A pequena cidade ao sudeste de Berlim oferece duas atrações a turistas. Uma dela é verdadeiro ímã de visitantes. Nesta semana, a coluna apresenta o Sanatório de Beelitz, famoso atualmente por suas ruínas.
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A pacata Beelitz fica apenas alguns quilômetros ao sudeste de Berlim. A cidade de 12 mil habitantes tinha tudo para ser só mais uma entre tantas outras – com casinhas, tranquilidade típica de regiões menos povoadas e nada de especial. Beelitz, porém, deu sorte na história – digamos, estava no lugar e na hora certa – e também teve algum marqueteiro agrícola que soube vender ao mundo o produto que cresce em seus solos.
Muitos conhecem Beelitz como a cidade do aspargo – a planta ganhou inclusive um museu, coisa de quem entende como atrair turistas. Além disso, agricultores locais abrem as portas de suas fazendas para todos durante a temporada de aspargo, que começa em abril.
Mas o aspargo é a menor atração da cidade, apesar de muito apreciado em Berlim. Foi um tesouro histórico que realmente trouxe fama mundial a Beelitz: as ruínas de um sanatório construído no fim do século 19 e início do século 20.
Ao caminhar pelas ruínas do Sanatório de Beelitz, dá para ter uma dimensão da beleza e grandeza do local durante o seu auge. Os prédios possuem uma arquitetura belíssima, mas que lembram um pouco filmes de terror, ainda mais agora que estão abandonadas e seu interior foi completamente depredado.
A história do Sanatório de Beelitz reforça mais essa impressão de mal assombrado. O complexo foi construído em 1898 para tratar tuberculosos que viviam em Berlim, mas não todos, apenas os trabalhadores, porque a elite ia para clínicas mais nobres nas montanhas europeias e os mais pobres tinham que esperar um milagre para sobreviver. Na época, a medicina acreditava que o ar de Beelitz ajudava na cura dos pacientes.
Durante a visita guiada, eu pensava em quantas pessoas não chegaram sobreviver ao tratamento e quanto tempo o bacilo de koch permanece vivo na atmosfera.
Com a Primeira Guerra Mundial, o local expandiu suas especialidades médicas e passou a receber soldados convalescentes – o próprio Adolf Hitler teria sido tratado por lá. No fim da Segunda Guerra, alguns prédios do complexo ficaram completamente destruídos e outros continuaram a exercer sua função hospitalar, mas agora controlados pelo Exército soviético.
O complexo se transformou no maior hospital militar da União Soviética no exterior. Após a reunificação da Alemanha e o fim da Guerra Fria, em 1994 as construções foram praticamente abandonadas e se tornaram alvo de vandalismo. Em seguida o terreno foi adquirido por um investidor, que cercou cada um dos prédios para evitar invasores. O novo proprietário dos imóveis pretende restaurar alguns deles. Há a ideia de construir um hotel na antiga ala cirúrgica.
Mas, até lá, as ruínas são a grande atração de Beelitz, e foram até cenário dos filmes O pianista e Operação Valquíria. Para mim, o mais fascinante delas é ver como o poder do tempo e a ação humana afetam prédios sólidos que sobreviveram a duas guerras mundiais e que, vítimas do vandalismo, em apenas 20 anos foram completamente depredados, restando apenas seu esqueleto.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
As ruínas do Sanatório de Beelitz
Antigo sanatório, construído para tratar tuberculosos no fim do século 19, tornou-se a principal atração de pequena cidade vizinha a Berlim.
Foto: DW/C. Schimunda Neher
Ar puro
O Sanatório de Beelitz foi construído na passgem do século 19 para o 20, para tratamento de trabalhadores da capital alemã diagnosticados com tuberculose. O local para a construção da clínica foi escolhido pela proximidade a Berlim e pelo seu ar puro que, na época, era uma das principais terapias para a doença. Hoje, a vegetação tomou conta das ruínas.
Foto: DW/C. Schimunda Neher
Mulheres e homens separados
Mulheres e homens eram tratados em locais separados do complexo hospitalar. A ala feminina foi bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial e acabou abandonada no fim do conflito, abrindo espaço para que um pequeno bosque crescesse em seu teto.
Foto: DW/C. Schimunda Neher
Hospital militar durante guerras
Durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, o Sanatório de Beelitz foi transformado em hospital militar. Somente na Primeira Guerra, ele recebeu cerca de 17,5 mil soldados convalescentes. Adolf Hitler teria sido tratado no local entre outubro e dezembro de 1916.
Foto: DW/C. Schimunda Neher
Ocupação soviética
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o complexo foi ocupado pelo Exército Soviético. Até o fim da Guerra Fria, o Sanatório de Beelitz foi o maior hospital militar da União Soviética no exterior.
Foto: DW/C. Schimunda Neher
Fim da Guerra Fria
Após a reunificação alemã e o fim da Guerra Fria, o Exército Soviético deixou o complexo em 1994. Investidores buscaram novas utilizações para o local, declarado patrimônio histórico Por isso as construções originais não podem ser demolidas, apenas reformadas, preservando suas características. Porém nenhuma das ideias saiu do papel e o complexo está abandonado há mais de 20 anos.
Foto: DW/C. Schimunda Neher
Ala cirúrgica
A antiga ala cirúrgica foi utilizada até 1994. Atualmente, pouco resta no antigo prédio, um dos que mais sofreu com o vandalismo. Um dos armários utilizados para guardar medicamentos, porém, sobreviveu, com algumas marcas, ao tempo e à depredações.
Foto: DW/C. Schimunda Neher
Marcas da ocupação recente
A partir de 1994, o sanatório abandonado se tornou ponto de encontro para festas e grafiteiros. Sprays e garrafas de cerveja ainda lembram esse período. O abandono também abriu espaço para que os prédios fossem depredados e, em pouco mais de 20 anos, seus interiores foram completamente destruídos.
Foto: DW/C. Schimunda Neher
Cenário de cinema
As ruínas do Sanatório de Beelitz ganharam o mundo nas telas de cinema. Elas foram cenário dos filmes "O pianista", de Roman Polanski, e "Operação Valquíria", de Bryan Singer.
Foto: DW/C. Schimunda Neher
Cena de crimes
As ruínas de Beelitz também escondem mortes violentas. Em 1991 um assassino em série da região matou uma mulher e seu bebê no antigo hospital. Em 2008 um fotógrafo estrangulou uma modelo durante uma sessão de fotos. Em 2011 um morador de rua se suicidou num dos prédios do complexo.
Foto: DW/C. Schimunda Neher
Futuro incógnito
Atualmente uma cerca protege os prédios do complexo de invasores. Visitas guiadas ou fotográficas, porém, são oferecidas pelo grupo de investidores que adquiriu alguns dos prédios do antigo sanatório. Uma das ideias dos novos proprietários era construir um hotel na antiga ala cirúrgica, mas só o tempo dirá se ela vai se tornar realidade.