Checkpoint Berlim: multa pesada para quem mata aula
2 de outubro de 2017
Faltar aula na capital alemã pode custar caro. Depois de faltar no colégio por 157 dias, aluno berlinense recebe multa de mais de 880 euros. Punição é prevista por lei.
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Quem na adolescência nunca pensou, pelo menos uma vez, em trocar aquela aula chata por uma conversa com amigos ou uma sessão de televisão em casa? Essa sensação atinge não só jovens brasileiros, mas também alemães.
Enquanto para alguns as consequências deste ato podem ser sentidas apenas no boletim escolar ou enfrentadas dentro do próprio lar, em Berlim o gazeador pode acabar recebendo uma punição que pode pesar no bolso.
O que parecia uma diversão para o aluno berlinense que deixou de comparecer a 157 dias de aula do ano letivo 2016/2017 revelou-se um pesadelo. Pelas faltas, o estudante recebeu uma bela multa de 884,50 euros. Essa foi a maior punição financeira aplicada pelas autoridades berlinenses pelo "delito" de gazear aulas. A menor, de 128,50 euros, foi para um aluno que se ausentou do colégio por 16 dias.
A multa para matadores de aula é uma opção prevista por lei na Alemanha, pois a ida à escola é obrigatória no país. A lei escolar berlinense destaca ainda os alunos matriculados em escolas públicas, além de frequentarem as aulas, têm a obrigação de participar ativamente em sala, fazer lição de casa e as provas.
Diante do grande número de alunos que estavam deixando de cumprir essa obrigação, Berlim adotou regras mais rígidas em 2014. Entre as medidas estão avisar os pais e ir até a casa do aluno. Porém, somente isso não estava resolvendo o problema. O número de faltas continuou relativamente alto: cerca de 20% dos alunos perderam aulas por até duas semanas no segundo semestre de 2016 sem apresentar justificativa.
Como pouco mudou desde a alteração nas regras, mais escolas passaram a entrar com processos contra os alunos que batem recorde na modalidade de gazear. No ano letivo de 2016/2017, cerca de 90 multas foram aplicadas na cidade.
Só os levantamentos dos próximos anos irão mostrar se funciona atacar os bolsos de alunos e pais – que possivelmente terão de pagar a conta – para trazer os gazeadores de volta às salas de aula.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Dez palavras úteis para uma noitada na Alemanha
Berlim é notória como capital das festas, seguida de perto por Hamburgo e Colônia. No entanto, antes de conquistar a noite alemã, vale a pena aprender alguns termos bem específicos.
Foto: Fotolia/Focus Pocus LTD
Feierabend
Qual é a primeira providência a se tomar, antes de cair na gandaia? Livrar-se do trabalho – a menos que a pessoa seja DJ profissional, claro. Então os alemães, sempre precavidos, saúdam esse momento libertador denominando todo fim de expediente, seja quando ou onde for, "Feierabend" – "noite de festa".
Foto: Fotolia/yanlev
Aufbrezeln
Próxima parada: o realce no visual. Um banho refrescante, maquiagem, saltos altos ou smoking, conforme o caso. Pelo menos uma camisa limpa... Todo o processo, em especial em suas versões mais requintadas, os alemães denominam "sich aufbrezeln". Uma expressão tão intraduzível quanto enigmática. Só se sabe que, curiosamente, tem a ver com os populares pães "pretzel". O resto é especulação.
Foto: picture-alliance/Bildagentur-online
Vorglühen
Os farristas mais precavidos (ou mais econômicos) não saem de casa sem um pontapé inicial no teor alcoólico do organismo. Afinal, na Alemanha, como em qualquer lugar do mundo, a bebida no supermercado costuma ser mais barata do que a do bar. Esse drinque profilático é apelidado "Vorglühen", originalmente um termo de mecânica indicando o pré-aquecimento dos motores a diesel.
Foto: Fotolia/Mikael Damkier
Wegbier
Quem não é apenas pão duro como não está preocupado em aparentar falta de classe, também já leva na mão uma "Wegbier" – literalmente "cerveja do caminho" – ao partir para a farra. Ao contrário de outros países, na Alemanha não é ilegal beber em público – contanto que se mantenha a compostura. Muito embora "legal" não torne automaticamente elegante o ato de bebericar de uma garrafa em público...
Foto: picture-alliance/dpa
After-Job-Party
Uma moda recente entre os alemães de 30 a 40 anos são as "After-Job-Parties". Aquilo que soa como um evento para aposentados não passa de uma balada programada para o meio da semana. Portanto: uma festinha pós-"Feierabend", sem parada para "aubrezeln" nem "Vorglühen". (Quem não entender, basta conferir as fotos anteriores!)
Foto: Fotolia/Valery Sibrikov
Türsteher
Hoje promovidos a "seguranças", tradicionalmente eles eram os "leões de chácara", brutamontes postados à entrada da discoteca ou festa para garantir que penetras e outras figuras indesejadas fiquem de fora. Eles também existem em metrópoles badaladas como Berlim ou Hamburgo, mas em alemão sua função é reduzida ao aspecto menos ameaçador: "Türsteher" é simplesmente alguém que fica de pé à porta.
Foto: picture-alliance/ZB
Auf ex
Mais uma pista falsa: aquilo que possa parecer um brinde a romances passados é, na verdade, o convite para esvaziar o recipiente de bebida de uma vez só. Uma façanha considerável, considerando-se que certos copos alemães de cerveja abarcam até um litro. Portanto, embora aparente ser derivado do latim, "auf ex trinken" pouco tem de acadêmico.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Pieknik
Prost!
Quer ingerindo tudo de uma vez, quer em doses mais moderadas, em qualquer parte do mundo sempre cabe começar a bebedeira com um brinde. "Saúde!" no Brasil e Portugal, "Cheers!" para os anglófonos, "Cin cin!" para os italianos, "Skål!" dizem os escandinavos. Já os alemães adotam, entre outros, "Prost!", exclamação derivada de "prosit" em latim, significando "que seja de bom proveito".
Foto: picture-alliance/dpa/T. Hase
Nachtschwärmer
Como abelhas ou mosquitos, os "Nachtschwärmer" – "os que saem em enxames noturnos" – deixam seus escritórios e apartamentos ao cair da noite para encher os bares da moda, tavernas e clubes das cidades. Muitas vezes considerados praga barulhenta pelos moradores locais, eles são uma benquista fonte de renda para os donos de lojas de conveniência e taxistas.
Foto: DW
Kater
Quem acorda na Alemanha "com um gato" no dia seguinte a uma noitada desbragada, não deu necessariamente sorte. Pois a expressão nada tem a ver com a companhia de cama. "Kater", além de designar os felinos domésticos do sexo masculino, significa também "ressaca". Portanto, em vez de namoro, um caso para aspirina.