Irmela Mensah-Schramm, de 71 anos, foi parar nas páginas policiais de jornais alemães. Multada após pichar para mudar slogan de ódio, aposentada tem spray como arma contra neonazismo e xenofobia.
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A história da aposentada Irmela Mensah-Schramm, de 71 anos, ganhou o noticiário da Alemanha, mais precisamente os cadernos policiais. Após esperar quase três meses para que uma pichação que promovia o ódio fosse removida, Irmela cansou e resolveu agir por conta própria: pegou sua tinta spray e foi transformar o "Merkel muss weg" (Fora Merkel) – slogan do movimento Pegida e de partidários da legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha – pichado num muro de Berlim em "Merke! Hass weg!" (Lembre-se! Fora ódio!).
No meio da ação de transformação, Irmela foi pega no flagra por um policial e, agora, ela enfrenta um processo na Justiça. "O que está por trás deste lema é o ódio contra refugiados primeiramente e, somente depois, vem a Merkel. Por isso, resolvi transformar a frase pichada num slogan para a reflexão", explicou-me a simpática pedagoga.
Apesar da boa intenção, a ativista sofreu uma derrota na primeira batalha judicial e foi condenada a pagar uma multa de 1,8 mil euros. "A Promotoria alegou que não vê perspectiva de melhora no meu caso", disse, achando graça do argumento. E Irmela não pretende mesmo deixar de apagar ou transformar pichações que promovem o ódio.
A ativista não se deu por vencida e recorreu da decisão. Sua defesa pede que ela seja declarada inocente. Irmela argumenta que o crime foi cometido pela pessoa que pichou o slogan, ela estava apenas cumprindo seu papel de cidadã ao removê-lo. Há mais de 30 anos, a aposentada dedica sua vida a limpar a cidade de adesivos e pichações xenófobas e neonazistas.
Esta missão começou por acaso. Depois de ver um adesivo neonazista colado próximo a sua casa, Irmela não teve dúvida de que aquele pedaço de papel remetendo a um passado monstruoso não poderia ficar ali. A limpeza a encheu de satisfação. Desde então, a aposentada se dedica a apagar mensagens deste tipo em várias partes da Alemanha e países da Europa.
O uso do spray para transformar pichações é recente. Irmela contou-me que a ferramenta é prática de se carregar na bolsa e bastante útil para slogans que não são fáceis de serem limpos.
Por seu engajamento, ela ganhou prêmios, mas, após o julgamento, ela devolveu dois que recebeu da cidade de Berlim, onde mora há 48 anos. "Os prêmios foram um reconhecimento pelo meu trabalho voluntário. A condenação, porém, transformou esse trabalho voluntário em crime", afirmou, ressentida.
Após o incidente em Berlim, Irmela foi pega novamente pela polícia pacificando pichações neonazistas no estado da Saxônia, onde agora enfrenta uma investigação.
"Não alcançaremos nada, se não fizermos nada. E se você não fizer nada, quem vai fazer?", disse em resposta a minha pergunta sobre o que a levou a iniciar essa jornada de limpeza de frases carregadas de preconceito que surgem do dia para noite em muros ou postes das cidades.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Dez razões para amar Berlim
A capital alemã é muitas coisas: sede do governo, metrópole cultural, centro de vida noturna. Mas, acima de tudo, ela é eletrizante, uma cidade em constante mutação. Talvez, por isso, os turistas gostem tanto dela.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Vista do alto
A torre "Fernsehturm", com seus 368 metros de alturam é a estrutura mais alta da Alemanha. Em um dia claro, a plataforma de observação oferece visibilidade de até 40 quilômetros. Acima da plataforma, fica o restaurante giratório, que realiza uma rotação a cada 30 minutos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Um lugar feliz
Em 1989, quando o Muro de Berlim caiu, artistas de todo o mundo pintaram sobre a barricada de concreto cinza. A East Side Gallery é até hoje a mais longa galeria ao ar livre do mundo. A arte criada espontaneamente ainda reflete a alegria que se espalhou por toda a Berlim com a queda do Muro.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Museus e galerias
Rodeada pelo rio Spree, a Ilha dos Museus foi nomeada Patrimônio Mundial pela Unesco em 1999. Lá, é possível admirar tesouros artístico de todo o mundo, como um busto da rainha egípcia Nefertiti e o Altar de Pérgamo, construído entre 160 e 180 a.C. em homenagem a Zeus, o reio do Olimpo. Berlim tem ainda outros 175 museus e cerca de 300 galerias de arte.
Foto: Fotolia/fhmedien_de
Diversidade cultural
Cosmopolita, ricamente colorida e com um entusiasmo pela vida — assim Berlim apresenta-se durante o festival Carnaval das Culturas. Cerca de 180 nacionalidades chamam a cidade de casa. E todo o mês de maio eles — recém-chegados e berlinenses estabelecidos — celebram o que é, provavelmente, a melhor festa de rua da cidade.
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Em constante mutação
Desde a Reunificação, em 1990, os guindastes não param: a Potsdamer Platz foi reconstruída, o Reichstag (prédio do Parlamento alemão) ganhou uma cúpula e o quarteirão do governo foi construído. O Palácio de Berlim, que deverá ser concluído em 2019, está lentamente tomando forma. Ninguém sabe ainda, porém, se o novo - e muito atrasado - aeroporto de Schönefeld estará aberto até lá.
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Tapete vermelho
Em fevereiro, Berlim estende o tapete vermelho para receber estrelas do cinema. Desde 1951, o Festival Internacional de Cinema de Berlim, conhecido como Berlinale, é um dos principais do mundo. Estrelas do cinema amam a cidade, mesmo em outras épocas do ano, como Arnold Schwarzenegger e Emilia Clarke, que estiveram na capital para a estreia do mais recente "Exterminador do Futuro".
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Memória preservada
O Memorial do Holocausto, composto por 2.711 placas de concreto para lembrar os seis milhões de judeus europeus mortos pela Alemanha nazista, é o memorial mais visitado de Berlim. Outros monumentos incluem os dedicados às Forças Aliadas que libertaram a cidade no final da Segunda Guerra Mundial, aos que morreram tentando escapar pelo muro e aos herois da força aérea de Berlim.
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Parques e jardins
Há mais de 2.500 parques em Berlim, mas o "New York Times" nomeou, recentemente, o pequeno "Prinzessinnengarten" como um dos mais belos espaços verdes da cidade. Esse antigo terreno baldio no bairro de Kreuzberg foi transformado em um jardim orgânico, em que mais de 500 tipos de vegetais são cultivados por centenas de voluntários locais.
Foto: picture-alliance/dpa
Vida noturna
A vida noturna de Berlim, conhecida como uma das mais excitantes do mundo, oferece diversão para todos os gostos, do indie rock ao hip hop e house. Alguns dos melhores DJs do mundo tocam em clubes como Berghain e Watergate. Muitas pessoas vão a Berlim só para isso — elas chegam à cidade na sexta-feira à noite e passam o fim de semana inteiro na balada antes de voltarem para casa.
Foto: picture-alliance/schroewig
Capital canina
Cerca de 100 mil cães vivem na cidade, fazendo de Berlim a capital canina da Alemanha. Mas quando os berlinenses dizem que "ladram, mas não mordem", eles estão se referindo a eles próprios. Os moradores são conhecidos por não serem muito simpáticos: "Berliner Schnauze", o termo em alemão para focinho, é usado para caracterizar a rispidez no trato considerada típica do berlinense.