Brasileira radicada em Berlim, a jornalista Clarissa Neher conta como faz para saber se está no lado ocidental ou oriental da cidade. Mais de 25 anos após a reunificação, a capital alemã continua marcada pela divisão.
Anúncio
Nos 28 anos em que dividiu Berlim, o Muro não só separou distintos sistemas econômicos como criou duas cidades paralelas. Logo que cheguei, sempre procurava saber em que lado do Muro estava.
Até que recebi uma dica valiosa: é possível se localizar pelo bonde. Somente o lado oriental preservou suas linhas. Na Berlim Ocidental esse sistema de transporte foi desativado no fim da década de 1960. Então, as áreas onde ainda havia linhas do chamado tram pertenciam à Alemanha Oriental. A dica deixou de ser tão quente de uns anos para cá, pois algumas linhas foram ampliadas pela parte oeste da cidade a dentro, por motivos práticos.
Apesar dos mais de 25 anos de reunificação, percebi que a divisão – que teve origem no loteamento da cidade em setores soviético, britânico, americano e francês, após a Segunda Guerra Mundial – ainda está presente em diversos elementos da capital alemã.
Berlim tem, por exemplo, dois zoológicos bem distintos: um de 1844 e outro construído no lado oriental, em 1955; duas universidades de renome: a tradicional Humboldt, de 1809, e a Universidade Livre, fundada em 1948, no lado ocidental; e duas grandes bibliotecas públicas: a do leste e a do oeste, inaugurada em 1978 e imortalizada no clássico de Wim Wenders Asas do Desejo (1987).
Em determinados bairros, é possível perceber ainda os caminhos opostos que o desenvolvimento tomou nas "Berlins". Os traços do capitalismo são marcantes em regiões nobres como Charlottenburg ou Steglitz, além da tradicional rua de compras Kurfürstendamm, apelidada de Ku'damm pra facilitar a pronúncia. Já as marcas do socialismo estão presentes na imponente avenida Karl Marx Allee e nas típicas construções habitacionais da União Soviética, conhecidas como Plattenbau, dos bairros Marzahn ou Lichtenberg.
Mas enquanto alguns elementos da divisão sobrevivem ao tempo, outros se desvanecem em ritmo acelerado. Maiores exemplos dessa mudança são a Potsdamer Platz, que deixou de ser um espaço vazio para se transformar em um centro financeiro, e a gentrificação de bairros como Kreuzberg ou Prenzlauer Berg, que se tornam cada vez mais badalados.
Mergulhada em transformação constante, Berlim já é uma cidade diferente daquela que conheci quando cheguei e procurava saber em que lado do Muro estava.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Dez razões para amar Berlim
A capital alemã é muitas coisas: sede do governo, metrópole cultural, centro de vida noturna. Mas, acima de tudo, ela é eletrizante, uma cidade em constante mutação. Talvez, por isso, os turistas gostem tanto dela.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Vista do alto
A torre "Fernsehturm", com seus 368 metros de alturam é a estrutura mais alta da Alemanha. Em um dia claro, a plataforma de observação oferece visibilidade de até 40 quilômetros. Acima da plataforma, fica o restaurante giratório, que realiza uma rotação a cada 30 minutos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Um lugar feliz
Em 1989, quando o Muro de Berlim caiu, artistas de todo o mundo pintaram sobre a barricada de concreto cinza. A East Side Gallery é até hoje a mais longa galeria ao ar livre do mundo. A arte criada espontaneamente ainda reflete a alegria que se espalhou por toda a Berlim com a queda do Muro.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Museus e galerias
Rodeada pelo rio Spree, a Ilha dos Museus foi nomeada Patrimônio Mundial pela Unesco em 1999. Lá, é possível admirar tesouros artístico de todo o mundo, como um busto da rainha egípcia Nefertiti e o Altar de Pérgamo, construído entre 160 e 180 a.C. em homenagem a Zeus, o reio do Olimpo. Berlim tem ainda outros 175 museus e cerca de 300 galerias de arte.
Foto: Fotolia/fhmedien_de
Diversidade cultural
Cosmopolita, ricamente colorida e com um entusiasmo pela vida — assim Berlim apresenta-se durante o festival Carnaval das Culturas. Cerca de 180 nacionalidades chamam a cidade de casa. E todo o mês de maio eles — recém-chegados e berlinenses estabelecidos — celebram o que é, provavelmente, a melhor festa de rua da cidade.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Jensen
Em constante mutação
Desde a Reunificação, em 1990, os guindastes não param: a Potsdamer Platz foi reconstruída, o Reichstag (prédio do Parlamento alemão) ganhou uma cúpula e o quarteirão do governo foi construído. O Palácio de Berlim, que deverá ser concluído em 2019, está lentamente tomando forma. Ninguém sabe ainda, porém, se o novo - e muito atrasado - aeroporto de Schönefeld estará aberto até lá.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Zinken
Tapete vermelho
Em fevereiro, Berlim estende o tapete vermelho para receber estrelas do cinema. Desde 1951, o Festival Internacional de Cinema de Berlim, conhecido como Berlinale, é um dos principais do mundo. Estrelas do cinema amam a cidade, mesmo em outras épocas do ano, como Arnold Schwarzenegger e Emilia Clarke, que estiveram na capital para a estreia do mais recente "Exterminador do Futuro".
Foto: picture-alliance/dpa/C. Carstensen
Memória preservada
O Memorial do Holocausto, composto por 2.711 placas de concreto para lembrar os seis milhões de judeus europeus mortos pela Alemanha nazista, é o memorial mais visitado de Berlim. Outros monumentos incluem os dedicados às Forças Aliadas que libertaram a cidade no final da Segunda Guerra Mundial, aos que morreram tentando escapar pelo muro e aos herois da força aérea de Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Parques e jardins
Há mais de 2.500 parques em Berlim, mas o "New York Times" nomeou, recentemente, o pequeno "Prinzessinnengarten" como um dos mais belos espaços verdes da cidade. Esse antigo terreno baldio no bairro de Kreuzberg foi transformado em um jardim orgânico, em que mais de 500 tipos de vegetais são cultivados por centenas de voluntários locais.
Foto: picture-alliance/dpa
Vida noturna
A vida noturna de Berlim, conhecida como uma das mais excitantes do mundo, oferece diversão para todos os gostos, do indie rock ao hip hop e house. Alguns dos melhores DJs do mundo tocam em clubes como Berghain e Watergate. Muitas pessoas vão a Berlim só para isso — elas chegam à cidade na sexta-feira à noite e passam o fim de semana inteiro na balada antes de voltarem para casa.
Foto: picture-alliance/schroewig
Capital canina
Cerca de 100 mil cães vivem na cidade, fazendo de Berlim a capital canina da Alemanha. Mas quando os berlinenses dizem que "ladram, mas não mordem", eles estão se referindo a eles próprios. Os moradores são conhecidos por não serem muito simpáticos: "Berliner Schnauze", o termo em alemão para focinho, é usado para caracterizar a rispidez no trato considerada típica do berlinense.