Há 80 anos, capital alemã era palco dos Jogos Olímpicos, e parte das construções da época ainda é utilizada, como o estádio de futebol e a antiga piscina olímpica, relata a jornalista Clarissa Neher.
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Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro entraram para a história como os primeiros da América do Sul, e apesar de todas as análises que se possa fazer agora, a real dimensão de seus impactos e do tão comentado legado só será conhecida no futuro. Assim foi com Berlim, a cidade que recebeu o evento há exatamente 80 anos.
Em 1936, o regime nazista queria mostrar ao mundo uma imagem pacífica e aberta. O Terceiro Reich não economizou em propaganda: construiu um grandioso parque olímpico – com estádio, piscina e anfiteatro a céu aberto – e uma moderna vila olímpica, a primeira da história dos Jogos da era moderna e que ficaria como legado, mas não para a população. Com a saída dos atletas, a tal "Vila da Paz" assumiu ironicamente sua identidade original: a de um complexo militar.
Na época, porém, toda essa maquiagem funcionou. Os atletas internacionais teriam voltado para casa com uma boa impressão do regime nazista. Essa máscara cairia pouco tempo depois, deixando exposta a verdadeira face dos anfitriões.
Hoje, 80 anos depois, parte do legado olímpico ainda marca a cidade. O imponente estádio – "casa" do time de futebol Hertha Berlim – recebe jogos da Bundesliga, eventos esportivos e culturais, e voltou a brilhar na Copa de 2006 após uma reforma. Mais acessível aos berlinenses, no entanto, é a antiga piscina olímpica, aberta ao público durante o verão, onde é possível nadar como as estrelas de 1936.
Já da antiga vila olímpica restaram apenas ruínas. A Vila da Paz foi ocupada por militares até 1992, primeiro pelos nazistas, depois pelo Exército soviético. A ocupação e o tempo deixaram marcas, que ficaram ainda mais profundas com o abandono na década de 1990. Após anos sendo alvo de depredações e saques, o complexo foi transformado em museu, aberto a visitações entre abril e outubro.
O tempo também levou consigo o espírito olímpico que encheu a cidade na década de 1930. Berlim não deve voltar a receber megaeventos tão cedo. Os Jogos de 1936 podem ter sido os únicos da história da capital alemã. Depois de uma candidatura frustrada no início dos anos 1990, há um ano os berlinenses recusaram a ideia de sediar o evento novamente. Com a rejeição em massa, a candidatura para 2024, tão sonhada por governantes locais, nem chegou a sair do papel.
A rejeição era esperada diante dos impactos e dos custos dos últimos Jogos Olímpicos. Os berlinenses não acreditaram na conversa da prefeitura, que tentava vender um modelo de megaevento social. A recusa foi um claro não ao investimento de bilhões na construção de complexos luxuosos exigidos por organizações internacionais e à especulação imobiliária que vem junto no pacote.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Momentos inesquecíveis nas aberturas de Olimpíadas
As cerimônias de abertura de Jogos Olímpicos são sempre acompanhadas de suspense ou efeitos especiais surpreendentes, como Muhammad Ali acendendo a pira olímpica ou uma sósia da rainha Elizabeth descendo de paraquedas.
Foto: dapd
1896: primeiros Jogos da Era Moderna
Os Jogos Olímpicos da Antiguidade aconteceram de 776 a.C. até 393, quando o imperador Teodósio os proibiu por considerá-los pagãos. Eles ressurgiram por iniciativa do francês Pierre de Coubertin. De 6 a 15 de abril de 1896, se realizaram pela primeira vez os Jogos Olímpicos da Era Moderna. Eles foram abertos em Atenas pelo então rei George da Grécia, e neles soou pela primeira vez o Hino Olímpico.
Foto: picture-alliance/dpa
1920: Bandeira e juramento olímpicos
Dois anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, os Jogos foram realizados na Antuérpia. Pela primeira vez, foi içada a bandeira olímpica, concebida em 1913. As seis cores dos anéis – azul, amarelo, preto, verde e vermelho – podem ser encontradas em bandeiras nacionais. Os anéis representam os continentes habitados do planeta. Pela primeira vez, atletas fizeram o juramento olímpico.
