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Chefe do governo de transição do Sudão renuncia

12 de abril de 2019

General Awad Ibn Auf anunciou decisão um dia após a derrubada do ditador Omar al-Bashir. País continua a ser palco de protestos. Manifestantes temem que junta militar esteja tentando instaurar uma nova ditadura.

Sudan Vizepräsident Awad Ibn Auf
O general Awad Mohamed Ahmed Ibn Auf, que havia assumido a liderança do autoproclamado governo de transiçãoFoto: picture-alliance/Xinhua/M. Khidir

O chefe da junta militar que assumiu o governo do Sudão anunciou sua renúncia nesta sexta-feira (12/04), apenas um dia após a derrubada do ditador Omar al-Bashir, que comandou brutalmente o país por quase três décadas.

O ministro da Defesa, general Awad Mohamed Ahmed Ibn Auf, comunicou sua decisão de deixar o cargo em uma transmissão na TV estatal. Um dia antes, ele havia anunciado que os militares assumiram o controle do país, encerrando a ditadura pessoal de Bashir.

O breve líder da junta será substituído por outro general: Abdel Fattah al-Burhan Abdulrahman.

A queda do ditador na quinta-feira ocorreu em meio a intensos protestos da população, que desde dezembro vinha realizando manifestações para exigir a saída de Bashir. Inicialmente, a queda do ex-ditador foi celebrada pelos manifestantes, mas as primeiras medidas tomadas pela junta logo levantaram o temor de que o antigo regime seja substituído por uma nova ditadura militar e que a queda de Bashir não passou de uma disputa interna pelo poder.

Líderes dos protestos civis classificaram os membros da junta de "os mesmos velhos rostos" do antigo regime. Awad Ibn Auf, por exemplo, era chefe do setor de inteligência do Exército durante o conflito de Darfur nos anos 2000, que provocou a morte de 300 mil pessoas no sul do país. Em janeiro, ele havia assumido o posto de primeiro vice-presidente do país (a estrutura política prevê dois ocupantes para o cargo de vice, cada um de uma região diferente do Sudão).

Khalid Omer, que lidera o oposicionista do Partido do Congresso Sudanês, expressou sua desconfiança em entrevista à DW "Eles (a junta militar) estão tentando roubar a revolução. Se você quiser iniciar um diálogo genuíno, não suspenderá a Constituição", disse.

Como resultado, os manifestantes continuaram a ocupar as ruas, agora redirecionando sua insatisfação contra as medidas anunciadas pela junta.

Os militares anunciaram que pretendem formar um governo de transição  liderado por um "conselho” militar com validade de dois anos. Eles também suspenderam a Constituição e impuseram um toque de recolher no país entre 22h e 4h, com duração de um mês. A junta também decidiu não entregar Bashir ao Tribunal Penal Internacional (TPI). O ex-ditador é acusado de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade no conflito armado da região de Darfur.

Ao menos 13 pessoas morreram em protestos realizados em vários pontos do Sudão na quinta-feira, dia em que os militares derrubaram Bashir. O Comitê Central de Médicos, sindicato de oposição a Bashir, denunciou que as pessoas morreram após disparos das forças do regime, sem explicar quem abriu fogo contra os manifestantes.

O sindicato destacou ainda que 35 pessoas morreram desde 6 de abril, quando teve início a ocupação dos arredores do quartel-general em Cartum para pedir o apoio dos militares contra o então presidente do país.

JPS/dpa/ots

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