Uma vez por ano, Berlim abre as portas dos ministérios e da chancelaria federal para a população. Num exercício de democracia, berlinenses são convidados a conhecer a fundo instituições políticas e seus representantes.
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"A fim de um encontro com a democracia?", foi a pergunta feita neste ano pelo governo alemão ao convidar os berlinenses para conhecer de perto os bastidores da política. Eu nunca havia participado do Dia das Portas Abertas, realizado há 19 anos com o intuito de aproximar as instituições governamentais da população. O folheto sobre o evento deste ano despertou minha curiosidade.
Durante dois dias, no último final de semana de agosto, 14 ministérios e a chancelaria federal abriram suas portas aos interessados em se informar sobre o trabalho dessas instituições. Cada local preparou um programa especial, com artistas, pesquisadores e os próprios ministros, que participariam de debates com a população. O ponto alto seria o tour pela chancelaria, onde Angela Merkel receberia os visitantes no domingo.
Os órgãos governamentais estavam preparados para receber um público variado e de diferentes idades. Quase todos ofereceriam uma programação especial para crianças. O Ministério da Família optou em se transformar num verdadeiro parque de diversões para os pequenos.
Era tanta opção que foi difícil saber por onde começar. Escolhi o tour histórico no prédio que atualmente abriga o Ministério das Finanças. O local foi construído em 1936 para abrigar o Ministério da Aviação do regime nazista. A visita, que achei que seria curta, durou quase uma hora. Ela se concentrou em fatos que marcaram o prédio e foi intercalada com apresentações de teatro, que não combinavam com a proposta. Um dos destaques foi a sala do ministro das Finanças, que de tão arrumada mal parecia ser usada para trabalho.
Outros ministérios também abriram as portas da sala dos ministros para a população. De lá, fui para o Ministério da Justiça, onde o ministro Heiko Maas falou sobre seu trabalho e respondeu a algumas perguntas de visitantes. Numa das questões, foi confrontado com uma crítica a seu Partido Social-Democrata (SPD): um jovem estudante de Direito queria saber por que a legenda não promoveu plebiscitos durante o governo de coalizão ao lado da União Democrata-Cristã (CDU), de Merkel.
Depois do debate, resolvi partir para o ponto alto do evento: conhecer a chancelaria federal. Duas linhas de ônibus transportavam gratuitamente os visitantes entre os ministérios. A segurança para entrar nos locais foi reforçada, com revistas e raio-x de bolsas. Todo esse reforço, porém, gerou filas.
Ao chegar à chancelaria, deparei-me com uma fila enorme. Provavelmente, das 120 mil pessoas que aceitaram o convite para o encontro com a democracia, a grande maioria quis conhecer o local. Depois de esperar uma hora e ainda sem perspectiva de quando conseguiria entrar no prédio, decidi deixar a visita para o próximo ano e aproveitar para conhecer outros ministérios.
Saí de casa sem grandes expectativas, achando que passaria uma ou duas horas no evento, mas acabei indo de ministério em ministério durante quase o dia todo. Gostei muito da iniciativa de aproximar a política da população e da transparência proporcionada por ela.
Abrir as portas é como prestar contas sobre o que está sendo feito em cada um desses órgãos. E ainda possibilita à população adquirir conhecimento para saber onde deve ir para cobrar direitos, além de lembrar a todos que as instituições não pertencem a partidos ou políticos, mas sim àqueles que os elegeram.
