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Checkpoint Berlim: Batalha de ciência para leigos

11 de novembro de 2016

Competições entre cientistas são eventos populares em Berlim. Clarissa Neher foi conferir a primeira sobre Antiguidade. Temas da noite incluíram de mortos-vivos na Idade Média à invenção da cerveja na Idade da Pedra.

Neues Museum em Berlim
Neues Museum em BerlimFoto: Getty Images

Sempre tive curiosidade de ir a um Science Slam, uma daquelas competições nas quais cientistas apresentam o resultados de suas pesquisas a um público leigo. Ao ver o anúncio da primeira batalha de ciências humanas sobre estudos da Antiguidade já realizada, tive certeza que essa seria uma ótima oportunidade de ter contato com esse "fenômeno".

O local escolhido para a batalha foi o que mais me chamou a atenção: o "octógono" deste Science Slam foi montado na sala de esculturas gregas do Neues Museum (Novo Museu), localizado na ilha dos museus. A competição era um evento oficial da Universidade Livre de Berlim.

A escolha do local não poderia ter sido melhor: a sala, em si, era impressionante e posicionava o público, de idades variadas e cuja metade era frequentadora assídua de Science Slams, dentro do universo da Antiguidade.

O fenômeno, inspirado nas batalhas de poesia, criadas em Chicago na década de 1980, não é novo. Competições científicas ocorrem em toda a Europa e Berlim é palco de várias edições anualmente – voltadas, porém, para as ciências naturais.

Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

Na edição daquela noite, sobre Antiguidade, seis pesquisadores, de arqueólogos a filólogos, iriam competir pelo prêmio. A decisão cabia aos espectadores presentes. Pouco antes do início da batalha, o casal ao meu lado, meio decepcionado, comentou que também havia se inscrito para a competição, mas não foi selecionado. "Quem sabe dá certo no próximo", disse alguém.

Com alguns minutos de atraso – afinal o evento lotou e ainda havia uma fila de pessoas sem ingresso – o apresentador anunciou o início da batalha. O duelo de duas horas foi divertido. Alguns dos competidores tinham um talento nato para traduzir ao público seus estudos.

Ao ler o título do estudo sobre traduções de textos da Antiguidade, por exemplo, pensei: "Nossa, como alguém pode se interessar por isso?" Mas, no decorrer dos dez minutos da apresentação, o pesquisador conseguiu convencer o público, com muita simpatia e irreverência, da importância e dos desafios presentes em sua pesquisa.

Alguns dos competidores ainda estavam muito presos a apresentações no formato de conferências especializadas. Mas o público, sempre muito gentil, aplaudiu a todos. Além de texto, as estrelas da noite combateram com imagens da Antiguidade durante a Renascença; significados de monumentos; mortos-vivos na Idade Média; a invenção da cerveja na Idade da Pedra; e a veracidade em documentários atuais – por exemplo, do History ou Discovery Channel, que prometem mostrar "Troia como ela era" e outras histórias com esse espírito revelador de mistérios.

Senti falta do espaço aberto para perguntas sobre os trabalhos, como ocorrem em conferências, mas num nível mais leigo. Adoraria saber um pouco mais sobre o significado da crença em mortos-vivos na Idade Média.

No fim das apresentações, o público escolheu a melhor performance. A votação foi acirrada, mas os presentes agraciaram a cerveja da Idade da Pedra com o prêmio da noite.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

 

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