A chegada das cegonhas no início da primavera costuma ser um motivo de celebração. Não num pequeno vilarejo ao norte da capital alemã, onde uma ave em fúria promove ataques a tetos de carros, janelas de vidro e portas.
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Pelo segundo ano consecutivo, um visitante tem tirado a paciência dos moradores de um pequeno vilarejo ao norte de Berlim. Ronny, que ficou conhecido como a cegonha-problema, parece ter gostado tanto da primeira temporada em Glambeck, que resolveu voltar neste ano – para certa tristeza dos moradores.
A chegada das cegonhas no início da primavera costuma ser um motivo de celebração. Essas aves migratórias estão associadas à felicidade, e o momento de seu retorno para a Europa marcaria o fim do inverno. Até setembro, a espécie dá um toque especial à paisagem europeia. No estado de Brandemburgo, elas ocupam ninhos construídos em cima de casas ou plataformas instaladas para esta finalidade.
Monogâmicas, as cegonhas, depois de uma temporada na África, costumam retornar todos os anos para a mesma região e ocupar o mesmo ninho. Apesar deste hábito, os moradores de Glambeck tinham a esperança de que Ronny não tivesse gostado do vilarejo e escolhesse outro local para aterrorizar neste ano.
Mas esse desejo não foi realizado: mal começou a temporada das cegonhas, Ronny já botou as manguinhas de fora e voltou a tocar o terror na região. "Não mudou nada", chegou a constatar desiludida uma política local à revista Der Spiegel.
Ronny ficou conhecido como a cegonha-problema, depois de promover uma série de ataques a tetos de carros e vidros de janelas e portas. Durante quatro meses em 2016, ele bicava com fúria essas superfícies, causando grandes estragos. Especialistas acreditam que a violência do animal tenha origem num comportamento de cortejo sexual exagerado.
Dizem que Ronny odeia a concorrência e, por isso, tentou expulsar todas as cegonhas machos do vilarejo. O problema é que, ao ver sua imagem refletida em tetos de carros e vidros, Ronny não percebe se tratar dele mesmo e parte ferozmente para o ataque.
Com seu comportamento, Ronny teria conseguido expulsar um concorrente da vila. Apesar do sucesso, ele não assumiu o papel do antigo parceiro da relação que destruiu, e a cegonha viúva teve que criar sozinha os filhos. Já Ronny continuou tentado destruir outros lares.
Pegos de surpresa no início da primavera de 2016, os moradores de Glambeck aprenderam a se defender dos ataques da cegonha e começaram a evitar deixar carros estacionados fora de garagens e a proteger vidros de janelas e portas.
Depois de quatro meses de vandalismo, os moradores comemoraram quando Ronny foi embora em setembro e torciam para que ele nunca mais voltasse. Porém, ele voltou com tudo neste ano e mostrou que não aprendeu nada nos últimos meses. Tudo indica que o martírio dos habitantes do vilarejo será longo. Como a espécie é protegida, Glambeck terá que se acostumar com a cegonha-problema: Ronny tem apenas cerca de 6 anos, e esse tipo de ave pode viver mais de 30.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Dez animais selvagens que acharam em Berlim seu habitat
Capital alemã pode parecer só concreto, mas a vida selvagem é mais diversificada do que parece. Não só raposas, javalis e coelhos circulam pelas pelas ruas, como também é a cidade da Alemanha com o maior número de aves.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Carstensen
Raposas
Se de repente você der de cara com uma raposa depois de uma noitada em Berlim, não se preocupe – você não está tendo alucinações. A capital alemã virou habitat para as raposas, diz a especialista em animais selvagens Katrin Koch.
Foto: Reuters/F. Bensch
Guaxinins
Não só raposas podem cruzar seu caminho em Berlim. Guaxinins estão por toda parte. Eles gostam de subir nas casas e brincar em jardins e parques, e podem até ser encontrados em ruas movimentadas. Guaxinins vivem em cavernas. E mesmo numa cidade como Berlim eles encontram mais alternativas a cavernas na cidade do que no campo, seja em telhados, chaminés ou árvores ocas.
Foto: NABU Berlin
Javali
Como se raposas selvagens e guaxinins no meio de Berlim já não fossem assustadores, você ainda tem que cuidar dos porcos selvagens. Em geral, eles vivem na periferia da cidade, mas ultimamente estão vindo com mais frequência em direção ao centro, afirma Katrin Koch. A boa notícia é que eles nunca atacaram ninguém, e realmente não representam uma ameaça.
Foto: picture-alliance/dpa
Castores
Embora castores não sejam nativos de Berlim, nos últimos dez anos eles foram se instalando pouco a pouco na cidade. A espécie é protegida, e eles não podem ser caçados. Agora, os rios Havel e Spree estão praticamente tomados por castores. Por isso, todo cuidado é pouco durante mergulhos nas águas da capital alemã.
Foto: picture alliance/Arco Images GmbH
Morcegos
Gotham City pode ser a cidade do Batman, mas, no mundo real, Berlim é a cidade dos morcegos. Um de seus locais favoritos é a fortaleza renascentista no bairro Spandau, onde vivem aos milhares. Mas eles também podem ser vistos voando pelo centro da cidade, e usando os prédios como se fossem falésias.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thomas
Coelhos
Como em outras grandes cidades alemãs, os coelhos adoram os parques verdes de Berlim. Na capital, eles frequentam muito o parque Kleistpark. Certa vez encontrei uma raposa cercada por uma família de coelhos no meio de Berlim. Cheguei a pensar que estava numa cena de "Alice no país das maravilhas".
Foto: NABU/Jens Scharon
Águias
A maior sensação entre os animais selvagens em Berlim é a águia-rabalva, que tem uma cauda branca. Segundo Katrin Koch, depois de quase cem anos, o primeiro exemplar foi visto em Berlim em 2002. É a maior ave de rapina da cidade. Então, da próxima vez que você observar um grande pássaro marrom com uma grande envergadura e um bico amarelo afiado fazendo rondas sobre Berlim, tire uma foto...
Foto: picture-alliance/dpa
Falcões
O falcão mais famoso em Berlim é o francelho. Eles adoram voar sobre nossas cabeças e pousar em buracos nas paredes e janelas. Os falcões são animais protegidos pela ONG Nabu, que instalou caixas para ninhos em escolas, igrejas e prédios industriais.
Foto: Imago/McPhoto/blickwinkel
Pardais
Berlim é a cidade alemã com o maior número de aves, sejam pássaros, aves de rapina ou grandes gaivotas. Um dos mais graciosos é o pardal, que come de sua mão. Enquanto a população de pardais em outras cidades alemãs, como Hamburgo, está diminuindo, na capital alemã ela cresce. Cuidado para não mergulharem com o bico em sua comida quando você não estiver prestando atenção!
Foto: NABU/Nikolai Kraneis
Corujas da noite
Um "animal selvagem" berlinense bem original é a coruja da noite ou animal de festas. Seu habitat são os bairros Neukölln, Friedrichshain e Kreuzberg. Eles podem ser identificados por seus corpos cobertos de brilho, por beberem Club-Mate, uma bebida de mate com cafeína, e a atração por música eletrônica. Nas primeiras horas da manhã, eles podem ser encontrados dormindo em trens pela cidade.