Dono do Grupo Wagner culpa liderança militar em Moscou por "mortes sem sentido" devido a escassez de munição e diz que suas tropas abandonarão front de batalha dentro de cinco dias.
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O chefe do grupo mercenário russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, ameaçou nesta sexta-feira (05/05) retirar dentro de cinco dias suas tropas de Bakhmut – um dos atuais epicentros da guerra na Ucrânia – reclamando que seus combatentes sofrem com falta de munição.
"Estou retirando as unidades do Wagner de Bakhmut porque, na ausência de munição, elas estão condenadas a uma morte sem sentido", disse Prigozhin.
A retirada de seus combatentes deverá ocorrer em 10 de maio, e suas posições na cidade ucraniana deverão ser transferidas para forças regulares da Rússia, afirmou.
Em vídeo publicado nesta sexta-feira, o chefe do Grupo Wagner fala visivelmente irritado diante da câmera, cercado de dezenas de cadáveres ensanguentados. Na gravação, ele culpa o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior do país, Valeri Gerasimov, pelas perdas que suas tropas vêm sofrendo na Ucrânia, gritando expressões agressivas e palavrões.
"O sangue ainda está fresco"
Dirigindo-se a Shoigu, ele afirma que o Grupo Wagner enfrenta escassez de "70% de munição". Prigozhin diz que as perdas do grupo seriam cinco vezes menores se os suprimentos adequados estivessem sendo disponibilizados por Moscou.
"Estes são os membros do Wagner que morreram hoje. O sangue ainda está fresco", afirma Prigozhin, apontando para os cadáveres ao seu redor. "Eles vieram aqui como voluntários e agora estão morrendo para que vocês possam engordar aí em seus escritórios", protesta.
"Se vocês não nos derem granadas, não vão tirar a vitória de nós, vão tirar a vitória do povo russo", diz o chefe do Wagner na advertência ao Kremlin.
De acordo com Prigozhin, Bakhmut já se encontra quase completamente em poder das forças russas, com exceção de uma área de 2,5 quilômetros quadrados, informação que não pode ser verificada independentemente.
A batalha pela cidade estrategicamente importante se tornou a mais longa e sangrenta da guerra, com perdas severas tanto do lado russo quanto do lado ucraniano.
As forças russas têm sido inflexíveis por meses na tentativa de capturar a cidade, para obter o que seria sua primeira vitória significativa no campo de batalha em cerca de oito meses.
Não é a primeira vez que Prigozhin adota abertamente uma rota de confronto com a liderança militar russa.
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Kremlin não comenta
O Kremlin divulgou apenas uma breve declaração em resposta a Prigozhin. "Claro que vimos na mídia. Mas não podemos comentar porque afeta o curso da operação militar especial", alegou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Na Rússia é proibido falar em guerra contra a Ucrânia. Em vez disso, Moscou usa o termo "operação especial".
Se Prigozhin realmente cumprir a ameaça de retirada de suas tropas, ela aconteceria apenas um dia após a Rússia comemorar o aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista, em 9 de maio. Tradicionalmente, as comemorações também incluem um grande desfile militar.
O grupo Wagner
O grupo foi fundado em 2014 e uma de suas primeiras missões conhecidas foi na península ucraniana da Crimeia, naquele mesmo ano, quando mercenários com uniformes sem identificação ajudaram forças separatistas apoiadas pela Rússia a tomar a região.
Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, Moscou inicialmente usou os mercenários para reforçar as forças da linha de frente, mas, desde então, passou a contar cada vez mais com eles em batalhas críticas. Prigozhin, o chefe do Wagner, tem ligações estreitas com o Kremlin.
A empresa paralimitar, seu dono e a maioria dos seus comandantes foram alvo de sanções dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia (UE).
md/lf (AFP, Reuters, AP, DPA)
Bakhmut: a "fortaleza do Donbass" na linha de frente da guerra
Antes da invasão russa, Bakhmut tinha 70 mil moradores. Intensos combates entre tropas russas e ucranianas causaram mortes e destruição na estratégica cidade do Donbass, mas nem todos os civis a abandonaram.
Foto: LIBKOS/AP Photo/picture alliance
A cidade antes da destruição
Esta foto, tirada na primavera europeia de 2022, mostra murais com o tema "Família e Crianças" em Bakhmut. Em maio, a linha de frente da guerra chegou à cidade, e os tiros e bombardeios aéreos começaram. Muitas casas foram seriamente danificadas.
Foto: JORGE SILVA/REUTERS
"Você se sente um sem-teto"
Blocos de apartamentos no leste de Bakhmut foram os primeiros a serem atingidos por ataques russos. Hoje, os bairros se assemelham aos da cidade portuária destruída de Mariupol. "Você se sente um sem-teto, perdemos tudo. Não há para onde voltar", disse uma moradora chamada, Halyna, retirada de Bakhmut e cuja casa foi totalmente destruída.
Foto: Aris Messinis/AFP/Getty Images
Escola em ruínas
Dois professores de Bakhmut se abraçam em frente às ruínas de sua escola. Ela foi bombardeada pelo exército russo em 24 de julho de 2022. O prédio ficou bastante danificado. Não houve mortos ou feridos no ataque.
