Berlim resolveu homenagear David Bowie com placa de porcelana, mas, um mês após sua instalação, objeto foi misteriosamente roubado à luz do dia – e ninguém viu. Este não é o único enigma que intriga a polícia na cidade.
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Nem um mês durou a placa em homenagem ao cantor David Bowie em Berlim. Inaugurada no fim de agosto pelo prefeito Michael Müller, numa cerimônia que lembrou importância da cidade na obra do músico, a placa de porcelana, produzida por uma fábrica de renome, foi misteriosamente roubada no fim de semana passado.
A placa colocada em frente ao prédio onde o cantor morou no fim da década de 1970 –Hauptstrasse 155, no bairro Schöneberg – teria sido levada em plena tarde de sábado. O intrigante é que, numa rua extremamente movimentada e cercada de lojas e restaurantes, ninguém parece ter percebido a ação ou o barulho provavelmente causado para arrancar o objeto da parede. Alemães não costumam se importar com a vida dos outros, mas será que nenhum curioso deu uma olhadinha pela janela ao escutar algo fora do comum? Nenhum passante não achou esquisito a remoção do objeto?
O roubo intriga a polícia, que busca testemunhas. A única pista divulgada pelas autoridades é a suspeita de que a placa tenha sido removida com violência, já que cacos foram deixados no chão pelos ladrões. Cá entre nós: é meio óbvio que arrancar um objeto cimentado na parede exige força.
A dimensão do dano causado na placa e o motivo do roubo são desconhecidos. Quem quiser pode especular à vontade sobre hipóteses: fã ciumento que queria homenagear músico em sua própria casa; alguém que detesta o estilo musical de Bowie e estaria revoltado com a homenagem; puro vandalismo; ou ainda brincadeira de adolescente. Na época da minha adolescência em Curitiba, era moda roubar cones de trânsito, nunca entendi a graça nisso, mas, enfim, tinha gente que achava um máximo.
O roubo da placa de porcelana não é único delito bizarro que intrigou a polícia recentemente na capital alemã. Em agosto, na mesma semana da inauguração da homenagem a Bowie, uma aparição causou alvoroço nas redes sociais: uma bicicleta surgiu pendurada na escultura de 30 metros de altura Molecule Man, localizada no meio do rio Spree. O objeto foi removido por escaladores profissionais, mas o mistério de como ele foi parar lá e o autor da proeza jamais foram descobertos.
Há pouco mais de um ano, desconhecidos roubaram o crânio do cineasta alemão Friedrich Wilhelm Murnau, do túmulo da família no cemitério de Stahnsdorf, próximo de Berlim. Nesse caso, a realidade imitou a arte. O crime sinistro poderia muito bem fazer parte de algum dos filmes do diretor de Nosferatu (1922). Havia suspeitas de que o delito fazia parte de algum ritual macabro. As investigações acabaram, até hoje, não revelando muita coisa. E, pelo andar da carruagem, tudo indica que o mistério da placa de Bowie será mais um desses enigmas esquisitos sem solução.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Berlim e seus locais (mal) assombrados
Com o fim da Alemanha Oriental e da Guerra Fria, muitos prédios históricos ficaram abandonados em Berlim, e uma aura de mistério paira sobre sanatórios fechados e áreas militares evacuadas após a retirada dos soviéticos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. D. Gabbert
Era uma vez um parque temático
O blogueiro Ciaran Fahey listou, em seu livro "Abandoned Berlin", locais da capital alemã que perderam seu sentido original, ficando quase esquecidos. É o caso do parque temático conhecido como Plänterwald antes da queda do Muro. Após 1989, ele foi reformado e virou o Spreepark, atraindo até 1,5 milhão de visitantes por ano. Hoje está inteiramente abandonado.
Foto: picture-alliance/dpa/K. D. Gabbert
De centro de escuta a street art
O Teufelsberg ("Montanha do Diabo", em tradução literal) é um monte de entulhos de 120 metros de altura. Sobre os escombros de uma faculdade nazista explodida, os Aliados ergueram uma estação de escuta durante a Guerra Fria, para espionar a então Alemanha Oriental, subordinada à União Soviética. Hoje é um ponto de street art, com trabalhos de artistas mundialmente famosos.
Escondida nas profundezas de uma floresta em Brandemburgo fica uma cidade perdida construída pelos soviéticos como base militar após a Segunda Guerra. "Vogelsang já teve 18 mil moradores, entre militares e suas famílias, inclusive com escolas e lojas", conta Fahey. Agora, o local está sendo reflorestado.
Foto: Imago/C. Ditsch
Sanatório de Beelitz
Um silêncio mortal reina nos quartos em ruínas deste antigo hospital militar usado nas duas guerras mundiais, e pelos russos na Guerra Fria. Hitler foi tratado aqui na 1ª Guerra; assim como o líder alemão-oriental Erich Honecker em 1990, após sua saída do Partido Socialista Unitário (SED). Partes dos filmes "O pianista" e "Operação Valquíria" foram rodadas neste sanatório abandonado.
Foto: Imago/CHROMORANGE
Colossal complexo químico
A fábrica de produtos químicos e cimento Rüdersdorf está desativada desde 1999. No início do século 20, eram produzidos aqui ácido sulfúrico e cimento. O antigo complexo industrial também continha prédios de escritórios. Suas paredes fazem hoje a alegia dos grafiteiros.
Foto: Imago
Sede do serviço secreto comunista
Informações detalhadas sobre os moradores da então Alemanha Oriental eram meticulosamente reunidas e armazenadas na sede da Stasi, a polícia secreta da antiga República Democrática Alemã (RDA). Após a queda do Muro, em 1989, o prédio virou a sede do Escritório Federal de Estatísticas e dos arquivos da Stasi. Desde que as duas instituições se mudaram, em 2008, o prédio está abandonado.
Foto: picture-alliance/dpa/K. D. Gabbert
Sanatório Hohenlychen
A antiga clínica para tuberculosos virou centro de "medicina desportiva" durante a Segunda Guerra Mundial. Não só figurões do nazismo se trataram aqui, mas também pacientes vindos de várias partes do mundo. Apesar da beleza do prédio, o sanatório Hohenlychen tem uma história macabra: "O médico-chefe fazia experiências com internas do campo de concentração de Ravensbrück, aqui perto", conta Fahey.
Foto: picture-alliance/dpa/K. D. Gabbert
Aeroporto Tempelhof
Construído em 1920, o Aeroporto Tempelhof foi centro de produção de armamentos na 2ª Guerra, virando depois local de pouso para o transporte aéreo a Berlim Ocidental. Aventureiros que visitam esta vasta área podem ver antigos abrigos antiaéreos e bunkers. O maior espaço aberto em Berlim também é usado para eventos como festivais de música e concertos.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Steinberg
Cidade fantasma de Wünsdorf
Esta cidade fantasma é rica em história militar. Depois de ser usada pelo Exército alemão na 2ª Guerra, foi quartel-general das forças militares soviéticas durante a Guerra Fria. Os berlinenses a chamam de "cidade proibida", porque é expressamente proibido entrar em Wünsdorf. Tratava-se de uma cidade completa, com 600 hectares para casas, escolas, creches, lojas, uma enorme piscina e um teatro.
Foto: picture-alliance/ZB/R. Hirschberger
Casernas de Krampnitz
Hoje caindo aos pedaços, estes quartéis construídos em 1937 foram usados pelos nazistas na Segunda Guerra. Durante a Guerra Fria, as casernas de Krampnitz foram ocupadas pelos soviéticos, que as deixaram em 1992.