Sistema de transporte público de Berlim é um dos mais eficientes do mundo. Mesmo assim, empresa quer atrair mais usuários com propagandas que não economizam em brincadeiras.
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"Porque nós te amamos!", poderia muito bem ter saído de alguma propaganda de produtos de beleza ou algum tipo de alimento saudável, mas este é o slogan da empresa de transporte público de Berlim. E como ignorar a simpatia da BVG, que deseja conquistar seus usuários com comerciais criativos que pregam o amor. Ao oferecer um serviço eficiente, ela nem precisa disso para ser estimada.
O sistema de transporte público da capital alemã é o melhor que já tive a oportunidade de conhecer, e nem se compara ao oferecido nas cidades brasileiras, mesmo naquelas consideradas exemplo. A rede berlinense possui dez linhas de metrô, doze de bonde e mais de 150 de ônibus. Os pontos são sinalizados com as informações sobre linhas que passam por ali e horários previstos.
Com toda essa estrutura, aqui não cola a desculpa de que não havia como ir para faltar a algum convite chato. É possível chegar a qualquer canto de Berlim, não importa a hora do dia ou noite. É claro que durante a semana o percurso nas madrugadas leva mais tempo, pois o metrô fecha durante algumas horas, e a frota de ônibus é reduzida.
Há alguns problemas: como atrasos, ônibus "sauna" – nos quais as janelas não podem ser abertas, e no verão o ar condicionado modesto não dá conta do calor –, e o preço da passagem, relativamente salgado e que sobe ano após ano.
A BVG reconhece que tem problemas. Agora, toda irreverente, resolveu rir dos próprios deslizes. Num vídeo lançado nas redes sociais, ao comprar a passagem, um jovem afirma que o preço é caro, o funcionário da empresa explica, então, que nele está incluindo tudo o que os clientes esperam: atrasos controlados por um esquilo, a competição de boliche em ônibus, cujo objetivo é derrubar o maior número de pessoas, e ainda um simulador onde motoristas aprendem o momento exato para fechar a porta na cara de passageiros atrasados que correm para pegar o ônibus.
Com o comercial, a empresa quer alcançar o mesmo sucesso da campanha "Para mim tanto faz", na qual um rapper vestido com o uniforme da BVG cantava sobre situações inusitadas de passageiros em veículos da empresa e afirmava que tudo é permitido, contanto que a passagem esteja paga. Alguns desses episódios realmente acontecem, já peguei um ônibus de madrugada com um jovem que levava consigo um barco inflável.
A fofura da BVG é tanta que ela chegou até a lançar uma coleção de roupas com a estampa dos bancos dos metrôs para aqueles usuários que desejam corresponder todo esse amor e mostrar esse afeto ao mundo. As peças, para quem têm interesse, são vendidas no site da empresa. Apesar de tanta irreverência, o diferencial da empresa continua mesmo sendo o serviço oferecido.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Trabant, o "carro do povo" do Leste Alemão
O Trabant nunca foi um objeto de desejo, a fila de espera era de anos e o conforto deixava muito a desejar. O carro símbolo da Alemanha Oriental parou de ser produzido em 30 de abril de 1991.
Foto: imago/Sven Simon
Símbolo de um país
O Trabant era "o" carro da Alemanha Oriental. Fora modelos de outros países comunistas, como os Ladas soviéticos, era o que um alemão-oriental comum podia ter. Entre 1957 e 1991, foram produzidos cerca de 3 milhões deles, todos em Zwickau, onde ficava a única fábrica. Para comprar um, era necessário entrar na fila – e esperar, talvez até uns 17 anos. Depois da Reunificação, o modelo virou cult.
Foto: picture-alliance/dpa/Pisacreta
Monotonia nas cores
As cores do Trabant eram sempre em tons pastéis. Críticos diziam que ele já saía de fábrica com uma cara de quem ficou muito tempo na chuva. Mas a cor não era o mais importante: para seus proprietários, o Trabant significava a possibilidade de um passeio de fim de semana, quando se podia aproveitar para tentar alcançar a velocidade máxima de 100 km/h.
Foto: picture alliance/dpa/J. Woitas
Simplicidade na mecânica
O Trabant P601 foi o segundo e último modelo, e também o mais popular. Era um carro pouco menor que o Twingo e um dos mais simples já produzidos. Com motor de dois tempos, refrigerado a ar, ele não precisava de bomba de óleo, comando de válvulas, radiador ou bomba d'água. O carro era muito poluidor. Não havia marcador de gasolina: o combustível chegava ao carburador pela força da gravidade.
Foto: DW
Acabamento interno
Por dentro, o Trabant, ou "Trabi", era espartano, dispensando qualquer luxo. As cores e os estofados davam um ar meio antiquado ao interior do veículo. O painel era simples, e a favor dele pode-se dizer que pelo menos o motorista não se distraía com um monte de luzes e sinais, e ao menos dedicava toda a atenção ao trânsito. Trabant, em alemão, significa "satélite".
Foto: picture alliance/dpa/D. Karmann
O outro modelo
Ao contrário do que muitos pensam, o Trabant não era o único carro fabricado na Alemanha Oriental: havia também o Wartburg. Mas ele não chegava a ser concorrente, pois era mais caro e luxuoso. O Wartburg era produzido em Eisenach, e boa parte da produção era exportada, principalmente para outros países do bloco comunista, como Hungria e Polônia.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Wolf
Pink power
Trabant pink não existia na Alemanha Oriental – pelo menos não de fábrica. Depois da queda do Muro de Berlim, porém, o modelo ganhou status de cool, principalmente entre jovens, estudantes e aficcionados por automóveis. Muitos dos novos proprietários pintaram seus carros nas cores mais variadas e berrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Trabi do futuro?
Muitos proprietários gostam de mexer nos seus Trabants. Este alemão "envenenou" o seu modelo com um motor moderno e mais potente, para atender às normas de emissões de gases – o que, claro, não se pode esperar do motor original. Além disso, o escapamento do Trabi não tinha filtro.
Foto: picture alliance/dpa/S. Sauer
Favorito dos saudosistas
A simpatia pelo Trabi não tem fronteiras. Nesta foto, um grupo de admiradores se reúne para um encontro em Praga, na República Tcheca. Quando o Muro de Berlim caiu, muitas pessoas disseram que o Trabant desapareceria das ruas da Alemanha em poucos anos. Mais de 25 anos depois, ainda há 32 mil registrados.
Foto: Reuters/David W Cerny
Canteiro de flores
Mas também é verdade que muitos Trabants foram aposentados por seus donos e tiveram destinos pouco nobres. Este, por exemplo, virou canteiro de flores. Entre 2009 e 2010, quando o governo alemão ofereceu um bônus para quem trocasse seu carro antigo por um modelo mais atual (e menos poluente), 1.819 Trabants foram descartados por seus proprietários.
Foto: picture-alliance/ZB/R. Hirschberger
Parte da história
O Trabant está fortemente associado à história alemã recente. Este foi decorado com vários símbolos que remetem a isso: uma bandeira da Alemanha, pedaços do Muro de Berlim, placas da antiga Alemanha Oriental e uma pintura que homenageia a abertura da fronteira, em novembro de 1989.
Foto: picture alliance/dpa/J. Wolf
Imagem clássica
Quando o Muro de Berlim caiu, muitos alemães-orientais atravessaram a fronteira que separava Berlim Oriental da Ocidental dirigindo seus Trabants. Essas imagens correram o mundo, e o Trabant acabou para sempre associado à queda do Muro e à reunificação da Alemanha.