Foto: Diego Herrera Carcedo/AA/picture alliance
Patrimônio cultural em pedaços
O bombardeio russo causou a destruição de muitos prédios históricos importantes em Bakhmut, incluindo o Palácio da Cultura, a antiga casa particular do comerciante Polyakov da década de 1880 e o antigo ginásio para meninas. Edifícios mais modernos, que já foram o "cartão de visitas" de Bakhmut, também foram destruídos.
Foto: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images
Preparativos para a retirada
Oleksandr Hawrys faz os preparativos finais para transferir a esposa e dois filhos de Bakhmut para Kiev. Em 7 de março de 2023, menos de 4 mil pessoas ainda estavam na cidade, que antes da guerra tinha 73 mil habitantes.
Foto: Metin Aktas/AA/picture alliance
Só ficaram os solteiros e os mais fracos
Mais de 90% dos residentes deixaram Bachmut e arredores. Por meses, algumas lojas e uma farmácia ainda funcionaram durante momentos de trégua. Instituições de caridade e voluntários levaram ajuda humanitária aos moradores da cidade.
Foto: ANATOLII STEPANOV/AFP/Getty Images
Eles resistem, apesar de tudo
A grávida Olha e seu marido, Wlad, em 28 de janeiro de 2023 em frente a um abrigo antiaéreo em Bakhmut. O casal está entre os poucos civis que permaneceram na cidade, apesar dos violentos combates. Atualmente, para entrar em Backmut é preciso um passe especial.
Foto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance
Viver sob medo constante
A aposentada Valentyna Bondarenko, de 79 anos, olha pela janela de seu apartamento em Bakhmut, em agosto de 2022. Por causa dos bombardeios sem fim e do perigo constante, muitos moradores de Bakhmut permanecem em porões e abrigos de emergência por meses.
Foto: Daniel Carde/Zumapress/picture alliance
O dia a dia num porão
"Estamos acostumados aos zumbidos e explosões", disse Nina, de Bakhmut, à DW. Suas filhas foram "para a Europa", mas ela e o marido pretendem ficar enquanto o exército ucraniano estiver na cidade. Se a situação piorar, eles querem deixar a cidade "para não perturbar os militares quando o inimigo se esconder atrás das casas".
Foto: Oleksandra Indukhova/DW
Na fila pela ajuda humanitária
A situação humanitária na cidade piorou, principalmente nos últimos meses de 2022, depois da ofensiva das tropas russas de 1º de agosto. A rede elétrica foi danificada pelos ataques e bombardeios. O abastecimento de alimentos se tornou difícil, e a telefonia móvel entrou em colapso. Até voluntários foram atacados.
Foto: Diego Herrera Carcedo/AA/picture alliance
Batalhas de artilharia pesada
As principais batalhas por Bakhmut são travadas entre unidades de artilharia. Segundo estimativas militares, quase toda a gama de artilharia e morteiros fica nesta área. Bakhmut é fortemente atacada por unidades do exército privado russo Grupo Wagner. Os militares ucranianos continuam resistindo aos ataques.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Bandeira ucraniana de Bakhmut no Congresso dos EUA
Em 20 de dezembro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, visitou soldados ucranianos perto de Bakhmut. De lá, ele levou uma bandeira ucraniana, que deu à presidente da Câmara, Nancy Pelosi, dois dias depois, durante sua visita ao Congresso dos Estados Unidos. A bandeira traz as assinaturas de soldados que defendem a soberania da Ucrânia nas linhas de frente.
Foto: Carolyn Kaster/AP Photo/picture alliance
Tratamento dos feridos em Bakhmut
As principais tarefas dos médicos militares no front são estabilizar os feridos, prevenir mortes por perda de sangue e choque e, em casos graves, garantir o transporte para hospitais de áreas mais seguras no interior do país.
Foto: Evgeniy Maloletka/AP Photo/picture alliance
Cidade está 80% em ruínas
A foto é dos últimos dias de dezembro de 2022. A fumaça sobe sobre as ruínas de casas nos arredores de Bakhmut. De acordo com as autoridades locais, em março de 2023 os violentos combates já haviam destruído mais de 80% da área habitacional da cidade.
Foto: Libkos/AP/picture alliance
Destruição registrada por satélite
Uma imagem de satélite divulgada pela Maxar em 4 de janeiro de 2023 mostra a extensão da destruição em Bakhmut. "A cidade tem sido o centro de intensos combates entre as forças russas e ucranianas nos últimos meses, e as imagens mostram danos significativos em prédios e infraestrutura", informou a empresa aeroespacial.
Foto: Maxar Technologies/picture alliance/AP
Cidade-fantasma
Esta foto de 13 de fevereiro de 2023, tirada por um drone da agência de notícias AP, mostra a extensão da destruição causada pelos combates. Fileiras inteiras de casas foram destruídas, apenas as paredes externas e as fachadas danificadas ainda estão de pé. Telhados, tetos e pisos desmoronaram, e a neve se acumula dentro das ruínas.
Foto: AP Photo/picture alliance
"Fortaleza Bakhmut"
Um soldado ucraniano diante de uma pichação no centro da cidade que diz "Bakhmut ama a Ucrânia". Embora a liderança política e militar da Ucrânia tenha decidido continuar defendendo o lugar, a Otan não descarta que Bakhmut possa cair, embora isso não signifique necessariamente uma virada na guerra.