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Chefe de gabinete de Guaidó é preso na Venezuela

22 de março de 2019

Agentes da inteligência venezuelana revistam casa de Roberto Marrero e o levam sob acusação de terrorismo. Oposição diz que provas foram plantadas. Comunidade internacional condena prisão e eleva pressão contra Maduro.

O venezuelano Roberto Marrero, chefe de gabinete de Juan Guaidó
Marrero é advogado e chefe de gabinete do autoproclamado presidente interino da VenezuelaFoto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano

A agência de inteligência venezuelana deteve nesta quinta-feira (21/03) o chefe de gabinete do líder oposicionista Juan Guaidó, Roberto Marrero, durante buscas em sua casa. A prisão foi rapidamente condenada pela comunidade internacional, que pressiona pela libertação do advogado.

Guaidó, reconhecido por dezenas de países como presidente interino da Venezuela, e a Assembleia Nacional, órgão legislativo de maioria opositora do qual ele é líder, afirmaram que Marrero foi levado de sua casa numa operação realizada por agentes do Serviço de Inteligência Bolivariano (Sebin) durante a madrugada.

Em mensagem no Twitter, Guaidó falou em sequestro e disse que, para justificar a detenção, foram plantados dois fuzis e uma granada na casa de seu chefe de gabinete. "Sequestraram Roberto Marrero", escreveu o opositor. "A ação começou às 2h da madrugada aproximadamente. Desconhecemos seu paradeiro. Ele deve ser liberado imediatamente."

Em áudio divulgado por uma emissora local, Marrero relata a operação. "O Sebin está aqui, infelizmente eles vieram até mim", afirma o advogado na gravação, antes de ser detido e levado de sua casa, no bairro de Las Mercedes, em Caracas. "Continuem a luta, tomem conta do presidente", acrescenta ele, em referência a Guaidó.

O deputado opositor Sergio Vergara, vizinho de Marrero, também foi alvo do Sebin, mas não chegou a ser preso. "Neste momento estão entrando em minha residência. Eu denuncio diante da comunidade internacional esse novo atropelo do regime", escreveu ele no Twitter.

A jornalistas, o parlamentar contou que dezenas de agentes armados entraram em sua residência, a vasculharam por cerca de duas horas, o jogaram no chão e perguntaram onde encontrar Marrero.

"Eles começaram a bater na porta de Roberto Marrero, que fica a poucos metros da minha porta, até conseguirem entrar", disse Vergara, denunciando ainda que a ação na casa do vizinho foi violenta. "A ditadura está raptando cidadãos."

O governo de Nicolás Maduro justificou a prisão de Marrero acusando-o de envolvimento em uma suposta "célula terrorista" que estaria planejando ataques contra políticos de alto escalão.

Em aparição na televisão estatal, o ministro venezuelano do Interior, Néstor Reverol, mostrou a imagem de dois rifles, os quais ele chamou de evidências coletadas contra o chefe de gabinete. A oposição insiste que as armas foram plantadas pelas autoridades chavistas.

Em coletiva de imprensa mais tarde, Guaidó reiterou que a prisão se tratou de um "sequestro" e de uma ação "grosseira" por parte das forças do regime. Ele disse ainda que não se sente intimidado e garantiu que manterá a agenda de trabalho prevista.

"Querem me intimidar? Querem me prender? Que venham, mas não vão conseguir nos desviar do caminho que estamos a traçar", afirmou o autodeclarado presidente interino. Segundo ele, Maduro não ousa prendê-lo e, por isso, corre atrás de seus aliados.

Marrero e Vergara acompanharam Guaidó durante sua viagem recente a países da América Latina, que incluiu o Brasil. Os dois funcionários da Assembleia Nacional eram sempre vistos ao lado do líder oposicionista em seus desembarques nos países visitados. Maduro chegou a ameaçar Guaidó de prisão quando ele voltasse à Venezuela, mas nada aconteceu quando ele retornou.

Reações

A prisão de Marrero foi condenada pela comunidade internacional, num momento em que vários países se posicionam contra o regime de Maduro e mais de 50 já reconheceram Guaidó como presidente legítimo da Venezuela.

Os Estados Unidos – primeiro país a declarar apoio ao líder oposicionista assim que ele se autoproclamou presidente, em 23 de janeiro – pediram a "libertação imediata" de Marrero e alertaram que os envolvidos pela detenção serão responsabilizados.

O Grupo de Lima, formado por vários países da América para discutir a crise na Venezuela, disse "rechaçar e condenar fortemente a detenção ilegal" do advogado venezuelano e também pediu sua libertação. "Exigimos o fim da perseguição a democratas venezuelanos e das práticas sistemáticas de detenção arbitrária e tortura na Venezuela", acrescenta a nota.

A União Europeia (UE) acusou as forças de segurança da Venezuela de desrespeitarem a imunidade parlamentar de Vergara e disse que Marrero deve ser libertado "imediatamente e incondicionalmente". "[A UE] responsabiliza as autoridades competentes pela segurança e integridade dele", disse a porta-voz do bloco Maja Kocijancic.

"Tais atos minam os esforços da comunidade internacional para ajudar a promover uma solução pacífica e democrática para a crise na Venezuela", acrescentou.

A ONU, por sua vez, expressou preocupação. Segundo o porta-voz Farhan Haq, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, renova seu apelo a todas as partes para que tomem "medidas imediatas para reduzir a tensão" e evitar qualquer ação que possa levar a uma escalada.

Para a organização, continua sendo "essencial" que o governo e a oposição na Venezuela estabeleçam um diálogo político para resolver a crise que assola o país.

EK/afp/dpa/efe/lusa/rtr/ots

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