Suábios oferecem milhões para reconstrução do Palácio de Berlim, mas condição para doação foi considerada uma afronta pelos berlinenses. Antiga rivalidade resulta em perdas para ambos os lados.
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Berlim, a cidade que se orgulha por seu multiculturalismo, costuma receber seus novos habitantes de braços abertos. Mas, como para toda regra, neste caso há também uma exceção. A hospitalidade é completamente esquecida se o novo morador vier da região da Suábia, que abrange boa parte do estado alemão de Baden-Württemberg, no sul do país.
A rivalidade entre berlinenses e suábios, principalmente os de Stuttgart, pode ser comparada à existente entre Brasil e Argentina. Em Berlim, o conflito ganhou até um nome: Schwabenhass, ou ódio aos suábios.
Os berlinenses costumavam acusar os suábios, que têm fama de caretas, de estarem acabando com o bairro Prenzlauer Berg, onde muitos que se mudaram para a capital resolveram morar. O conflito ganhou notoriedade em 2012, após um antigo parlamentar reclamar que o pão francês estava sendo vendido neste bairro como Wecken, nome suábio, e não mais como o berlinense Schrippen. Além da polêmica do pão, pichações apareceram no bairro mandando os suábios embora.
Recentemente, essa rivalidade atingiu um novo patamar: no centro da capital, está sendo reconstruído o antigo Palácio de Berlim. Além de recursos federais, a obra seria paga com doações.
Empresários de Baden-Württemberg tiveram a ideia de doar 5 milhões de euros, mas, em contrapartida, pediram que uma das salas do palácio recebesse o nome do estado. Seria como se os argentinos oferecessem esse dinheiro para financiar um museu no Brasil e pedissem que uma das salas fosse chamada de Maradona.
Os brasileiros provavelmente aceitariam a proposta, afinal, dinheiro é dinheiro, porém, virariam o jogo e tirariam sarro dos argentinos, dizendo que eles precisam pagar para que o ídolo deles receba homenagens, diferente do Pelé.
Mas, como os alemães não têm essa habilidade de rir da própria desgraça, a fundação responsável pela obra, mesmo precisando da doação, recusou o dinheiro e disse que só aceitaria se não precisasse homenagear Baden-Württemberg. O governo federal tentou mediar o conflito e fez uma contraproposta aos empresários: chamar uma das salas de Friedrich Schiller, um dos suábios mais famosos. Os doadores, porém, não estavam dispostos a fazer concessões.
E como ninguém estava disposto a ceder, os suábios, que têm fama de pão-duro na Alemanha, puderem economizar esse dinheiro, mas acabaram sem homenagens, e os berlinenses ficaram sem uma importante contribuição.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Obras avançam no Palácio de Berlim
Dois anos após lançamento da pedra fundamental, trabalhos andam a pleno vapor no canteiro de obras do Palácio do Berlim. Antiga residência dos reis prussianos vai se tornar mais novo centro cultural da capital alemã.
Foto: picture alliance/Daniel Kalker
Por volta de 1900
A pedra fundamental do antigo palácio foi lançada em 1443, mas a residência real só começou a tomar forma em 1701. O projeto das fachadas é do arquiteto Andreas Schlüter. Com 1.210 aposentos, o Palácio de Berlim era conhecido como o maior prédio barroco ao norte dos Alpes.
Foto: ullstein bild
Danos de guerra
Durante a Segunda Guerra Mundial, o edifício pegou fogo durante um ataque aéreo. O incêndio destruiu praticamente todos os aposentos da ala norte e sul. Outras partes do prédio ficaram de pé, incluindo as fachadas com as esculturas decorativas, as paredes estruturais e as principais escadarias.
Foto: picture-alliance/dpa
Negligência e demolição
Nos anos do pós-Guerra, exposições foram realizadas nos espaços poupados pelo fogo. No entanto, em 1950, o governo da antiga Alemanha comunista decidiu que o prédio não fazia parte do patrimônio cultural alemão e ordenou a sua destruição, apesar dos muitos protestos. Em seu lugar foi criado o Largo Marx e Engels, como local para grandes manifestações.
Foto: picture-alliance/dpa
Interação socialista
Na década de 1970, durante o governo de Erich Honecker, foi construído no local o Palácio da República. O edifício se tornou a sede parlamentar da antiga Alemanha Oriental, mas também foi usado para fins culturais e para abrigar inúmeros bares e restaurantes. Depois da queda do Muro de Berlim, o prédio foi fechado devido à presença de amianto, sendo demolido mais tarde.
Foto: picture alliance/ZB
Enganosamente verdadeiro
Após a Reunificação surgiu um debate acalorado sobre a possível reconstrução do Palácio de Berlim. Em 1993, um grupo a favor da reconstrução acertou em cheio ao erguer uma maquete de lona em escala real com imagens das fachadas barrocas. Em 2002, o Parlamento alemão votou a favor da reconstrução do Palácio de Berlim.
Foto: picture-alliance/ZB/B. Settnik
Réplica em tamanho natural
Em 2008, o projeto do italiano Franco Stella ganhou o concurso de arquitetura para a reconstrução do palácio. Seu projeto combina o exterior barroco com um interior moderno. O Palácio de Berlim reconstruído deverá abrigar um centro cultural e artístico internacional conhecido como Fórum Humboldt.
Foto: picture-alliance/Xamax
Um olhar sobre o canteiro de obras
O espaço Humboldt Box tornou-se um marco temporário da capital alemã. Desde 2011, ele serve como centro de informações sobre o passado e o futuro do Palácio de Berlim. Nos primeiros 50 dias, o espaço atraiu 100 mil pessoas. De uma plataforma de observação, os turistas também podem desfrutar uma visão panorâmica sobre o canteiro de obras.
Foto: picture-alliance/D. Kalker
Construção em andamento
Em 12 de junho de 2013, o presidente alemão, Joachim Gauck, lançou a pedra fundamental. Nela estão gravadas duas datas: 1443 e 2013. A primeira corresponde ao lançamento da primeira pedra fundamental, e a segunda indica o ano do início da reconstrução do palácio.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Ornamentos antigos em paredes novas
Enquanto as paredes estão sendo elevadas, os ornamentos das fachadas barrocas são confeccionados no canteiro de obras. Usando modelos históricos, escultores recriam 3 mil peças do antigo palácio. As fachadas do prédio deverão custar 80 milhões de euros, provenientes em grande parte de doações. O custo total da obra está orçado em 590 milhões de euros, financiados pelo Estado, em sua maioria.
Foto: picture-alliance/ZB/A. Burgi
Grandes expectativas
Atualmente, o cinza do concreto aparente ainda domina a visão do canteiro, mas isso vai mudar com a abertura do Fórum Humboldt, em 2019. No local, os museus berlinenses vão expor os seus tesouros não europeus, enquanto a Universidade Humboldt realizará conferências internacionais. O pátio do palácio vai servir de palco para espetáculos de teatro e música.