Em meio a controvérsia, Bundestag aprova construção de monumento de 15 milhões de euros. Decisão desagrada críticos do projeto, que afirmam que estrutura destoa de local escolhido para abrigá-lo.
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Como deveria ser um monumento para homenagear os protestos pacíficos na antiga República Democrática Alemã (RDA) e a Reunificação alemã? A questão tem ocupado governantes, artistas plásticos e ativistas em Berlim desde o fim da Alemanha Oriental e já causou muitas brigas e discussões. Agora, porém, o assunto parece resolvido. Até segunda ordem.
Depois de muitas idas e vindas, o governo voltou atrás e autorizou novamente a construção do monumento chamado de "Gangorra da Unidade" (Einheitswippe). A decisão foi uma surpresa, afinal, em abril de 2016, o Bundestag (Parlamento alemão) suspendeu o financiamento do projeto devido à explosão no valor da obra, que passou dos estimados 10 milhões de euros para 15 milhões de euros. Além disso, havia também o alto custo de manutenção.
A suspensão, decidida depois muita conversa – afinal, os alemães costumam discutir bastante e analisar cada detalhe antes de tomar uma decisão –, agradou os críticos do projeto. O pontapé inicial para sua construção foi dado em 2007, quando o Bundestag decidiu que iria financiar em Berlim a homenagem à data histórica.
Um concurso foi lançado para escolher a melhor ideia e recebeu centenas de inscritos. Em 2011, finalmente, com a seleção da obra – uma gangorra gigante de metal e concreto, criada por um arquiteto de Stuttgart em parceira com a coreógrafa Sasha Waltz –, parecia ter sido colocado um ponto final nas discussões.
Mas o projeto demorou a sair do papel e acabou cancelado, o que gerou certa revolta entre os apoiadores da iniciativa. O monumento é polêmico não só por essas idas e vindas, mas também esteticamente.
Críticos reclamam que a peça destoa completamente da região escolhida para abrigá-la: a gangorra cinza enorme e bem proeminente ficará ao lado do Palácio de Berlim, de estilo barroco, que está sendo reconstruído próximo â Ilha dos Museus, onde há construções clássicas. Assim, a homenagem corre o risco de se tornar um "pecado arquitetônico", ou seja, aquela obra que acaba com a "beleza estética" de determina região.
Particularmente, acho que o projeto escolhido tem uma estética muito pesada para o momento histórico que homenageia. A Reunificação agradou a grande maioria dos alemães, principalmente aqueles que tiveram suas famílias separadas ou sofreram com o regime comunista. Além disso, a tal gangorra, construída na beira do rio, deixará uma região que poderia ser um oásis verde no centro berlinense ainda mais cinza.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Obras avançam no Palácio de Berlim
Dois anos após lançamento da pedra fundamental, trabalhos andam a pleno vapor no canteiro de obras do Palácio do Berlim. Antiga residência dos reis prussianos vai se tornar mais novo centro cultural da capital alemã.
Foto: picture alliance/Daniel Kalker
Por volta de 1900
A pedra fundamental do antigo palácio foi lançada em 1443, mas a residência real só começou a tomar forma em 1701. O projeto das fachadas é do arquiteto Andreas Schlüter. Com 1.210 aposentos, o Palácio de Berlim era conhecido como o maior prédio barroco ao norte dos Alpes.
Foto: ullstein bild
Danos de guerra
Durante a Segunda Guerra Mundial, o edifício pegou fogo durante um ataque aéreo. O incêndio destruiu praticamente todos os aposentos da ala norte e sul. Outras partes do prédio ficaram de pé, incluindo as fachadas com as esculturas decorativas, as paredes estruturais e as principais escadarias.
Foto: picture-alliance/dpa
Negligência e demolição
Nos anos do pós-Guerra, exposições foram realizadas nos espaços poupados pelo fogo. No entanto, em 1950, o governo da antiga Alemanha comunista decidiu que o prédio não fazia parte do patrimônio cultural alemão e ordenou a sua destruição, apesar dos muitos protestos. Em seu lugar foi criado o Largo Marx e Engels, como local para grandes manifestações.
Foto: picture-alliance/dpa
Interação socialista
Na década de 1970, durante o governo de Erich Honecker, foi construído no local o Palácio da República. O edifício se tornou a sede parlamentar da antiga Alemanha Oriental, mas também foi usado para fins culturais e para abrigar inúmeros bares e restaurantes. Depois da queda do Muro de Berlim, o prédio foi fechado devido à presença de amianto, sendo demolido mais tarde.
Foto: picture alliance/ZB
Enganosamente verdadeiro
Após a Reunificação surgiu um debate acalorado sobre a possível reconstrução do Palácio de Berlim. Em 1993, um grupo a favor da reconstrução acertou em cheio ao erguer uma maquete de lona em escala real com imagens das fachadas barrocas. Em 2002, o Parlamento alemão votou a favor da reconstrução do Palácio de Berlim.
Foto: picture-alliance/ZB/B. Settnik
Réplica em tamanho natural
Em 2008, o projeto do italiano Franco Stella ganhou o concurso de arquitetura para a reconstrução do palácio. Seu projeto combina o exterior barroco com um interior moderno. O Palácio de Berlim reconstruído deverá abrigar um centro cultural e artístico internacional conhecido como Fórum Humboldt.
Foto: picture-alliance/Xamax
Um olhar sobre o canteiro de obras
O espaço Humboldt Box tornou-se um marco temporário da capital alemã. Desde 2011, ele serve como centro de informações sobre o passado e o futuro do Palácio de Berlim. Nos primeiros 50 dias, o espaço atraiu 100 mil pessoas. De uma plataforma de observação, os turistas também podem desfrutar uma visão panorâmica sobre o canteiro de obras.
Foto: picture-alliance/D. Kalker
Construção em andamento
Em 12 de junho de 2013, o presidente alemão, Joachim Gauck, lançou a pedra fundamental. Nela estão gravadas duas datas: 1443 e 2013. A primeira corresponde ao lançamento da primeira pedra fundamental, e a segunda indica o ano do início da reconstrução do palácio.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Ornamentos antigos em paredes novas
Enquanto as paredes estão sendo elevadas, os ornamentos das fachadas barrocas são confeccionados no canteiro de obras. Usando modelos históricos, escultores recriam 3 mil peças do antigo palácio. As fachadas do prédio deverão custar 80 milhões de euros, provenientes em grande parte de doações. O custo total da obra está orçado em 590 milhões de euros, financiados pelo Estado, em sua maioria.
Foto: picture-alliance/ZB/A. Burgi
Grandes expectativas
Atualmente, o cinza do concreto aparente ainda domina a visão do canteiro, mas isso vai mudar com a abertura do Fórum Humboldt, em 2019. No local, os museus berlinenses vão expor os seus tesouros não europeus, enquanto a Universidade Humboldt realizará conferências internacionais. O pátio do palácio vai servir de palco para espetáculos de teatro e música.