Apesar de legalizada na Alemanha, a prostituição às vezes requer limites. Após pátio ser transformado em motel a céu aberto, escola em Berlim resolve erguer cerca para evitar visitas noturnas indesejadas.
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Em geral, os alemães são bastante liberais em relação à prostituição, que é legalizada no país. Mas a aceitação tem limites. Após um deles ser ultrapassado numa escola em Berlim, a instituição resolveu construir uma cerca para restabelecer a fronteira ignorada.
Há tempos, pais, alunos e professores da escola Französische Gymnasium reclamam da invasão noturna do pátio do colégio por prostitutas que fazem ponto na Kurfürstenstraße – rua perpendicular à da instituição –, e seus clientes. No cair da noite, o espaço se transforma numa espécie de motel a céu aberto.
O anúncio da construção da cerca de 1,8 metro de altura e 125 metros de extensão soou como um alívio para pais e alunos. Afinal, as visitas noturnas costumam deixar rastros: camisinhas e seringas usadas são frequentemente encontradas no dia seguinte por alunos e funcionários. Além disso, há relatos sobre prostitutas que caminham no terreno da escola durante o dia.
De acordo com a imprensa local, a cerca pode custar até 57 mil euros à prefeitura. E os pais terão que esperar mais alguns meses pela proteção: a barreira em torno da escola Französische Gymnasium deve ficar pronta somente no fim do ano.
Essa não é a primeira vez que uma cerca antiprostituição é construída na região da Kurfürstenstraße. Pelo mesmo motivo, uma praça com um parquinho infantil, localizada a duas quadras da rua, foi cercada no ano passado. Agora, o local é fechado durante a noite.
A Kurfürstenstraße é um dos pontos de prostituição mais conhecidos de Berlim. Estima-se que entre 200 e 400 mulheres – dependendo da época do ano, dia e noite – esperem pacientemente por clientes ao longo do 1,6 quilômetro da via que liga a movimentada Potsdamer Straße à estação de trem Zoologischer Garten.
A rua ficou conhecida mundialmente após a revelação da história de Christiane F., em 1978, no livro Christiane F. - Wir Kinder vom Bahnhof Zoo, título traduzido no Brasil como Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída. Na década de 1970, a adolescente se prostituía na Kurfürstenstraße para alimentar seu vício em heroína.
Clarissa Neheré jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Dez músicas dedicadas a Berlim
De David Bowie a Bloc Party, passando por Ramones e Rufus Wainwright: todos eles se encataram pela capital alemã. E todos declararam seu amor pela cidade fazendo o que sabem fazer melhor.
Foto: picture-alliance/dpa
Marlene Dietrich: "Ich hab noch einen Koffer in Berlin"
A relação entre Marlene Dietrich e sua cidade natal era conturbada. A ascensão do nazismo levou a estrela a um exílio eterno – mas seu anseio conflituoso por Berlim nunca cessou. E acabou capturado, de forma comovente, em "Ich hab noch einen Koffer in Berlin" (Eu ainda tenho uma mala em Berlim). Ela só voltou à terra natal em 1992, para ser enterrada ao lado da mãe.
Foto: picture-alliance/dpa
Iggy Pop: "The Passenger"
"The Passenger" fala sobre como é ver o mundo passando da janela de um metrô de Berlim e se tornou um hino da contracultura. Gravado no legendário Hansa Studios, próximo ao Muro, enquanto Iggy Pop estava no exílio autoimposto na cidade dividida, a música do álbum "Lust for Life" (1977) impulsionou o ex-vocalista dos Stooges ao sucesso comercial.
Foto: picture-alliance/dpa
David Bowie: "Where are we now"
Na sequência de especulações sobre sua saúde, Bowie levou frenezi ao mundo da música com o single "Where are we now?" Ele gravou a maior parte da "Berlin Trilogy" na cidade, nos anos 1970 – incluindo a obra-prima "Heroes". Mas "Where are we now?" revisita a cidade como um senhor idoso. Um passeio nostálgico pela Berlin que ele chamou de casa: "A man lost in time near KaDeWe".
Foto: imago/LFI
Lou Reed: "Berlin"
Diferentemente de Bowie e Iggy Pop, Lou Reed nunca morou em Berlim. Mas isso não o impediu de inspirar-se na cidade para seu álbum no estilo Kurt Weill chamado "Berlin", de 1973. A letra da faixaque leva o mesmo nome do disco evocou perfeitamente o espírito da época de uma geração: "In Berlin, by the Wall / You were five feet, ten inches tall / It was very nice / candlelight and Dubonnet on ice".
Foto: Getty Images/Afp/Stringer
Leonard Cohen: "First we take Manhattan"
Como judeu, Cohen sempre teve problemas com Berlim. Mas, como compositor, ele se sentiu atraído pela história explosiva da cidade no século 20. Em seu clássico cult "First we take Manhattan", de 1987, o canadense faz referências diretas à cidade e canta: "First we take Manhattan…then we take Berlin". A poderosa crítica à hegemonia global estimulou inúmeras versões cover.
Foto: F. Coffrini/AFP/Getty Images
U2: "Zoo station"
Em 1991, o U2 procurava um recomeço após "Rattle and Hum", que dividiu a crítica. E Bono procurou uma nova inspiração em Berlim. Ao fugir para o Hansa Studios, compôs uma música que definiria uma nova e ousada época: "Zoo station". Batizada em homenagem à estação de trem, a banda usou a metáfora para uma Berlim reunida e a nova ordem mundial, intitulando o álbum de "Zooropa".
Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Hayward/The Canadian Press
Bloc Party: "Kreuzberg"
No início deste século, Berlim tornou-se santuário para os que buscavam se achar, atraídos por este lugar entre o velho e o novo século. Os integrantes da banda britânica de rock alternativo Bloc Party estava entre eles e tentavam dar um novo sentido às suas vidas. O single "Kreuzberg", de 2007, alfinetou: "There is a wall that runs right through me / Just like this city, I will never be joined".
Foto: picture-alliance/Jazzarchiv
Rufus Wainwright: "Tiergarten"
Enquanto a maioria é atraída a Berlim por causa da história mais recente da cidade, Rufus Wainwright foi buscar inspiração no cabaré e na decadência dos anos 1920, na República de Weimar. "Tiergarten" provou ser uma de suas baladas mais duradoras. Muitos perderam o fôlego com o refrão: "Won't you walk me through the Tiergarten / Doesn't matter if it's raining / Won't you walk me through it all".
Foto: picture-alliance/AP Photo
Black Rebel Motorcycle Club: "Berlin"
O que você faz quando está em uma das bandas mais descoladas do mundo? Você escreve, claro, uma música para uma das cidades mais descoladas do planeta. Segunda faixa do álbum "Baby 81", de 2007, "Berlin" não faz nenhuma referência particular à capital alemã, ainda que o som da progressão de acordes da guitarra seja inconfundível como Berlim: petulante, provocativa e sexy.
Foto: picture-alliance/Geisler-Fotopress
The Ramones: "Born to die in Berlin"
Desde o primeiro "hey ho, let's go", a banda Ramones não escondeu sua fascinação por todas as coisas teutônicas – e, de forma provocativa, deu o nome "Blitzkrieg Bop" ao seu single de estreia, de 1976. Dee Dee Ramone, principal compositor da banda, é filho de uma alemã e cresceu em Berlim. E seu amor pela capital (e as drogas) ficariam para sempre na história com "Born to die in Berlin", de 1995.