Atraso nas obras do BER abriu espaço para novos planos, como manter o Tegel em funcionamento. Grupo apoiado pelos liberais conseguiu aprovar referendo para decidir sobre o futuro do aeroporto que deveria ser fechado.
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Os cinco anos de atraso na inauguração e a falta de previsão de quando o novo aeroporto de Berlim entrará em operação abriram espaço para que novas ideias e planos surgissem sobre o futuro do aeroporto de Tegel, que inicialmente seria desativado assim que voos partissem e chegassem no Berlim-Brandemburgo (BER).
Durante a campanha eleitoral local do ano passado, uma das principais bandeiras do Partido Liberal Democrático (FDP) era evitar o fechamento do Tegel. Com a promessa, a legenda conquistou muitos eleitores e votou a ocupar assentos no parlamento regional.
Como prometeu, o partido levou adiante o projeto "Berlim precisa de Tegel" e deu início ao processo para a convocação de um referendo para que os moradores da capital alemã decidam sobre o futuro do antigo aeroporto.
Em Berlim, qualquer cidadão pode propor junto ao governo grandes mudanças na cidade. Para promovê-las, porém, a ideia precisa ser aprovada por um determinado número de moradores num referendo, que é convocado se a petição apresentada alcançar as metas previstas na legislação.
O primeiro passo é o recolhimento de 20 mil assinaturas a favor da proposta para dar início ao processo. Com as assinaturas em mão, a petição é apresentada ao parlamento local para análise. Se a proposta for recusada, os iniciadores da campanha têm quatro meses para recolher 170 mil assinaturas para exigir um referendo sobre o tema. Se a meta for alcançada, o governo precisa promover a consulta popular.
A iniciativa pela manutenção de Tegel completou com sucesso estas etapas e, por isso, no dia 24 de setembro, os berlinenses, além de ir às urnas para escolher o novo governo alemão, vão também decidir sobre o futuro do antigo aeroporto.
O principal argumento dos defensores de Tegel é que o novo aeroporto abrirá suas portas já precisando de ampliações, pois o número de passageiros previsto no projeto final é bem menor do que o fluxo que chega atualmente à cidade. Alegam ainda que toda grande metrópole possui mais de um aeroporto.
Já o governo argumenta que a manutenção de Tegel, inaugurado em 1974, exigiria uma reforma no local que pode custar até um bilhão de euros. E quando o novo aeroporto estiver pronto, diz não haveria mais a demanda para um segundo aeroporto em Berlim.
Entendo os defensores, Tegel é um aeroporto prático, fica quase no centro, com acesso rápido de ônibus. Já o BER fica numa região bem mais afastada, fora de Berlim. Há mais de dez anos, porém, foi decidido investir num novo aeroporto, em vez de reformar os antigos, que eram três – Tempelhof (fechado em 2008), Tegel e Schönefeld (que fica próximo ao novo).
Bilhões de euros foram investidos no projeto, que se revelou um desastre, mas o espaço está lá e algum dia deve abrir suas portas. Por isso, percebo iniciativa do FDP como um oportunismo eleitoral. A legenda viu na questão uma chance de conquistar eleitores e, provavelmente, também usará o tema na campanha deste ano.
Se o novo aeroporto já tivesse sido inaugurado em 2012, como previsto, não haveria esta discussão. Agora, o governo corre o risco de ter que investir milhões de euros num projeto que não me parece necessário. Para manter Tegel em funcionamento, o referendo precisa, no entanto, da aprovação de mais de 25% dos eleitores cadastrados na cidade, ou seja, mais de 660 mil votos a favor.
Em 2008, o referendo para evitar o fechamento do aeroporto de Tempelhof não conseguiu alcançar essa meta. A grande vantagem do FDP neste ano é que a votação será realizada no mesmo dia da eleição alemã, o que pode levar mais eleitores às urnas e, quem sabe, a uma vitória.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Panes inacreditáveis nas obras do aeroporto de Berlim
Desde o início das obras, há dez anos, erros de projeto e falhas de execução vêm atrasando a abertura do BER, na capital alemã. Veja os principais desastres.