Foto: picture-alliance/Xinhua
1928: Amsterdã e a ordem do desfile
A maior parte do cerimonial de hoje em dia já foi adotada em Amsterdã em 1928. Pela primeira vez, atletas gregos abriram o desfile, sendo seguidos pelas delegações dos demais países, na ordem alfabética de acordo com o nome no idioma do país-sede, cuja delegação é a última a desfilar.
Foto: Getty Images/Central Press
1936: primeiro revezamento da tocha
Em 1936, aconteceu pela primeira vez o revezamento da tocha olímpica, de Atenas até Berlim, onde foi acesa a pira olímpica. Cerca de 3 mil atletas participaram da corrida. A pira olímpica foi acesa pelo atleta alemão Fritz Schilgen (foto). Os Jogos Olímpicos de Berlim foram usados como instrumento de propaganda do regime nazista.
Foto: picture-alliance/akg-images
1964: homenagem a Hiroshima
Yoshinori Sakai nasceu em 6 de agosto de 1945, exatamente no dia do lançamento da bomba atômica sobre a cidade japonesa. Na abertura dos primeiros Jogos na Ásia, em 1964, o rapaz de 19 anos carregou a tocha olímpica para o estádio em Tóquio. Um momento inesquecível, que virou um símbolo da paz mundial.
Foto: Getty Images
1980: boicote em Moscou
A tensão durante a Guerra Fria ficou evidente nos Jogos em Moscou, em 1980. Em vez da bandeira de seu país, o presidente do comitê olímpico britânico, Dick Palmer (esq. à frente na foto) carregou a bandeira olímpica. Em protesto à invasão do Afeganistão por tropas russas em 1979, o Japão e a Alemanha boicotaram os Jogos junto com os Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/AP Photo
1992: tiro perfeito em Barcelona
Em 1992, o arqueiro paralímpico Antonio Rebollo acendeu a pira olímpica da 25ª edição dos Jogos Olímpicos em Barcelona, com uma flecha em chamas. Na realidade, a flecha passou muito perto da pira, mas o fogo foi aceso exatamente ao mesmo tempo.
Foto: picture-alliance/Lehtikuva Oy
1996: momento mágico
Quatro anos mais tarde, outro momento emocionante. Muhammed Ali, a lenda do boxe, já visivelmente afetado pela doença de Parkinson, acendeu a pira nos Jogos em Atlanta, nos Estados Unidos. Ele foi uma figura controversa em seu país por ter se negado a combater no Vietnã, mas seus feitos esportivos foram reconhecidos.
Foto: picture-alliance/dpa
2004: vestido mágico em Atenas
A cerimônia de abertura das Olimpíadas segue um rígido protocolo, mas mesmo assim ainda oferece espaço para a criatividade. Enquanto Björk, cantora da Islândia, interpretou "Oceana" em 2004 nos Jogos de Atenas, seu vestido se abriu lentamente num enorme véu, que cobriu as delegações como um tapete.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Baker
2008: superlativos em Pequim
O custo da abertura dos Jogos em Pequim é estimado em 100 milhões de dólares. Quatro anos mais tarde, os de Londres custaram 40 milhões de dólares. A cerimônia na capital chinesa contou com extamente 2.008 percussionistas, usando baquetas iluminadas e tambores tradicionais do país. A apresentação deles foi o ponto alto de um show perfeitamente planejado, que durou três horas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Ugarte
2012: homenagem à rainha
A rainha Elizabeth abriu os Jogos de Londres, em 2012. E com estilo: uma dublê trazida pelo agente 007, James Bond, pulou de paraquedas de um helicóptero. A rainha britânica foi a primeira chefe de Estado a abrir duas Olimpíadas. Como rainha do Canadá, ela já havia feito o mesmo em Montreal, em 1976.