Suábios oferecem milhões para reconstrução do Palácio de Berlim, mas condição para doação foi considerada uma afronta pelos berlinenses. Antiga rivalidade resulta em perdas para ambos os lados.
Fundação precisa de doações para cobrir parte de custos da obra no Palácio de BerlimFoto: picture-alliance/dpa/D.Kalker
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Berlim, a cidade que se orgulha por seu multiculturalismo, costuma receber seus novos habitantes de braços abertos. Mas, como para toda regra, neste caso há também uma exceção. A hospitalidade é completamente esquecida se o novo morador vier da região da Suábia, que abrange boa parte do estado alemão de Baden-Württemberg, no sul do país.
A rivalidade entre berlinenses e suábios, principalmente os de Stuttgart, pode ser comparada à existente entre Brasil e Argentina. Em Berlim, o conflito ganhou até um nome: Schwabenhass, ou ódio aos suábios.
Os berlinenses costumavam acusar os suábios, que têm fama de caretas, de estarem acabando com o bairro Prenzlauer Berg, onde muitos que se mudaram para a capital resolveram morar. O conflito ganhou notoriedade em 2012, após um antigo parlamentar reclamar que o pão francês estava sendo vendido neste bairro como Wecken, nome suábio, e não mais como o berlinense Schrippen. Além da polêmica do pão, pichações apareceram no bairro mandando os suábios embora.
Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer
Recentemente, essa rivalidade atingiu um novo patamar: no centro da capital, está sendo reconstruído o antigo Palácio de Berlim. Além de recursos federais, a obra seria paga com doações.
Empresários de Baden-Württemberg tiveram a ideia de doar 5 milhões de euros, mas, em contrapartida, pediram que uma das salas do palácio recebesse o nome do estado. Seria como se os argentinos oferecessem esse dinheiro para financiar um museu no Brasil e pedissem que uma das salas fosse chamada de Maradona.
Os brasileiros provavelmente aceitariam a proposta, afinal, dinheiro é dinheiro, porém, virariam o jogo e tirariam sarro dos argentinos, dizendo que eles precisam pagar para que o ídolo deles receba homenagens, diferente do Pelé.
Mas, como os alemães não têm essa habilidade de rir da própria desgraça, a fundação responsável pela obra, mesmo precisando da doação, recusou o dinheiro e disse que só aceitaria se não precisasse homenagear Baden-Württemberg. O governo federal tentou mediar o conflito e fez uma contraproposta aos empresários: chamar uma das salas de Friedrich Schiller, um dos suábios mais famosos. Os doadores, porém, não estavam dispostos a fazer concessões.
E como ninguém estava disposto a ceder, os suábios, que têm fama de pão-duro na Alemanha, puderem economizar esse dinheiro, mas acabaram sem homenagens, e os berlinenses ficaram sem uma importante contribuição.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Obras avançam no Palácio de Berlim
Dois anos após lançamento da pedra fundamental, trabalhos andam a pleno vapor no canteiro de obras do Palácio do Berlim. Antiga residência dos reis prussianos vai se tornar mais novo centro cultural da capital alemã.
Foto: picture alliance/Daniel Kalker
Por volta de 1900
A pedra fundamental do antigo palácio foi lançada em 1443, mas a residência real só começou a tomar forma em 1701. O projeto das fachadas é do arquiteto Andreas Schlüter. Com 1.210 aposentos, o Palácio de Berlim era conhecido como o maior prédio barroco ao norte dos Alpes.
Foto: ullstein bild
Danos de guerra
Durante a Segunda Guerra Mundial, o edifício pegou fogo durante um ataque aéreo. O incêndio destruiu praticamente todos os aposentos da ala norte e sul. Outras partes do prédio ficaram de pé, incluindo as fachadas com as esculturas decorativas, as paredes estruturais e as principais escadarias.
Foto: picture-alliance/dpa
Negligência e demolição
Nos anos do pós-Guerra, exposições foram realizadas nos espaços poupados pelo fogo. No entanto, em 1950, o governo da antiga Alemanha comunista decidiu que o prédio não fazia parte do patrimônio cultural alemão e ordenou a sua destruição, apesar dos muitos protestos. Em seu lugar foi criado o Largo Marx e Engels, como local para grandes manifestações.
Foto: picture-alliance/dpa
Interação socialista
Na década de 1970, durante o governo de Erich Honecker, foi construído no local o Palácio da República. O edifício se tornou a sede parlamentar da antiga Alemanha Oriental, mas também foi usado para fins culturais e para abrigar inúmeros bares e restaurantes. Depois da queda do Muro de Berlim, o prédio foi fechado devido à presença de amianto, sendo demolido mais tarde.
Foto: picture alliance/ZB
Enganosamente verdadeiro
Após a Reunificação surgiu um debate acalorado sobre a possível reconstrução do Palácio de Berlim. Em 1993, um grupo a favor da reconstrução acertou em cheio ao erguer uma maquete de lona em escala real com imagens das fachadas barrocas. Em 2002, o Parlamento alemão votou a favor da reconstrução do Palácio de Berlim.
Foto: picture-alliance/ZB/B. Settnik
Réplica em tamanho natural
Em 2008, o projeto do italiano Franco Stella ganhou o concurso de arquitetura para a reconstrução do palácio. Seu projeto combina o exterior barroco com um interior moderno. O Palácio de Berlim reconstruído deverá abrigar um centro cultural e artístico internacional conhecido como Fórum Humboldt.
Foto: picture-alliance/Xamax
Um olhar sobre o canteiro de obras
O espaço Humboldt Box tornou-se um marco temporário da capital alemã. Desde 2011, ele serve como centro de informações sobre o passado e o futuro do Palácio de Berlim. Nos primeiros 50 dias, o espaço atraiu 100 mil pessoas. De uma plataforma de observação, os turistas também podem desfrutar uma visão panorâmica sobre o canteiro de obras.
Foto: picture-alliance/D. Kalker
Construção em andamento
Em 12 de junho de 2013, o presidente alemão, Joachim Gauck, lançou a pedra fundamental. Nela estão gravadas duas datas: 1443 e 2013. A primeira corresponde ao lançamento da primeira pedra fundamental, e a segunda indica o ano do início da reconstrução do palácio.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Ornamentos antigos em paredes novas
Enquanto as paredes estão sendo elevadas, os ornamentos das fachadas barrocas são confeccionados no canteiro de obras. Usando modelos históricos, escultores recriam 3 mil peças do antigo palácio. As fachadas do prédio deverão custar 80 milhões de euros, provenientes em grande parte de doações. O custo total da obra está orçado em 590 milhões de euros, financiados pelo Estado, em sua maioria.
Foto: picture-alliance/ZB/A. Burgi
Grandes expectativas
Atualmente, o cinza do concreto aparente ainda domina a visão do canteiro, mas isso vai mudar com a abertura do Fórum Humboldt, em 2019. No local, os museus berlinenses vão expor os seus tesouros não europeus, enquanto a Universidade Humboldt realizará conferências internacionais. O pátio do palácio vai servir de palco para espetáculos de teatro e música.