pérgamo é outra grande atração da capital alemã. Construído na Ásia Menor (atual Turquia) no século 2° a.C., ele foi desmontado por arqueólogos alemães e levado para Berlim no final do século 19. O altar faz parte da Coleção de Antiguidades, abrigada no Museu de Pérgamo (Pergamonmuseum) na Ilha dos Museus.
Foto: SMB/DW/C. Albuquerque
Nicho com estalactites
No Museu de Pérgamo também se encontra a coleção do Museu de Arte Islâmica. Uma das peças do acervo é este nicho com estalactites (centro) de uma residência dos samaritanos, executado em Damasco, na Síria, durante o século 15-16. Ele foi feito em mármore, com incrustações coloridas e pintura.
Foto: SMB, Museum für Islamische Kunst; Foto: DW/C. Albuquerque
Estátua do Menino Rezando
Comprada em Paris por Frederico 2° em meados do século 18, esta estátua do "Menino rezando" adornava os jardins do palácio do rei prussiano em Potsdam, até ser levada para a Ilha dos Museus, em 1830. Executada em bronze, a peça foi fundida no fim do século 4° a.C. na ilha de Rodos. Ela também pertence à Coleção de Antiguidades, abrigada no Museu Antigo (Altes Museum).
Foto: SMB/Foto: DW/C. Albuquerque
Prato de Atena
Outro objeto da Coleção de Antiguidades abrigada no Museu Antigo da Ilha dos Museus é o "Prato de Atena do Tesouro de Hildesheim", executado no século 1° a.C. Este tesouro romano de peças de prata foi encontrado durante a preparação de um campo de prática de tiro para a Infantaria alemã, próximo à cidade de Hildesheim, em 1868.
Quem gosta de esculturas não deve deixar de visitar o Museu Bode (Bode-Museum). Ali se pode apreciar, por exemplo, o famoso "Fauno Barberini", executado em Roma por Vincenzo Pacetti, em 1799. Na parede, vê-se o ciclo de afrescos do Palazzo Volpato-Panigai, que Giovanni Domenico Tiepolo realizou em 1754.
Foto: SMB,Gemäldegalerie/Eigentum des KFMV; Foto: DW/C. Albuquerque
A Queda dos Anjos Rebeldes
Outra joia do Museu Bode é esta decoração de altar que se vê aqui em detalhe: "O juízo final" / "A queda dos anjos rebeldes". A peça foi feita em marfim, madeira e folha de cobre dourada, tendo sido executada em Nápoles, na primeira metade do século 18. A obra faz parte da Coleção de Esculturas.
Na Ilha dos Museus, a Antiga Galeria Nacional (Alte Nationalgalerie) abriga esculturas e pinturas do neoclassicismo e do romantismo, períodos que marcaram a imagem da Alemanha no mundo até hoje. Na foto, vê-se o quadro "O porto de Greifswald", pintado a óleo por Caspar David Friedrich, entre 1818-1820.
Foto: Staatliche Museen zu Berlin; Foto: DW/C. Albuquerque
Na Estufa, de Edouard Manet
Na Antiga Galeria Nacional, também estão importantes obras impressionistas, como também do início do modernismo. Uma das mais importantes é a pintura "Na estufa", um óleo sobre tela executado por Edouard Manet, em 1879. Em 1999, a Ilha dos Museus foi elevada a Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, como um conjunto cultural e construtivo único.
Foto: Staatliche Museen zu Berlin; Foto: DW/C. Albuquerque