Competições entre cientistas são eventos populares em Berlim. Clarissa Neher foi conferir a primeira sobre Antiguidade. Temas da noite incluíram de mortos-vivos na Idade Média à invenção da cerveja na Idade da Pedra.
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Sempre tive curiosidade de ir a um Science Slam, uma daquelas competições nas quais cientistas apresentam o resultados de suas pesquisas a um público leigo. Ao ver o anúncio da primeira batalha de ciências humanas sobre estudos da Antiguidade já realizada, tive certeza que essa seria uma ótima oportunidade de ter contato com esse "fenômeno".
O local escolhido para a batalha foi o que mais me chamou a atenção: o "octógono" deste Science Slam foi montado na sala de esculturas gregas do Neues Museum (Novo Museu), localizado na ilha dos museus. A competição era um evento oficial da Universidade Livre de Berlim.
A escolha do local não poderia ter sido melhor: a sala, em si, era impressionante e posicionava o público, de idades variadas e cuja metade era frequentadora assídua de Science Slams, dentro do universo da Antiguidade.
O fenômeno, inspirado nas batalhas de poesia, criadas em Chicago na década de 1980, não é novo. Competições científicas ocorrem em toda a Europa e Berlim é palco de várias edições anualmente – voltadas, porém, para as ciências naturais.
Na edição daquela noite, sobre Antiguidade, seis pesquisadores, de arqueólogos a filólogos, iriam competir pelo prêmio. A decisão cabia aos espectadores presentes. Pouco antes do início da batalha, o casal ao meu lado, meio decepcionado, comentou que também havia se inscrito para a competição, mas não foi selecionado. "Quem sabe dá certo no próximo", disse alguém.
Com alguns minutos de atraso – afinal o evento lotou e ainda havia uma fila de pessoas sem ingresso – o apresentador anunciou o início da batalha. O duelo de duas horas foi divertido. Alguns dos competidores tinham um talento nato para traduzir ao público seus estudos.
Ao ler o título do estudo sobre traduções de textos da Antiguidade, por exemplo, pensei: "Nossa, como alguém pode se interessar por isso?" Mas, no decorrer dos dez minutos da apresentação, o pesquisador conseguiu convencer o público, com muita simpatia e irreverência, da importância e dos desafios presentes em sua pesquisa.
Alguns dos competidores ainda estavam muito presos a apresentações no formato de conferências especializadas. Mas o público, sempre muito gentil, aplaudiu a todos. Além de texto, as estrelas da noite combateram com imagens da Antiguidade durante a Renascença; significados de monumentos; mortos-vivos na Idade Média; a invenção da cerveja na Idade da Pedra; e a veracidade em documentários atuais – por exemplo, do History ou Discovery Channel, que prometem mostrar "Troia como ela era" e outras histórias com esse espírito revelador de mistérios.
Senti falta do espaço aberto para perguntas sobre os trabalhos, como ocorrem em conferências, mas num nível mais leigo. Adoraria saber um pouco mais sobre o significado da crença em mortos-vivos na Idade Média.
No fim das apresentações, o público escolheu a melhor performance. A votação foi acirrada, mas os presentes agraciaram a cerveja da Idade da Pedra com o prêmio da noite.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Dez museus diferentes de Berlim
Além da renomada Ilha dos Museus, a capital alemã tem cerca de 200 instituições repletas de atrações, que vão do curioso ao excêntrico.
Foto: picture-alliance/dpa/K.-D. Gabbert
Museu Gay
Um cartoon do artista Ross Johnston mostra o Super-Homem e o Robin se beijando enquanto tematizam a "traição" ao Batman. Para homens que gostam de homens, mulheres que gostam de mulheres e também para aqueles que curtem os dois, o Museu Gay, no bairro Tiergarten, é uma experiência reveladora e especial. O lugar oferece visitas guiadas gratuitas.
Foto: picture-alliance/dpa/K.-D. Gabbert
Museu do Açúcar
A exposição permanente "É tudo açúcar!" repassa a trajetória que transformou a especiaria num produto cobiçado e com diversas utilidades, até mesmo servir de material para esta maquete do Portão de Brandemburgo. As peças do Museu do Açúcar original, aberto em 1904, foram transferidas para o Museu da Tecnologia, no bairro de Kreuzberg.
Foto: picture-alliance/dpa
Museu do Batom
Uma peça de luxo banhada em ouro, incrustrada com diamante e safira, este tubo de batom no estilo art déco, datado 1925, é apenas um dos destaques da exuberante coleção de René Koch. O maquiador mostra aos visitantes o seu museu particular no bairro de Wilmersdorf e, quando solicitado, dá até dicas individuais de maquiagem. É necessário combinar o horário antes.
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Museu Gründerzeit
Assim se parecia a sala de recepção de uma abastada família alemã nos idos entre 1870 e o início do século 20. Com 14 salas de estar mobiliadas no estilo Gründerzeit (época da fundação, logo após a unificação, em 1871), este museu fica numa casa senhorial no bairro de Mahlsdorf. O interior do Mulakritze é uma exposição à parte. Trata-se de um dos mais famosos pubs da época dourada de Berlim.
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Anfiteatro da Anatomia Animal
Antigamente, estudantes dissecavam aqui animais em aulas de anatomia. Hoje o anfiteatro é uma das construções mais importantes entre os prédios acadêmicos de Berlim. O salão neoclássico foi projetado pelo arquiteto Carl Gotthard Langhans no século 18, na mesma época do Portão de Brandemburgo. Ele faz parte do Museu da História Médica de Berlim, no Hospital Universitário Charité.
Foto: picture-alliance/dpa/Hannibal
Museu dos Jogos Eletrônicos
O Museu dos Jogos Eletrônicos do bairro Friedrischshain foi o primeiro do gênero no mundo. Aberto em 2011, ele fascina os amantes dos jogos para computador e mostra aos visitantes a rápida evolução dos games – dos lendários Pong da pioneira Atari até os atuais jogos 3D, passando pelo Gameboy.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Pilick
Museu Unterwelten
Esta maquete mostra os planos megalomaníacos de Adolf Hitler para Berlim. Esta imensa cúpula no meio seria o "Salão do Povo", com lugar para mais de 150 mil pessoas. Em 24 de março, a exposição "O mito da Germânia – visões e crimes" será aberta ao público no Museu Unterwelten, na estação de bonde Gesundbrunnen.
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Museu Teuto-Russo
A rendição incondicional da Alemanha aos aliados foi assinada em 8 (ou 9, dependendo do fuso horário) de maio de 1945 no cassino dos oficiais no bairro de Karlshorst. Assim terminava a Segunda Guerra Mundial na Europa. Durante o período da Alemanha Oriental, o prédio foi transformado no museu da rendição. Depois da Reunificação, o museu ganhou um novo nome e foca nas relações teuto-russas.
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Museu Bröhan
O mecenas Karl H. Bröhan doou sua coleção privada de 16 mil objetos à cidade de Berlim. Este museu especial em frente ao Castelo Charlottenburg mostra peças de art nouveau, art déco e da Secessão de Berlim. Este conjunto de café e chá de Josef Hoffmann provocou furor em 1910, quando seu design foi considerado vanguardista.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Lanternas a gás
Berlim ainda tem várias áreas iluminadas pela luz suave e delicada das lanternas de gás – por exemplo a rua Sophie-Charlotte, ruas laterais da Kurfürstendamm e o largo Chamissoplatz. A associação Verein Gaslicht-Kultur se dedica a preservar essa iluminação pública histórica da cidade e oferece passeios guiados noturnos. Uma coleção de lanternas de toda a Europa pode ser vista no parque Tiergarten.