Confusão e violência se tornaram tradição no Dia do Trabalho em Berlim. Primeiro de Maio é o feriado mais emblemático da capital alemã e há 30 anos costuma ser marcado por carros e lixeiras em chamas.
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De todos os feriados e eventos que ocorrem em Berlim, o Primeiro de Maio é o mais emblemático. Enquanto outras regiões da Alemanha comemoram o Dia do Trabalho com festas que convidam o público a entrar dançando no mês, a capital dedica o dia ao protesto e costuma amanhecer em chamas, com carros e lixeiras sendo incendiados em diversos bairros.
As manifestações começam muitas vezes com marchas de neonazistas, que costumam encontrar resistências de manifestantes, geralmente em número bem maior, contrários ao ódio propagado pelo grupo. Trabalhadores também saem às ruas em eventos organizados por sindicatos.
O ponto alto, no entanto, é a marcha convocada pela esquerda autônoma, que ocorre há quase 30 anos em Kreuzberg, com ou sem autorização da polícia – na Alemanha todo protesto precisa ser previamente registrado e autorizado.
No fim da tarde, milhares de manifestantes, vestindo preto, se deslocam pelo bairro. Nem sempre o percurso é completado pacificamente. Do nada, garrafas costumam voar de um lado para o outro. Ao primeiro sinal deste voo, a polícia parte para cima do grupo, tentando dispersar os manifestantes. A ação acaba muitas vezes em enfrentamentos noite adentro.
Assim como os protestos, esse confronto também virou uma tradição do Primeiro de Maio em Berlim e teve início em 1987, quando Kreuzberg tornou-se um campo de batalha entre polícia e manifestantes. A "guerra", que durou mais de 12 horas, deixou mais de 240 policiais feridos e 50 manifestantes detidos.
No ano seguinte, a esquerda autônoma começou a organizar a marcha, chamada de Protesto Revolucionário de Primeiro de Maio, que reuniu não somente militantes da esquerda, mas também grupos com vontade de arrumar confusão. Com essa mistura explosiva, a violência foi ainda maior do que em 1987.
A receita foi seguida nos anos seguintes. Apesar de ser uma situação já esperada, os confrontos anuais incomodavam moradores do bairro e autoridades. Por isso, numa tentativa de diminuir o potencial de violência dos manifestantes, há 15 anos foi criada uma festa com diversos palcos espalhados em Kreuzberg para apresentações artísticas, em paralelo a uma feira culinária.
A Myfest parece ter alcançado seu objetivo nos últimos anos e ganhou espaço na data destinada ao confronto anual. Desde 2009, a violência causada pelo embate entre participantes do Protesto Revolucionário de Primeiro de Maio e policiais diminuiu significativamente.
Neste ano, porém, a expectativa é de um aumento no potencial de violência. A polícia proibiu o Protesto Revolucionário, mas os organizadores já confirmam que a marcha vai ocorrer mesmo assim e afirmaram que ela será um teste para mobilização programada contra a reunião da cúpula do G20, que acontecerá no início de julho em Hamburgo.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Dez filmes que se passam na Alemanha
Cidades do país foram cenário de várias produções internacionais ao longo dos anos, especialmente Berlim.
Foto: Koch Media
Alemanha ano zero
Uma das principais obras do neorealismo italiano, o filme de 1948, dirigido por Roberto Rossellini, faz parte da trilogia do diretor composta também por "Roma, cidade aberta" (1945) e Paisà-Libertação (1946) – todos três situados na Itália e na Alemanha do pós-guerra sob as heranças do fascismo e do nazismo. O filme é uma crítica aguda às relações sociais e de poder na Alemanha da época.
Foto: Koch Media
Cortina rasgada
Longa-metragem americano de 1966, dirigido por Alfred Hitchcock, foi mal recebido pela crítica. Sem a elaboração narrativa de seus trabalhos anteriores, o filme narra a história de um físico americano que, durante uma passagem por Copenhague, resolve seguir secretamente para Berlim Oriental, ou seja, para além da Cortina de Ferro, em companhia da namorada.
