Na capital alemã, existe quase um rato por habitante. Para tentar libertar a cidade da invasão roedora, a prefeitura se transforma no "Flautista de Hamelin".
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Berlim não é apenas adorada por humanos, os ratos também se sentem confortáveis por aqui. De tão bem instalados, sua "população" chegou a 2,2 milhões, segundo um estudo da empresa de saneamento da capital alemã, Berliner Wasserbetriebe. Ao considerar que na capital vivem 3,5 milhões de pessoas, a proporção de roedores é de 0,6 por habitante. É como se quase cada morador possuísse um ratinho de estimação.
Os ratos, que não são bobos, preferem morar em bairros centrais, onde a vida é bem mais fácil, e a comida, abundante. Diferente da periferia, que não tem tantas lanchonetes e onde a concentração de pessoas, que produzem lixo, é menor. Os distritos preferidos dos roedores são Friedrichshain-Kreuzberg, Mitte e Marzahn-Hellersdorf.
Mas, diferente dos cachorros ou animais selvagens que habitam a capital alemã, os roedores não contam com a simpatia humana. Enquanto coelhos, raposas e guaxinins podem levar uma vida tranquila em Berlim, os ratos são duramente perseguidos. Assim, a prefeitura assume o papel do Flautista de Hamelin, o exterminador de ratos do conto dos Irmãos Grimm. Nessa missão, interdita praças e parquinhos para crianças, para que especialistas combatam a invasão.
A duração dessa operação de extermínio varia de local para local. Uma praça em Prenzlauer Berg, que foi alvo de uma destas missões no início desta semana, deverá ficar interditada por um mês. O ataque a moradores indesejáveis cresceu nos últimos anos. Em 2015 foram conduzidas 8.654 operações deste tipo na cidade – cerca de 1,2 mil casos a mais do que no ano anterior.
Apesar do combate, o estudo da empresa de saneamento revelou que a quantidade de ratos permanece estável, após oscilações sazonais. A prefeitura pede ajuda aos humanos para acabar com os ratos, dificultando seu acesso à comida, e recomenda que a população evite jogar restos de alimentos em lixeiras abertas ou deixar sacos de lixo a céu aberto.
Além disso, pede a delação. Segundo o Departamento Estadual de Saúde e Assuntos Sociais, é obrigação de cada cidadão que avistar um rato comunicar essa presença às autoridades. Não faço ideia de como funciona esse sistema de denúncia, mas acho que, se os habitantes de Berlim levassem realmente a sério essa obrigação, a prefeitura teria que criar um call center para registrar todas as aparições. Encontrar ratos perambulando pela cidade é algo bem comum.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Dez animais selvagens que acharam em Berlim seu habitat
Capital alemã pode parecer só concreto, mas a vida selvagem é mais diversificada do que parece. Não só raposas, javalis e coelhos circulam pelas pelas ruas, como também é a cidade da Alemanha com o maior número de aves.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Carstensen
Raposas
Se de repente você der de cara com uma raposa depois de uma noitada em Berlim, não se preocupe – você não está tendo alucinações. A capital alemã virou habitat para as raposas, diz a especialista em animais selvagens Katrin Koch.
Foto: Reuters/F. Bensch
Guaxinins
Não só raposas podem cruzar seu caminho em Berlim. Guaxinins estão por toda parte. Eles gostam de subir nas casas e brincar em jardins e parques, e podem até ser encontrados em ruas movimentadas. Guaxinins vivem em cavernas. E mesmo numa cidade como Berlim eles encontram mais alternativas a cavernas na cidade do que no campo, seja em telhados, chaminés ou árvores ocas.
Foto: NABU Berlin
Javali
Como se raposas selvagens e guaxinins no meio de Berlim já não fossem assustadores, você ainda tem que cuidar dos porcos selvagens. Em geral, eles vivem na periferia da cidade, mas ultimamente estão vindo com mais frequência em direção ao centro, afirma Katrin Koch. A boa notícia é que eles nunca atacaram ninguém, e realmente não representam uma ameaça.
Foto: picture-alliance/dpa
Castores
Embora castores não sejam nativos de Berlim, nos últimos dez anos eles foram se instalando pouco a pouco na cidade. A espécie é protegida, e eles não podem ser caçados. Agora, os rios Havel e Spree estão praticamente tomados por castores. Por isso, todo cuidado é pouco durante mergulhos nas águas da capital alemã.
Foto: picture alliance/Arco Images GmbH
Morcegos
Gotham City pode ser a cidade do Batman, mas, no mundo real, Berlim é a cidade dos morcegos. Um de seus locais favoritos é a fortaleza renascentista no bairro Spandau, onde vivem aos milhares. Mas eles também podem ser vistos voando pelo centro da cidade, e usando os prédios como se fossem falésias.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thomas
Coelhos
Como em outras grandes cidades alemãs, os coelhos adoram os parques verdes de Berlim. Na capital, eles frequentam muito o parque Kleistpark. Certa vez encontrei uma raposa cercada por uma família de coelhos no meio de Berlim. Cheguei a pensar que estava numa cena de "Alice no país das maravilhas".
Foto: NABU/Jens Scharon
Águias
A maior sensação entre os animais selvagens em Berlim é a águia-rabalva, que tem uma cauda branca. Segundo Katrin Koch, depois de quase cem anos, o primeiro exemplar foi visto em Berlim em 2002. É a maior ave de rapina da cidade. Então, da próxima vez que você observar um grande pássaro marrom com uma grande envergadura e um bico amarelo afiado fazendo rondas sobre Berlim, tire uma foto...
Foto: picture-alliance/dpa
Falcões
O falcão mais famoso em Berlim é o francelho. Eles adoram voar sobre nossas cabeças e pousar em buracos nas paredes e janelas. Os falcões são animais protegidos pela ONG Nabu, que instalou caixas para ninhos em escolas, igrejas e prédios industriais.
Foto: Imago/McPhoto/blickwinkel
Pardais
Berlim é a cidade alemã com o maior número de aves, sejam pássaros, aves de rapina ou grandes gaivotas. Um dos mais graciosos é o pardal, que come de sua mão. Enquanto a população de pardais em outras cidades alemãs, como Hamburgo, está diminuindo, na capital alemã ela cresce. Cuidado para não mergulharem com o bico em sua comida quando você não estiver prestando atenção!
Foto: NABU/Nikolai Kraneis
Corujas da noite
Um "animal selvagem" berlinense bem original é a coruja da noite ou animal de festas. Seu habitat são os bairros Neukölln, Friedrichshain e Kreuzberg. Eles podem ser identificados por seus corpos cobertos de brilho, por beberem Club-Mate, uma bebida de mate com cafeína, e a atração por música eletrônica. Nas primeiras horas da manhã, eles podem ser encontrados dormindo em trens pela cidade.