Clarissa Neheré jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Dez razões para amar Berlim
A capital alemã é muitas coisas: sede do governo, metrópole cultural, centro de vida noturna. Mas, acima de tudo, ela é eletrizante, uma cidade em constante mutação. Talvez, por isso, os turistas gostem tanto dela.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Vista do alto
A torre "Fernsehturm", com seus 368 metros de alturam é a estrutura mais alta da Alemanha. Em um dia claro, a plataforma de observação oferece visibilidade de até 40 quilômetros. Acima da plataforma, fica o restaurante giratório, que realiza uma rotação a cada 30 minutos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Um lugar feliz
Em 1989, quando o Muro de Berlim caiu, artistas de todo o mundo pintaram sobre a barricada de concreto cinza. A East Side Gallery é até hoje a mais longa galeria ao ar livre do mundo. A arte criada espontaneamente ainda reflete a alegria que se espalhou por toda a Berlim com a queda do Muro.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Museus e galerias
Rodeada pelo rio Spree, a Ilha dos Museus foi nomeada Patrimônio Mundial pela Unesco em 1999. Lá, é possível admirar tesouros artístico de todo o mundo, como um busto da rainha egípcia Nefertiti e o Altar de Pérgamo, construído entre 160 e 180 a.C. em homenagem a Zeus, o reio do Olimpo. Berlim tem ainda outros 175 museus e cerca de 300 galerias de arte.
Foto: Fotolia/fhmedien_de
Diversidade cultural
Cosmopolita, ricamente colorida e com um entusiasmo pela vida — assim Berlim apresenta-se durante o festival Carnaval das Culturas. Cerca de 180 nacionalidades chamam a cidade de casa. E todo o mês de maio eles — recém-chegados e berlinenses estabelecidos — celebram o que é, provavelmente, a melhor festa de rua da cidade.
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Em constante mutação
Desde a Reunificação, em 1990, os guindastes não param: a Potsdamer Platz foi reconstruída, o Reichstag (prédio do Parlamento alemão) ganhou uma cúpula e o quarteirão do governo foi construído. O Palácio de Berlim, que deverá ser concluído em 2019, está lentamente tomando forma. Ninguém sabe ainda, porém, se o novo - e muito atrasado - aeroporto de Schönefeld estará aberto até lá.
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Tapete vermelho
Em fevereiro, Berlim estende o tapete vermelho para receber estrelas do cinema. Desde 1951, o Festival Internacional de Cinema de Berlim, conhecido como Berlinale, é um dos principais do mundo. Estrelas do cinema amam a cidade, mesmo em outras épocas do ano, como Arnold Schwarzenegger e Emilia Clarke, que estiveram na capital para a estreia do mais recente "Exterminador do Futuro".
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Memória preservada
O Memorial do Holocausto, composto por 2.711 placas de concreto para lembrar os seis milhões de judeus europeus mortos pela Alemanha nazista, é o memorial mais visitado de Berlim. Outros monumentos incluem os dedicados às Forças Aliadas que libertaram a cidade no final da Segunda Guerra Mundial, aos que morreram tentando escapar pelo muro e aos herois da força aérea de Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Parques e jardins
Há mais de 2.500 parques em Berlim, mas o "New York Times" nomeou, recentemente, o pequeno "Prinzessinnengarten" como um dos mais belos espaços verdes da cidade. Esse antigo terreno baldio no bairro de Kreuzberg foi transformado em um jardim orgânico, em que mais de 500 tipos de vegetais são cultivados por centenas de voluntários locais.
Foto: picture-alliance/dpa
Vida noturna
A vida noturna de Berlim, conhecida como uma das mais excitantes do mundo, oferece diversão para todos os gostos, do indie rock ao hip hop e house. Alguns dos melhores DJs do mundo tocam em clubes como Berghain e Watergate. Muitas pessoas vão a Berlim só para isso — elas chegam à cidade na sexta-feira à noite e passam o fim de semana inteiro na balada antes de voltarem para casa.
Foto: picture-alliance/schroewig
Capital canina
Cerca de 100 mil cães vivem na cidade, fazendo de Berlim a capital canina da Alemanha. Mas quando os berlinenses dizem que "ladram, mas não mordem", eles estão se referindo a eles próprios. Os moradores são conhecidos por não serem muito simpáticos: "Berliner Schnauze", o termo em alemão para focinho, é usado para caracterizar a rispidez no trato considerada típica do berlinense.