PF troca superintendente que pediu inquérito contra Salles
15 de abril de 2021
Alexandre Saraiva, que comanda a Polícia Federal no Amazonas, enviou uma notícia-crime ao STF acusando o ministro do Meio Ambiente de tentar obstruir investigação de extração ilegal de madeira na Amazônia.
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O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Paulo Maiurino, decidiu trocar o chefe da corporação no Amazonas, em meio a um atrito entre este e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, informou a imprensa brasileira nesta quinta-feira (15/04).
A decisão de substituir Alexandre Saraiva teria sido tomada na quarta-feira, mesmo dia em que o superintendente amazonense enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de investigação de Salles, num caso envolvendo a maior apreensão de madeira do país.
A notícia-crime afirma que o ministro e o senador Telmário Mota teriam atuado para obstruir a chamada Operação Handroanthus GLO, deflagrada pela PF e pelo Ministério Público Federal (MPF). A investigação mirou a extração ilegal de madeira na Amazônia e resultou numa apreensão histórica no final do ano passado.
O pedido de investigação enviado ao STF acusa Salles de atuar em favor dos investigados na operação e solicita que sejam apurados os crimes de obstrução de investigação ambiental e advocacia administrativa.
Saraiva foi informado que deixaria o comando do Amazonas na tarde de quarta-feira, antes de enviar a notícia-crime ao Supremo, informaram os jornais O Globo e Folha de S. Paulo, citando fontes internas na Polícia Federal.
Segundo a imprensa brasileira, ele será substituído pelo delegado Leandro Almada, que já foi número 2 de Saraiva na superintendência do Amazonas e comandou o grupo de investigações ambientais sensíveis no órgão.
Saraiva, por sua vez, está há mais de dez anos ocupando postos de superintendente na PF, tendo passado por Roraima e Maranhão antes de comandar o Amazonas. Ele estava havia quatro anos à frente da corporação neste estado.
Novo diretor, outras trocas
Essa não é a primeira troca no comando das unidades regionais a ser feita por Maiurino, anunciado como novo diretor-geral da PF há menos de dez dias. Desde que assumiu a corporação, ele já alterou a chefia das superintendências de São Paulo, Santa Catarina e Bahia.
Em São Paulo, Maiurino causou estranhamento ao fugir do padrão que vinha sendo seguido nos últimos anos para a escolha do novo chefe regional.
Ao contrário de seus antecessores, o novo superintendente paulista, Rodrigo Bartolamei, nunca havia ocupado cargos relevantes de chefia na Polícia Federal antes de assumir o comando da maior superintendência do país.
ek/as (ots)
Explorar sem destruir a Amazônia
Comunidades ribeirinhas dão exemplo de sustentabilidade ao colherem frutos na mata e extraírem óleo para a indústria de cosméticos. Projeto engloba toda a cadeia de produção, da coleta e beneficiamento até o transporte.
Foto: Bruno Kelly
Conservação e uso sustentável
A Reserva Extrativista Médio Juruá foi oficialmente criada em 4 de março de 1997. Com 28,7 mil quilômetros quadrados, a reserva ocupa um terço do município de Carauari, Amazonas. A unidade de conservação só pode ser utilizada por populações extrativistas tradicionais. São permitidos a agricultura de subsistência e o uso sustentável dos recursos naturais.
Foto: Bruno Kelly
Luta pela liberdade
No passado, a região foi um importante centro fornecedor de látex, matéria-prima da borracha. Na mãos dos patrões (os autoproclamados donos das terras), seringueiros trabalhavam em condição análoga à escravidão. Raimundo Pinto de Sousa, 68 anos, é um dos líderes pioneiros que, inspirados por Chico Mendes, buscaram a liberdade e criaram a Resex.
Foto: DW/B. Kelly
Floresta como fornecedora
Cerca de 2 mil moradores moram nas 14 comunidades da Resex Médio Juruá. A maioria trabalha coletando sementes de andiroba e murumuru na floresta. De março a junho, é possível coletar até 70 quilos de murumuru por dia por pessoa. A família de Eulinda (de amarelo) é campeã na comunidade de Nova União.
Foto: Bruno Kelly
Logística na floresta
A compra das sementes é feita pela Cooperativa de Desenvolvimento Agro-Extrativista e de Energia do Médio Juruá, formada pelos coletores. Um barco visita as comunidades para recolher toda a produção, que é transportada por moradores até a usina de processamento. É preciso vencer várias dificuldades dentro das trilhas pela floresta para fazer o transporte.
Foto: Bruno Kelly
Da semente ao óleo
As sementes de andiroba e murumuru são processadas na usina que fica na comunidade do Roque, a maior da Resex. Depois de passar por um processo de secagem, as sementes são prensadas até que o óleo escorra pela máquina. A unidade está de mudança para um novo galpão, construído com recursos do Fundo Amazônia.
Foto: Bruno Kelly
Do Juruá para o mundo
O óleo de andiroba e manteiga de murumuru produzidos são armazenados em baldes apropriados. Até chegar ao ponto de escoamento, as embalagens são transportadas, novamente, pela floresta por moradores. Depois de processadas, as sementes coletadas pelos extrativistas se transformam em produtos de beleza na indústria de cosmético.
Foto: Bruno Kelly
Proteção de tartarugas
Antes de a Resex existir, Francisco Mendes da Silva, 63 anos, era madeireiro e contra a criação da reserva. Mas mudou de ideia e, há 18 anos, atua como monitor numa das praias de conservação do Juruá, chamadas de tabuleiro. No Manariã, cerca de 60 mil filhotes são liberados para a natureza por ano, segundo Silva, que ensina o ofício ao filho, João Pedro, de 16 anos.
Foto: Bruno Kelly
Agricultura de subsistência
Em todas as comunidades da Resex Médio Juruá, a mandioca é um alimento cultivado importante. A produção de farinha costuma reunir famílias e divertir as crianças, que acompanham os pais quando não estão na escola. O excedente é armazenado na cantina de economia solidária das comunidades e vendido na cidade.
Foto: Bruno Kelly
Acesso ao conhecimento
Cercados pela Floresta Amazônica, 43 estudantes de diversas comunidades do entorno frequentam o primeiro curso de ensino superior oferecido na região, de Pedagogia. O projeto experimental, que tem base na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, é uma parceria entre diversas instituições e contou com recursos da Capes.
Foto: Bruno Kelly
Rio Juruá
Com nascente na Serra da Contamana, no Peru, a 453 metros de altitude, o rio Juruá corta o estado do Acre e deságua no rio Solimões, Amazonas. É considerado um dos mais sinuosos do mundo, com mais de 3 mil quilômetros de extensão. A variação do nível do Juruá chega a 12 metros entre a época da cheia, de dezembro a julho, e a seca.