Foto: picture-alliance/dpa
Cinco anos de atraso... até agora
A inauguração do novo aeroporto de Berlim estava inicialmente prevista para 30 de outubro de 2011. A meta não se concretizou quando uma das empreiteiras faliu. A abertura foi adiada quatro vezes, seja por o sistema anti-incêndios não funcionar ou o telhado ameaçar ruir. Milhares de falhas atrasaram a tão esperada construção do BER. Agora, a inauguração está prevista para o final de 2017.
Foto: picture alliance/dpa
Perigo de incêndio
O maior problema do novo aeroporto é o sistema anti-incêndio. As leis de segurança alemãs são rígidas, mas o excesso de burocracia também não explica as deficiências na obra. O sistema de ventilação, por exemplo, não funcionava corretamente de início por um erro dos arquitetos, que queriam canalizar a fumaça por debaixo do saguão do aeroporto. Corrigir esse equívoco foi complicado e custoso.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Espaguete de cabos
Outro problema da segurança é a grande quantidade de cabos superpostos. Na ampliação dos terminais, as firmas foram simplesmente colocando mais e mais fios nas linhas, até elas ficarem superlotadas. O acúmulo de calor resultante é perigoso, podendo causar incêndios. Como mais tarde se constatou, grande parte dos cabos foi colocada de forma aleatória, sem planejamento nem consulta prévia.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Escadas curtas demais
Como quem viaja por um aeroporto internacional geralmente carrega malas pesadas, sistemas de transporte são uma necessidade absoluta. No BER, as escadas rolantes entre o terminal de embarque e a estação ferroviária subterrânea ficaram alguns degraus curtas demais. Também as esteiras de bagagem eram insuficientes – em número e extensão.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Mais de mil árvores erradas
Também na arborização houve panes: 1.036 tílias de um tipo diferente do previsto foram plantadas. Segundo a mídia, os jardineiros haviam feito a encomenda errada: em vez da espécie alemã mais selvagem, uma holandesa, cultivada. Acabaram sendo removidas 600 árvores. Enquanto isso, as ervas daninhas aproveitam os atrasos para ir se alastrando.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Zinken
Indicações para confundir
Quase um terço das 4 mil salas trazia indicações erradas: até as portas tinham números incorretos. Por quê? Falhas de comunicação: havia modificações constantes no projeto, sem o devido acompanhamento e catalogação. Também aqui, potencial para catástrofes, já que a identificação correta das portas é imprescindível para o trabalho de bombeiros, policiais e equipes médicas.
Foto: Adam Berry/Getty Images
Explosão de gastos
Oficialmente, a previsão de gastos do início ao fim da obra já aumentou de 2 bilhões para 5,4 bilhões de euros. O aeroporto terá o nome do ex-chanceler federal e ex-prefeito de Berlim Willy Brandt. Ele está sendo construído no local do aeroporto Schönenfeld, no sudeste da cidade, na antiga Alemanha Oriental, assumindo também as operações do Tegel e do Tempelhof, já fechado.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Corrupção também
O ex-diretor técnico do aeroporto foi condenado por ter recebido 500 mil euros em propinas. Além disso, descobriu-se que quem assinou o plano de segurança nem era engenheiro, apenas desenhista técnico. Segundo os críticos, esse tipo de envolvimento de pessoal não qualificado é a principal causa dos fiascos no futuro aeroporto internacional de Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Cadê os responsáveis?
Em três anos, quatro responsáveis pelas obras largaram o posto. Foi o caso de Hartmut Mehdorn (esq.), também ex-chefe da companhia ferroviária Deutsche Bahn. Uma comissão de inquérito, encarregada de investigar causas, consequências e responsabilidades do aumento de custos e atrasos nas obras do BER, chegou à conclusão de que houve uma "perda coletiva de noção da realidade".