Padaria em Kreuzberg se torna símbolo do combate ao processo de valorização de espaços urbanos na capital alemã. Investidor resolve expulsar estabelecimento que não combinaria mais com o bairro e desencadeia protestos.
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Uma inesperada notícia pegou de surpresa os moradores do bairro de Kreuzberg. Depois de 20 anos, a tradicional padaria Filou teria que fechar suas portas no meio deste ano. A decisão não partiu de seus proprietários, mas do dono do imóvel onde o estabelecimento se encontra: um resultado da especulação imobiliária e da gentrificação do bairro.
Há alguns anos, o imóvel foi adquirido pelo investidor britânico Charles Skinner, considerado por muitos a figura mais odiada em Berlim no momento. Depois de idas e vindas devido a um aumento no aluguel, o investidor cancelou o contrato com os donos da padaria.
Skinner alega diferença entre ele e os proprietários, chegando a dizer que cancelou o contrato porque os produtos vendidos na padaria eram muito ruins para seu gosto. A Filou, para ele, não combinaria mais com o bairro. É uma padaria simples, bem diferente do restaurante chique que o investidor abriu ao lado.
A expulsão de Filou causou protestos. Uma passeata em Kreuzberg para defender estabelecimentos comerciais ameaçados pela gentrificação reuniu 2 mil pessoas no fim de fevereiro, e protestos passaram a ocorrer quase todo fim de semana. Diversos moradores da região penduraram faixas nas quais pediam para a que Filou continuasse onde está.
Mas o caso da Filou não é uma exceção na cidade. Além de estabelecimento comerciais, inquilinos de regiões que passam por processos de gentrificação sofrem com esta constante ameaça, e aqueles que resolvem ficar precisam se preparar para batalhas judiciais e retaliação dos donos de imóveis.
Nos últimos anos, Berlim se tornou um paraíso para investidores imobiliários que compram barato pensando em lucrar muito com pesados aluguéis, devido ao crescimento da cidade e à alta procura por residências.
Para inquilinos, há uma regulamentação que ajuda um pouco a controlar o aumento dos aluguéis, como a tabela oficial que estabelece o valor máximo em determinada região. Mas isso não está sendo suficiente. O novo governo da capital pretende criar barreiras para frear os preços. Até lá, os inquilinos contam apenas com o apoio de vizinhos.
No caso da Filou, esse apoio foi fundamental e encheu de esperança outros estabelecimentos comerciais na mesma situação. A pressão dos protestos foi tanta que, na semana passada, o dono do imóvel voltou atrás e anunciou que a padaria poderá continuar onde está, pelo menos nos próximos três anos, e sem aumento do aluguel.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Panes inacreditáveis nas obras do aeroporto de Berlim
Desde o início das obras, há dez anos, erros de projeto e falhas de execução vêm atrasando a abertura do BER, na capital alemã. Veja os principais desastres.
Foto: picture-alliance/dpa
Cinco anos de atraso... até agora
A inauguração do novo aeroporto de Berlim estava inicialmente prevista para 30 de outubro de 2011. A meta não se concretizou quando uma das empreiteiras faliu. A abertura foi adiada quatro vezes, seja por o sistema anti-incêndios não funcionar ou o telhado ameaçar ruir. Milhares de falhas atrasaram a tão esperada construção do BER. Agora, a inauguração está prevista para o final de 2017.
Foto: picture alliance/dpa
Perigo de incêndio
O maior problema do novo aeroporto é o sistema anti-incêndio. As leis de segurança alemãs são rígidas, mas o excesso de burocracia também não explica as deficiências na obra. O sistema de ventilação, por exemplo, não funcionava corretamente de início por um erro dos arquitetos, que queriam canalizar a fumaça por debaixo do saguão do aeroporto. Corrigir esse equívoco foi complicado e custoso.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Espaguete de cabos
Outro problema da segurança é a grande quantidade de cabos superpostos. Na ampliação dos terminais, as firmas foram simplesmente colocando mais e mais fios nas linhas, até elas ficarem superlotadas. O acúmulo de calor resultante é perigoso, podendo causar incêndios. Como mais tarde se constatou, grande parte dos cabos foi colocada de forma aleatória, sem planejamento nem consulta prévia.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Escadas curtas demais
Como quem viaja por um aeroporto internacional geralmente carrega malas pesadas, sistemas de transporte são uma necessidade absoluta. No BER, as escadas rolantes entre o terminal de embarque e a estação ferroviária subterrânea ficaram alguns degraus curtas demais. Também as esteiras de bagagem eram insuficientes – em número e extensão.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Mais de mil árvores erradas
Também na arborização houve panes: 1.036 tílias de um tipo diferente do previsto foram plantadas. Segundo a mídia, os jardineiros haviam feito a encomenda errada: em vez da espécie alemã mais selvagem, uma holandesa, cultivada. Acabaram sendo removidas 600 árvores. Enquanto isso, as ervas daninhas aproveitam os atrasos para ir se alastrando.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Zinken
Indicações para confundir
Quase um terço das 4 mil salas trazia indicações erradas: até as portas tinham números incorretos. Por quê? Falhas de comunicação: havia modificações constantes no projeto, sem o devido acompanhamento e catalogação. Também aqui, potencial para catástrofes, já que a identificação correta das portas é imprescindível para o trabalho de bombeiros, policiais e equipes médicas.
Foto: Adam Berry/Getty Images
Explosão de gastos
Oficialmente, a previsão de gastos do início ao fim da obra já aumentou de 2 bilhões para 5,4 bilhões de euros. O aeroporto terá o nome do ex-chanceler federal e ex-prefeito de Berlim Willy Brandt. Ele está sendo construído no local do aeroporto Schönenfeld, no sudeste da cidade, na antiga Alemanha Oriental, assumindo também as operações do Tegel e do Tempelhof, já fechado.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Corrupção também
O ex-diretor técnico do aeroporto foi condenado por ter recebido 500 mil euros em propinas. Além disso, descobriu-se que quem assinou o plano de segurança nem era engenheiro, apenas desenhista técnico. Segundo os críticos, esse tipo de envolvimento de pessoal não qualificado é a principal causa dos fiascos no futuro aeroporto internacional de Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Cadê os responsáveis?
Em três anos, quatro responsáveis pelas obras largaram o posto. Foi o caso de Hartmut Mehdorn (esq.), também ex-chefe da companhia ferroviária Deutsche Bahn. Uma comissão de inquérito, encarregada de investigar causas, consequências e responsabilidades do aumento de custos e atrasos nas obras do BER, chegou à conclusão de que houve uma "perda coletiva de noção da realidade".