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Chefe de direitos humanos da ONU inicia visita à China

24 de maio de 2022

Michelle Bachelet vai à província de Xinjiang, onde Pequim é acusada de cometer abusos contra uigures. Mas EUA e defensores de direitos humanos temem que comissária terá acesso apenas a uma versão manipulada do local.

Michelle Bachelet
É a primeira viagem à China de um alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos em quase duas décadasFoto: Fabrice Coffrini/AFP/Getty Images

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, deu início nesta segunda-feira (23/05) a uma visita de seis dias à China, que incluirá a província de Xinjiang, onde o governo chinês é acusado de cometer abusos generalizados contra a minoria muçulmana uigur.

A viagem de Bachelet marca a primeira vez em quase duas décadas que a mais alta autoridade de direitos humanos das Nações Unidas visita o país asiático.

O Partido Comunista Chinês é acusado de prender pelo menos um milhão de uigures e membros de outras minorias, principalmente muçulmanos, em campos de detenção na província de Xinjiang, onde detentos seriam submetidos a trabalhos forçados e as mulheres, esterilizadas.

No fim do ano passado, um tribunal independente e não oficial concluiu que o tratamento dado pelo governo chinês aos uigures constitui genocídio e crimes contra a humanidade.

A China tem negado qualquer violação dos direitos humanos em Xinjiang e diz que as instalações montadas na região não são campos de concentração, mas acampamentos que oferecem treinamento vocacional e que são necessários para combater o extremismo na região.

No primeiro dia de sua viagem ao país, Bachelet se reuniu com o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, na cidade de Cantão.

"Estou ansiosa para as trocas que terei com muitas pessoas diferentes durante minha visita. Estarei discutindo algumas questões muito importantes e delicadas. Espero que isso nos ajude a construir confiança", afirmou a comissária da ONU durante o encontro com Wang.

Bachelet também realizou reuniões virtuais com os chefes de cerca de 70 missões diplomáticas na China nesta segunda, segundo fontes diplomáticas em Pequim, que disseram que ela garantiu seu acesso a centros de detenção e defensores de direitos humanos.

Ao longo da semana, ela deverá viajar para as cidades de Urumqi e Kashgar, em Xinjiang.

Ao receber Bachelet, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, afirmou que a viagem ocorre em "circuito fechado" devido à pandemia, e ambos os lados concordaram em não haver repórteres acompanhando a visita.

É esperado que ela se encontre com líderes chineses e "tenha amplos intercâmbios com pessoas de vários setores", disse Wang, sem dar mais detalhes.

Temores sobre a viagem

Autoridades da ONU estão envolvidas em negociações com o governo chinês desde 2018 na tentativa de garantir "acesso irrestrito e significativo" a Xinjiang. Mas há temores de que uma "maquiagem" da realidade possa oferecer uma visão controlada da situação na região, que a China diz ter pacificado com "centros de reeducação".

Os Estados Unidos lideraram as críticas antes da viagem de Bachelet, afirmando que estão "profundamente preocupados" com o fato de a comissária da ONU não ter conseguido assegurar garantias sobre o que ela poderá ver de fato durante a visita.

"Não temos expectativas de que a China concederá o acesso necessário para realizar uma avaliação completa e não manipulada do contexto de direitos humanos em Xinjiang", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, a jornalistas.

Em vez de uma investigação completa sobre os supostos abusos, defensores de direitos humanos temem que Bachelet esteja diante de uma visita totalmente orquestrada, que acabe apenas servindo de propaganda para o Partido Comunista Chinês.

Sua visita será "uma batalha contínua contra os esforços do governo chinês para encobrir a verdade", afirmou Agnès Callamard, secretária-geral da ONG Anistia Internacional. "A ONU deve tomar medidas para mitigar isso e resistir a ser usada para apoiar propaganda descarada."

A organização de direitos humanos Chinese Human Rights Defenders (CHRD), com sede em Washington, também alertou que a visita será "cuidadosamente gerida e coreografada" por Pequim. 

"Tememos (...) que não tenha acesso livre às vítimas, testemunhas, membros independentes da sociedade civil" e que "os seus pontos de vista sejam distorcidos pelo governo chinês", disse a ONG.

ek (AFP, Reuters, Lusa)

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