Estima-se que 3 mil bombas da Segunda Guerra continuem enterradas no solo de Berlim. Elas ainda oferecem riscos e costumam ser descobertas por acaso, relata Clarissa Neher.
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Nos primeiros anos na Alemanha, eu sempre me surpreendia com a notícia da descoberta de bombas da Segunda Guerra Mundial em cidades alemãs. Com o passar do tempo, fui percebendo que essas descobertas eram muito mais frequentes do que eu imaginava. Ao pesquisar sobre o tema, tive uma surpresa ainda maior: estima-se que restem 3 mil bombas desse período enterradas – somente em Berlim!
Já em Brandemburgo, estado vizinho da capital e com a maior concentração de artefatos militares enterrados em solo alemão, estima-se que 392 mil hectares de território estejam "contaminados" com bombas, granadas, munições, minas e mísseis remanescentes da Segunda Guerra Mundial e de treinamentos militares soviéticos no período da Guerra Fria.
A pequena Oranienburg, conhecida por seu castelo e, principalmente, pelo campo de concentração de Sachsenhausen, é a cidade desse estado mais atingida por bombardeios e onde acontecem a maioria das descobertas. Em meados de dezembro, especialistas desativaram a bomba de número 200 desde o início da contagem, em 1991.
Essa "herança" se deve ao papel desempenhado pela pequena cidade durante a Segunda Guerra. Localizada ao norte de Berlim, ela foi um centro da indústria militar e, por isso, um alvo potencial de ataques aéreos. Em apenas um dia de março de 1945, Oranienburg foi atacada por mais de 600 aviões, que carregavam 700 bombas incendiárias e outras 5 mil bombas.
Falhas no mecanismo de detonação evitaram a explosão de muitas das bombas, lançadas em ataques aéreos durante a Segunda Guerra. Segundo especialistas, apesar de já estarem há mais 70 anos embaixo da terra, alguns desses artefatos, principalmente os que têm detonadores químicos, ainda correm o risco de explodir e sem precisar da interferência de fatores externos.
O risco é pequeno. Eu mesma nunca soube de algum caso de bomba da Segunda Guerra que ninguém sabia onde estava explodir e que explodiu do nada. Há casos de detonação acidental, com mortos e feridos, no meio do processo de remoção, organizado por equipes especializadas para esse tipo de serviço. Mas esses acidentes são raros. Bem mais comuns são as janelas quebradas e os estragos em imóveis após a detonação assistida de bombas que não podiam ser removidas sem riscos.
Enterradas e esquecidas ao longo das décadas, a descoberta da grande maioria dessas bombas acontece por acaso, geralmente em canteiros de obras. Em Berlim, a prefeitura disponibiliza um serviço de informações para quem deseja construir na cidade. Com base em documentos de arquivos dos Aliados, como mapas de bombardeios e fotografias, é possível ter uma noção de onde podem estar enterrados esses artefatos. Se há suspeita, é feita inicialmente uma análise detalhada, com uso de sondas especiais.
Caso a suspeita seja confirmada, especialistas planejam a melhor maneira para desativar o artefato. E, na data marcada para o evento, geralmente, regiões inteiras são evacuadas por algumas horas para que essa herança explosiva seja removida com segurança.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
A Rota do Muro de Berlim
A derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial resultou na divisão do país, ratificada com o Muro de Berlim. Veja algumas estações do símbolo da divisão.
Foto: DW/M. Fürstenau
160 km de história
Durante 28 anos, até 1989, o Muro dividiu Berlim em Ocidental e Oriental. Hoje, há cada vez menos resquícios da divisão. A Rota do Muro de Berlim tem 160 quilômetros, que podem ser seguidos a pé ou de bicicleta.Testemunhos daquele tempo e muita informação contam a história do Muro.
Memorial do Muro
O passeio pode ser iniciado em qualquer ponto da rota. Uma sugestão é começar no Memorial do Muro de Berlim, seguindo por 1,4 km a rua Bernauer Strasse, ao longo da qual ficava o Muro. Ela mostra a arquitetura assassina da antiga fronteira e lembra as pessoas que perderam a vida tentando fugir de Berlim Oriental.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Pedras redesenham percurso do Muro
Uma fileira dupla de quase seis quilômetros de paralelepípedos ajuda a imaginar onde passava o Muro. Mas qual era o lado ocidental? De trecho em trecho, há uma placa em bronze com a informação: "Muro de Berlim 1961-1989". Isso só pode ser lido por quem está no antigo lado ocidental.
Foto: DW/E. Grenier
De símbolo da divisão a marco da unidade
Seguindo em direção ao centro, chega-se aos prédios do governo federal, ao longo do rio Spree, e à praça Pariser Platz, onde fica o Portão de Brandemburgo, que havia sido isolado pelo Muro. Ele não podia ser acessado nem por Berlim Ocidental, nem pela Oriental. De símbolo da divisão, ele virou símbolo da unidade, após a queda do Muro.
Foto: picture-alliance/dpa
Checkpoint Charlie
A mais famosa das antigas passagens entre os dois lados da Berlim dividida é Checkpoint Charlie. No local, não há mais nada de original, até o ponto de controle é uma réplica do ano 2000, cercada por lojas de souvenirs baratos. Mesmo assim, o local está sempre cheio de turistas. O auge da comercialização da História são homens vestidos de soldados alemães-orientais que cobram para posar em fotos.
Foto: picture-alliance/dpa/Maurizio Gambarini
As torres de vigilância
Do lado alemão-oriental, havia mais de 300 torres de vigilância. Ali, com as mãos no gatilho, os soldados da então Alemanha Oriental vigiavam a faixa de fronteira 24 horas por dia. Apenas três dessas torres ainda existem e todas estão protegidas como patrimônio histórico. Esta da foto fica quase escondida numa rua lateral à praça Potsdamer Platz.
Foto: picture alliance/dpa/W. Steinberg
East Side Gallery, arte ao ar livre
A rota também passa pelo trecho mais longo do Muro ainda de pé. O lado ocidental do símbolo da divisão alemã sempre foi conhecido pelos seus grafites coloridos. Já o lado oriental era cinza. Artistas internacionais mudaram isso em 1990. Eles pintaram um trecho dele de 1,3 km no bairro Berlin-Friedrichshain, criando assim a mais longa galeria de arte ao ar livre.
Foto: Reuters/F. Bensch
Trocas de espiões na ponte de Glienicke
A maior parte da rota do Muro se estende por 110 km ao longo da fronteira do perímetro urbano de Berlim. Um ponto de destaque neste trajeto é a ponte de Glienicke, palco de espetaculares trocas de espiões durante a Guerra Fria e cenário de filmes como "Ponte dos Espiões", de Steven Spielberg, com Tom Hanks.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Hirschberger
Museu na torre de fronteira
Trechos da rota margeiam rios, atravessam bosques e campos. O meio ambiente em volta de Berlim testemunhou muitas tentativas arriscadas de fuga. O Muro dividiu famílias e vilarejos, como Hennigsdorf, a 20 km de Berlim. Um museu na torre de fronteira conta como era a vida com o Muro.
Foto: DW/M. Fürstenau
Cerejeiras, presente japonês
Milhares de cerejeiras colorem trajetos da Rota do Muro. Elas foram doadas por japoneses, para representar a alegria pela Reunificação. A cada primavera, elas transformam estas áreas em um mar cor-de-rosa. Como embaixo da ponte Bösebrücke, no bairro Pankow. Ela foi o primeiro posto de fronteira a abrir na noite da queda do Muro, em 9 de novembro de 1989.