Furto de moeda de ouro de um museu ainda intriga a polícia berlinense. Caso não é o único digno de cinema já ocorrido numa cidade onde os ladrões costumam ser ousados, como relata Clarissa Neher na coluna desta semana.
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Sempre tive a impressão de que os museus em Berlim são verdadeiras fortalezas para proteger os tesouros que abrigam, equipados com as tecnologias de segurança mais recentes – impossível entrar neles sem ser percebido ou disparar alarmes que atraem toda a polícia da cidade.
Mas um roubo digno de cinema mostrou que a realidade não é tão moderna assim. Duas semanas já se passaram, e a polícia continua longe de resolver o mistério sobre o furto da moeda de ouro de 100 quilos do museu Bode. A peça é avaliada em 3,7 milhões de euros.
O mais notável é a simplicidade da ação: os ladrões entraram por uma janela, usando uma escada colocada nos trilhos do trem que passam ao lado do edifício, caminharam até a sala, quebraram o vidro de proteção e saíram pelo mesmo lugar que entraram, fazendo rapel, sem chamar a atenção de nenhum segurança ou disparar qualquer alarme. O roubo só foi percebido meia hora depois pelos seguranças, quando os ladrões certamente já estavam bem longe.
Esse furto espetacular não é o único que renderia um filme. Ladrões ousados são mais comuns do que se pensa em Berlim, e vários crimes parecidos jamais foram solucionados pelas autoridades, como o emblemático saque aos cofres de um banco no bairro Steglitz.
O "roubo do túnel", como ficou conhecido o episódio, é um dos casos mais espetaculares da história criminal da Berlim. Durante meses, os ladrões cavaram um túnel de 45 metros que ligava uma vaga numa garagem à sala do banco que abrigava os cofres alugados para clientes. Ninguém ouviu o barulho da obra ou desconfiou dos criminosos, que circulavam pela região usando uniformes da construção civil.
Em janeiro de 2013, os criminosos invadiram o local e roubaram cerca de 300 cofres, que guardavam dinheiro, ouro, prata e joias, dos 1.600 que havia no banco, e pareciam saber exatamente qual deles deveriam abrir. O valor estimado do roubo é de cerca de 10 milhões de euros. O alarme da sala chegou a disparar, um segurança foi até o banco, mas de fora tudo parecia normal. Como em outras ocasiões o alarme já havia disparado por causa de ratos, o segurança não foi até o porão para verificar os cofres.
No fim da ação, os ladrões tocaram fogo na sala e fugiram por onde entraram. Os investigadores acreditam que o planejamento do roubo levou anos e foi realizado por profissionais. Apesar de encontrar várias pistas ao longo da investigação, a polícia não conseguiu solucionar o mistério, e o caso foi arquivado em 2015. O episódio lembra muito o assalto ao Banco Central de Fortaleza, de 2005.
Além do roubo do túnel, outros crimes espetaculares ocorreram na capital alemã e permanecem sem solução, como o roubo de 30 obras de arte, incluindo gravuras de Picasso e Matisse, de uma galeria em Charlottenburg, em 2008, ou o de um quadro do pintor Lucian Freud, levado em plena luz do dia por um visitante da Galeria Nacional em 1988, que pegou a peça e a escondeu sob o casaco para sair do museu.
Mas nem todo crime desse porte permanece sem castigo. A polícia solucionou alguns deles, como o furto de nove quadros do museu Brücke, em 2002. Um mês depois do roubo, as peças foram encontradas, ainda em Berlim, e os assaltantes, presos. Ou o assalto ao torneio de pôquer que ocorria no hotel de luxo Grand Hyatt, em 2010. Os criminosos invadiram o local e levaram o dinheiro da compra de fichas, mais de 200 mil euros. Algumas semanas depois, os quatro foram detidos.
Em ambos os "bons exemplos", os crimes foram solucionados em poucas semanas. No caso do roubo da moeda Big Maple Leaf, esse prazo está acabando e, ao que parece, os investigadores não têm a menor ideia de onde possam estar os ladrões.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Tesouros da Ilha dos Museus em Berlim
Numa ilha fluvial no centro da capital alemã, encontra-se um Patrimônio da Humanidade: a Ilha dos Museus. Seus cinco prédios abrigam uma das mais importantes coleções de arte do mundo. Conheça algumas peças de destaque.