Foto: picture-alliance/dpa/United Archives/IFTN
Helsinki Nápoles: toda a noite
O cineasta finlandês Mika Kaurismäki escolheu para sua comédia policial, lançada em 1987, Berlim como cenário – cidade situada entre Hensinki e Nápoles, origem dos pais do protagonista do filme. "Road movie" que se passa durante apenas uma noite na capital alemã, o filme tem participações especiais dos diretores Wim Wenders, Jim Jarmusch e Samuel Fuller.
Foto: picture alliance/United Archives/IFTN
Alemanha Ano 90 Novo Zero
O título original deste filme de Jean-Luc Godard, de 1991, "Allemagne 90 neuf zéro", traz a ambiguidade entre o "nove zero" dos anos 1990 e o "novo zero", ou seja, a ideia de uma Alemanha "zerada" após a queda do Muro de Berlim e a reunificação do país. Um filme-ensaio cheio de citações e associações, no qual o espião Lemmy Caution perambula pela capital alemã.
Europa
O dinamarquês Lars von Trier recebeu por essa coprodução internacional de 1991 o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes. Parte da "Trilogia Europa", o filme narra os confrontos de um protagonista cheio de ideais em meio à decadência europeia no ano de 1945. Com sua estética noir, voz off e sobreposição de imagens, o longa tem roteiro inspirado em "América", livro de Franz Kafka de 1927.
Foto: picture alliance / United Archives
Dr. M
Coprodução internacional, "Dr. M" é o remake, dirigido pelo francês Claude Chabrol em 1990, de "Dr. Mabuse, o jogador", filme de Fritz Lang de 1922. Da mesma forma que no clássico de Lang, no filme de Chabrol a cidade de Berlim, cenário da narrativa, é abalada por uma série de supostos suicídios inexplicáveis. Na versão do diretor francês, o vilão é substituído pelo magnata da mídia Dr. Marsfeldt.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Galuschka
O escritor fantasma
Filme de suspense de Roman Polanski, lançado em 2009, tem praticamente todas as suas locações na Alemanha – tanto nos estúdios Babelsberg, de Potsdam, quando em Berlim e na costa alemã dos Mares do Norte e Báltico (mais precisamente nas ilhas de Usedom, Romo e Sylt). Polanski foi premiado com o Urso de Prata de melhor direção pelo filme no Festival de Cinema de Berlim.
Foto: Kinowelt
Praia do Futuro
Dirigido pelo brasileiro Karim Aïnouz, o filme foi rodado em Berlim, Fortaleza e na costa alemã do Mar do Norte. Lançado em 2014, o longa-metragem conta a história de amor entre o salva-vidas Donato (Wagner Moura) e Konrad (Clemens Schick). O filme tem na trilha sonora, entre outros, "Heroes", de David Bowie.
Foto: Alexandre Ermel
Grande Hotel Budapeste
Coprodução internacional dirigida pelo americano Wes Anderson, essa tragicomédia de 2014, exibida no Festival de Berlim, foi rodada sobretudo na cidade de Görlitz, localizada na fronteira entre Alemanha e Polônia e chamada de "Görliwood" por atrair a atenção de diversos diretores de cinema como cenário de filmes. Anderson e equipe passaram mais de 50 dias gravando na cidade.
Foto: Twentieth Century Fox
Ponte dos espiões
Longa-metragem de 2015 dirigido por Steven Spielberg, o filme tem diversas locações em Berlim e arredores, entre eles a Glienicker Brücke – ponte a que se refere o título do filme. O protagonista da história é um advogado (Tom Hanks) que, durante a Guerra Fria, defende um espião soviético detido pelos EUA, sendo enviado a Berlim para negociar sua troca por um norte-americano preso pelos russos.