Tomar sol em busca do tom de pele ideal não é um fenômeno típico brasileiro. Os berlinenses também lotam parques para pegar uma cor. Porém, sexy aqui é não ter a marquinha do biquíni.
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Apesar de não parecer muito, os alemães curtem um bronzeado. Assim como muitos brasileiros que lotam praias e lagos deitados horas ao sol à procura do tom ideal, os habitantes de Berlim ocupam parques tentando deixar de lado o branco profundo e doentio do inverno.
O bronzeado em Berlim tem, porém, um aspecto peculiar e bem distinto do brasileiro: a marquinha do biquíni. Sexy aqui é não tê-la. E não é preciso se esconder em sacadas, lajes ou jardins cercados por muros para evitar olhares incômodos na busca do tom perfeito. Em alguns parques, os alemães se desprendem de qualquer pudor e deixam de lado as roupas ao tomar sol.
Acostumada com uma cultura diferente, que, apesar de parecer liberal, é extremamente conservadora e proíbe até um simples topless, foi um tanto estranho no início andar por parques e deparar-me com grupos despidos na maior naturalidade. Precisava me concentrar para evitar olhares e agir como se nada fora do meu habitual estivesse acontecendo.
O desprendimento da Freikörperkultur (FKK) – cultura do corpo livre – é admirável. Mas a naturalidade é alcançada, principalmente, graças aos vestidos. A individualidade é uma virtude alemã, por isso, ninguém se preocupa com o que o outro está fazendo, desde que este siga as leis e regras do país.
Difícil imaginar se a moda da FKK pegaria no Brasil. Além do conservadorismo, a cultura do corpo perfeito poderia ser outro empecilho. Em Berlim, quem busca o tom sexy não liga se está com quilinhos a mais ou menos: a prioridade mesmo é tomar sol.
Isso revela ainda que o bronzeado alemão vai muito além da estética. Esse surto de vaidade repentino é questão de saúde. Os longos dias cinzentos do inverno pesam no corpo. Descobri recentemente que meu cansaço constante era derivado da falta de vitamina D e comecei a perceber que ela, ou melhor, sua ausência é um tema corriqueiro entre alemães. Apesar da escassez da vitamina, não alcancei e nem sei se alcançarei um dia o desprendimento necessário para a FKK. Acho que nesse quesito meu lado brasileiro grita mais alto.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Dez hábitos curiosos dos alemães
A Alemanha é associada a uma série de estereótipos. Mas o povo alemão não se resume a salsicha e cerveja. Conheça alguns costumes, do jantar frio à pressa no supermercado.
Foto: sabelfoto13 - Fotolia.com
Silêncio, hoje é domingo!
Você pode até pensar que domingo é o dia da semana perfeito para finalmente riscar algumas tarefas da sua lista, como passar aspirador ou pregar uma nova prateleira na parede. Mas na Alemanha, domingo é "Ruhetag", ou seja, dia de descanso. Isso significa que, além de as lojas ficarem fechadas, o martelo tem que ser posto de lado, pois os vizinhos podem reclamar do barulho.
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Feche a janela
Os alemães odeiam correntes de ar, que chamam de "Luftzug". Diz a sabedoria popular que o ar fresco que entra por uma janela pode te deixar doente. Médicos até dão atestados a seus pacientes por um torcicolo ou uma gripe ligados à corrente de ar. Então, lembre-se, mesmo no verão, todas as portas e janelas devem ficar fechadas.
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Não sopre a velinha antes da hora
Dizer "feliz aniversário" a um alemão antes do dia pode provocar olhares de recriminação ou até ofender. Para a maioria dos alemães, dar os parabéns antes da hora dá azar. Eles simplesmente não conseguem entender por que alguém comemoraria antes da data. Tudo bem celebrar a partir da meia-noite do aniversário, mas nunca antes disso.
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Cozinha na mudança
Para muitos estrangeiros em busca de um apartamento na Alemanha, pode surpreender o fato de a cozinha nem sempre vir junto com o imóvel. Quando os alemães se mudam, eles levam tudo consigo, deixando apenas os canos na parede para os próximos inquilinos. Fogão, geladeira, balcão, armários e às vezes até mesmo a pia são levados para a casa nova.
Foto: 1506965 - Fotolia.com
Pressa no supermercado
Ir às compras na Alemanha exige agilidade. Ao passar pelo caixa, o funcionário do supermercado registra os produtos em alta velocidade. Como consumidor, então, é preciso correr contra o tempo para empacotar as coisas que vão se acumulando após o caixa, antes que caiam no chão. E não olhe para trás, pois aqueles que aguardam na fila vão olhar feio se você não for rápido o suficiente.
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Água precisa ter gás
Se você pedir água num restaurante, o garçom provavelmente irá trazer água com gás. Os alemães adoram o líquido com bolhinhas e o misturam com tudo – de suco de maçã a vinho. Toda bebida misturada com água com gás se torna um "Schorle". Um alemão nunca serviria água da torneira para um convidado, apesar de potável, pois isso seria deselegante. A água precisa ter gás ou pelo menos ser engarrafada.
Foto: mdxphoto - Fotolia.com
Sim e obrigado
Confuso, não? Eis um exemplo: quando lhe perguntarem em alemão se você gostaria de mais um pouco daquela deliciosa cerveja, se você disser "obrigado" ("danke"), isso será interpretado como "não, obrigado". Se você quiser mais, diga "por favor" ("bitte"), que nesse contexto significa "sim, por favor". Caso contrário você poderá ficar com sede.
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Almoço quente, jantar frio
Os alemães chamam o jantar de "Abendbrot", ou seja, "pão da noite". Isso porque eles preferem uma refeição quente e caseira no almoço e algo rápido e frio no jantar – como pão com queijo, presunto e vegetais. Quase todos os locais de trabalho, pequenos ou grandes, têm uma cantina para servir o apreciado almoço. Assim, ninguém fica sem a comida quente.
Foto: Marén Wischnewski - Fotolia.com
Traduzir do inglês para o inglês
Uma coisa é dublar filmes do inglês para o alemão. Na Alemanha, todos os atores americanos têm até um dublador específico. Mas às vezes os nomes dos filmes em inglês também são traduzidos – não para alemão, mas para um inglês mais simples. Por exemplo, o filme "Bring it On" foi chamado de "Girls United" na Alemanha. "Maid em Manhattan" (foto) é "Manhattan Love Story". Por quê? Boa pergunta.
Foto: picture-alliance/dpa
Tire a roupa!
Acredita-se que a chamada "Freikörperkultur" (FKK), ou seja, a cultura do corpo livre ou naturismo, tenha surgido na Alemanha. Muitos alemães adoram tirar a roupa numa praia FKK e curtir o sol à la Adão e Eva. Não importa a idade, a aparência ou a companhia, em locais FKK e na sauna – mista ou não – é melhor ficar pelado. Ou você será visto como o estranho estrangeiro pudico.