A Ilha dos Museus no bairro berlinense de Mitte é um dos complexos de museus mais importantes do mundo. Um deles é o Novo Museu (Neues Museum). Ali se encontra uma das peças mais significativas da história mundial da arte: o busto da rainha egípcia Nefertiti. Ele foi confeccionado em pedra calcária e gesso em cerca de 1340 a.C., na chamada Era de Amarna durante o Novo Império, na 18ª Dinastia.
No Novo Museu se encontram hoje as coleções do Museu Egípcio, o qual antes da queda do Muro de Berlim se localizava no bairro de Charlottenburg. Além da Nefertiti, chama atenção esta estátua de culto do faraó Amenemés 3°, executada em granito no Médio Império, durante a 12ª Dinastia, em cerca de 1840-1800 a.C., em Mênfis.
O Altar de Pérgamo é outra grande atração da capital alemã. Construído na Ásia Menor (atual Turquia) no século 2° a.C., ele foi desmontado por arqueólogos alemães e levado para Berlim no final do século 19. O altar faz parte da Coleção de Antiguidades, abrigada no Museu de Pérgamo (Pergamonmuseum) na Ilha dos Museus.
Foto: SMB/DW/C. Albuquerque
Nicho com estalactites
No Museu de Pérgamo também se encontra a coleção do Museu de Arte Islâmica. Uma das peças do acervo é este nicho com estalactites (centro) de uma residência dos samaritanos, executado em Damasco, na Síria, durante o século 15-16. Ele foi feito em mármore, com incrustações coloridas e pintura.
Foto: SMB, Museum für Islamische Kunst; Foto: DW/C. Albuquerque
Estátua do Menino Rezando
Comprada em Paris por Frederico 2° em meados do século 18, esta estátua do "Menino rezando" adornava os jardins do palácio do rei prussiano em Potsdam, até ser levada para a Ilha dos Museus, em 1830. Executada em bronze, a peça foi fundida no fim do século 4° a.C. na ilha de Rodos. Ela também pertence à Coleção de Antiguidades, abrigada no Museu Antigo (Altes Museum).
Foto: SMB/Foto: DW/C. Albuquerque
Prato de Atena
Outro objeto da Coleção de Antiguidades abrigada no Museu Antigo da Ilha dos Museus é o "Prato de Atena do Tesouro de Hildesheim", executado no século 1° a.C. Este tesouro romano de peças de prata foi encontrado durante a preparação de um campo de prática de tiro para a Infantaria alemã, próximo à cidade de Hildesheim, em 1868.
Quem gosta de esculturas não deve deixar de visitar o Museu Bode (Bode-Museum). Ali se pode apreciar, por exemplo, o famoso "Fauno Barberini", executado em Roma por Vincenzo Pacetti, em 1799. Na parede, vê-se o ciclo de afrescos do Palazzo Volpato-Panigai, que Giovanni Domenico Tiepolo realizou em 1754.
Foto: SMB,Gemäldegalerie/Eigentum des KFMV; Foto: DW/C. Albuquerque
A Queda dos Anjos Rebeldes
Outra joia do Museu Bode é esta decoração de altar que se vê aqui em detalhe: "O juízo final" / "A queda dos anjos rebeldes". A peça foi feita em marfim, madeira e folha de cobre dourada, tendo sido executada em Nápoles, na primeira metade do século 18. A obra faz parte da Coleção de Esculturas.
Na Ilha dos Museus, a Antiga Galeria Nacional (Alte Nationalgalerie) abriga esculturas e pinturas do neoclassicismo e do romantismo, períodos que marcaram a imagem da Alemanha no mundo até hoje. Na foto, vê-se o quadro "O porto de Greifswald", pintado a óleo por Caspar David Friedrich, entre 1818-1820.
Foto: Staatliche Museen zu Berlin; Foto: DW/C. Albuquerque
Na Estufa, de Edouard Manet
Na Antiga Galeria Nacional, também estão importantes obras impressionistas, como também do início do modernismo. Uma das mais importantes é a pintura "Na estufa", um óleo sobre tela executado por Edouard Manet, em 1879. Em 1999, a Ilha dos Museus foi elevada a Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, como um conjunto cultural e construtivo único.
Foto: Staatliche Museen zu Berlin; Foto: DW/C. Albuquerque