O imenso bloco de concreto perdido entre prédios residenciais e os trilhos do trem que levam à estação de Südkreuz chama a atenção de quem passa pela região, ao sudeste do bairro Schöneberg. É um dos últimos resquícios da Germânia, a "capital do mundo" sonhada por Adolf Hitler.
Ao assumir o poder na Alemanha, em 1933, o ditador teve ideias megalomaníacas para a modernização de Berlim. À frente do projeto, estaria o arquiteto Albert Speer.
O projeto previa a construção de uma grande avenida cortando a cidade de norte a sul, que sairia do complexo de prédios que abrigaria a Chancelaria, o Parlamento e o Pavilhão do Povo – com uma cúpula gigantesca e capacidade para receber 180 mil visitantes em eventos culturais. Tudo seria construído com muito mármore, granito e madeiras nobres. No meio da avenida, ficaria um Arco do Triunfo, muito maior do que o de Paris.
Apesar de toda vontade, havia um empecilho para colocar em prática as ideias: o arenoso solo berlinense, que poderia não aguentar o peso das construções. Para evitar surpresas desagradáveis, Speer ordenou em 1941 a construção do Schwerbelastungskörper, ou seja, o corpo de carga pesada: um bloco maciço de concreto cilíndrico de 21 metros de diâmetro, 14 metros de altura, 18 metros de profundidade.
Dentro do bloco de 12 mil toneladas foi instalado um sistema de medição para testar a capacidade de suporte do solo e verificar alterações no terreno. O Schwerbelastungskörper sobreviveu aos bombardeios em Berlim e continuou sendo usado para pesquisa e medição até 1983. Depois disso, o local ficou abandonado até 1995, quando foi declarado patrimônio cultural da cidade.
Em 2009, após ser restaurado e receber um centro de visitantes, o Schwerbelastungskörper foi aberto ao público. Apesar de o terreno ter afundado cerca de 19 centímetros durante os primeiros anos, o bloco resistiu à guerra e ao tempo e serviu para mostrar que o solo arenoso de Berlim é mais resistente do que se pensava, além de ser uma das poucas heranças da tal Germânia.
O Schwerbelastungskörper fica na esquina das ruas General-Pape e Loewenhardtdamm e é aberto a visitação entre abril e outubro.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
Como motorista, secretária ou médico, eles estiveram bem próximos do ditador e lidaram, mais tarde, de formas bem distintas com seu papel na época. Muitas vezes, afirmavam nada ter a ver com os crimes do regime nazista.
Foto: picture alliance/AP ImagesBrunhilde Pomsel esteve muito perto do centro do poder. Ela própria, no entanto, disse considerar insignificante o seu papel como secretária de Joseph Goebbels, afirmando ter tomado conhecimento do extermínio de judeus somente depois da guerra. Assim como Brunhilde, muitos estiveram a serviço de Hitler. Mais tarde, eles lidaram de formas bem distintas com a sua responsabilidade no regime nazista.
Foto: Salzgeber & Co. Medien GmbHA sua história foi filmada duas vezes: as memórias de Traudl Junge sobre os últimos dias no bunker de Adolf Hitler foram tema de um documentário, servindo mais tarde de base para o longa-metragem "A queda" (2004). Quando tinha 22 anos, ela foi empregada como secretária pessoal do ditador nazista. Posteriormente, observou de forma crítica a sua participação no regime de Hitler.
Foto: picture-alliance/dpaRochus Misch também vivenciou os últimos dias no bunker: ele fazia parte do chamado "Führerbegleitkommando", divisão de segurança da SS com a missão de proteger a vida do ditador. Misch foi guarda-costas pessoal de Hitler. Mais tarde, como telefonista, foi um dos poucos a ver o cadáver do ditador. Em entrevista, ele declarou, posteriormente, ter sido soldado e não se interessar por política.
Foto: picture-alliance/dpaErich Kempka cedo se entusiasmou pelo nacional-socialismo: já em 1930, ele se filiou ao Partido Nazista e à SS, servindo, a partir de 1932, como motorista de Hitler por toda a Alemanha. Após 13 anos de serviço, ele ajudou, em 30 de abril de 1945, a queimar os corpos do ditador e Eva Braun. Ele nunca se distanciou do nazismo. Após a sua morte, suas memórias foram reeditadas por neonazistas.
Foto: picture alliance/AP ImagesDiariamente, ele administrava em seu "Paciente A" uma infinidade de pílulas e injeções: o Dr. Theodor Morell foi o médico pessoal de Adolf Hitler. O ditador, constantemente doente, lhe depositava total confiança. Após a prisão de Morell, os americanos quiseram saber no interrogatório por que ele não matou Hitler com uma injeção. Sua resposta: "Mas ele era meu paciente."
Foto: picture-alliance/United ArchivHeinrich Hoffmann foi um nazista de primeira hora: ele se filiou ao Partido Nazista já em 1920, passando a fotografar, como "fotojornalista do Reich", líderes do regime e Adolf Hitler. Hoffmann é considerado "o criador do culto a Hitler". Depois da Segunda Guerra, ele foi condenado a quatro anos de prisão, vindo a morrer aos 72 anos de idade em 1957 – sem nenhum remorso ou visão crítica.
Foto: gemeinfreiAlbert Speer (2° da esq. p/dir.) projetou obras monumentais para o ditador, como a Chancelaria em Berlim. Joachim Fest, principal biógrafo de Hitler, via uma relação homoerótica na admiração do líder nazista por Speer: "Ninguém tinha acesso a Hitler como ele". Sentenciado a 20 anos de prisão após a guerra, hoje se sabe que Speer omitiu diversos fatos sobre seu papel no regime em suas memórias.
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