Apesar da dificuldade de adaptação, um grupo de lebres escolheu viver no bairro de Lichtenberg. Pesquisadores querem descobrir o que atraiu a espécie para a região marcada pela arquitetura da antiga Berlim Oriental.
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Comum em zonas campestres, as lebres são uma espécie que geralmente tem dificuldades em se adaptar à vida na cidade – diferentemente dos coelhos que parecem adorar Berlim. Um fenômeno, porém, tem chamado a atenção de pesquisadores alemães: a invasão de lebres no bairro de Lichtenberg e sua preferência pelas regiões ocupadas pelos chamados Plattenbau, os conjuntos habitacionais típicos da antiga Alemanha Oriental.
Enquanto a média de lebres por quilômetro quadrado na Alemanha é 11, em Lichtenberg, esse número sobe para 15. A espécie parece realmente ter gostado da arquitetura da antiga República Democrática Alemã (RDA). As lebres começaram a aparecer no bairro, que durante a divisão da Alemanha ficava no lado oriental da cidade, há pouco mais 15 anos.
No decorrer deste período, os animais fixaram moradia no bairro, localizado no nordeste de Berlim e que fronteira com o estado de Brandemburgo, onde há algumas regiões agrícolas.
Pesquisadores tentam agora descobrir o motivo do apreço das lebres por Lichtenberg. A espécie, ameaçada na Alemanha, costuma ser sedentária, passando toda a vida na mesma região. Por ter uma capacidade relativamente baixa de adaptação a um novo habitat, a invasão da espécie no bairro intriga biólogos.
Um projeto do Instituto Leibniz para Pesquisa Selvagem e em Zoológico e o distrito de Lichtenberg busca, com a ajuda dos moradores, recolher dados sobre as "lebres comunistas" e entender as mudanças no comportamento da espécie para sua adaptação à vida na cidade.
Os moradores de Lichtenberg ou passantes que avistarem lebres são convidados a responder um questionário no site do próprio distrito, comunicando a hora e o local exato deste encontro.
A iniciativa pretende também sensibilizar as autoridades sobre os novos moradores e, desta maneira, pensar em políticas públicas para humanos e lebres. Por exemplo, em decisões sobre novas áreas verdes, escolher locais que agradem a ambos.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Dez animais selvagens que acharam em Berlim seu habitat
Capital alemã pode parecer só concreto, mas a vida selvagem é mais diversificada do que parece. Não só raposas, javalis e coelhos circulam pelas pelas ruas, como também é a cidade da Alemanha com o maior número de aves.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Carstensen
Raposas
Se de repente você der de cara com uma raposa depois de uma noitada em Berlim, não se preocupe – você não está tendo alucinações. A capital alemã virou habitat para as raposas, diz a especialista em animais selvagens Katrin Koch.
Foto: Reuters/F. Bensch
Guaxinins
Não só raposas podem cruzar seu caminho em Berlim. Guaxinins estão por toda parte. Eles gostam de subir nas casas e brincar em jardins e parques, e podem até ser encontrados em ruas movimentadas. Guaxinins vivem em cavernas. E mesmo numa cidade como Berlim eles encontram mais alternativas a cavernas na cidade do que no campo, seja em telhados, chaminés ou árvores ocas.
Foto: NABU Berlin
Javali
Como se raposas selvagens e guaxinins no meio de Berlim já não fossem assustadores, você ainda tem que cuidar dos porcos selvagens. Em geral, eles vivem na periferia da cidade, mas ultimamente estão vindo com mais frequência em direção ao centro, afirma Katrin Koch. A boa notícia é que eles nunca atacaram ninguém, e realmente não representam uma ameaça.
Foto: picture-alliance/dpa
Castores
Embora castores não sejam nativos de Berlim, nos últimos dez anos eles foram se instalando pouco a pouco na cidade. A espécie é protegida, e eles não podem ser caçados. Agora, os rios Havel e Spree estão praticamente tomados por castores. Por isso, todo cuidado é pouco durante mergulhos nas águas da capital alemã.
Foto: picture alliance/Arco Images GmbH
Morcegos
Gotham City pode ser a cidade do Batman, mas, no mundo real, Berlim é a cidade dos morcegos. Um de seus locais favoritos é a fortaleza renascentista no bairro Spandau, onde vivem aos milhares. Mas eles também podem ser vistos voando pelo centro da cidade, e usando os prédios como se fossem falésias.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thomas
Coelhos
Como em outras grandes cidades alemãs, os coelhos adoram os parques verdes de Berlim. Na capital, eles frequentam muito o parque Kleistpark. Certa vez encontrei uma raposa cercada por uma família de coelhos no meio de Berlim. Cheguei a pensar que estava numa cena de "Alice no país das maravilhas".
Foto: NABU/Jens Scharon
Águias
A maior sensação entre os animais selvagens em Berlim é a águia-rabalva, que tem uma cauda branca. Segundo Katrin Koch, depois de quase cem anos, o primeiro exemplar foi visto em Berlim em 2002. É a maior ave de rapina da cidade. Então, da próxima vez que você observar um grande pássaro marrom com uma grande envergadura e um bico amarelo afiado fazendo rondas sobre Berlim, tire uma foto...
Foto: picture-alliance/dpa
Falcões
O falcão mais famoso em Berlim é o francelho. Eles adoram voar sobre nossas cabeças e pousar em buracos nas paredes e janelas. Os falcões são animais protegidos pela ONG Nabu, que instalou caixas para ninhos em escolas, igrejas e prédios industriais.
Foto: Imago/McPhoto/blickwinkel
Pardais
Berlim é a cidade alemã com o maior número de aves, sejam pássaros, aves de rapina ou grandes gaivotas. Um dos mais graciosos é o pardal, que come de sua mão. Enquanto a população de pardais em outras cidades alemãs, como Hamburgo, está diminuindo, na capital alemã ela cresce. Cuidado para não mergulharem com o bico em sua comida quando você não estiver prestando atenção!
Foto: NABU/Nikolai Kraneis
Corujas da noite
Um "animal selvagem" berlinense bem original é a coruja da noite ou animal de festas. Seu habitat são os bairros Neukölln, Friedrichshain e Kreuzberg. Eles podem ser identificados por seus corpos cobertos de brilho, por beberem Club-Mate, uma bebida de mate com cafeína, e a atração por música eletrônica. Nas primeiras horas da manhã, eles podem ser encontrados dormindo em trens pela cidade.