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Chefe do IPCC pede cautela quanto a metas do Acordo de Paris

31 de julho de 2023

Novo presidente de painel intergovernamental do clima da ONU alerta contra "supervalorização" da meta de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC, mas critica políticas insuficientes para lidar com as mudanças climáticas.

Fumaça densa se ergue sobre uma usina de carvão na Alemanha
Fracasso em limitar o aquecimento global deve gerar inúmeros problemas e tensões sociais, mas ainda não implicaria em uma ameaça existencial à humanidade, diz SkeaFoto: S. Ziese/blickwinkel/IMAGO

O novo indicado para chefiar o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), Jim Skea, alertou contra uma supervalorização da meta de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC em comparação com os níveos pré-industriais.

Em entrevista concedida à revista alemã Der Spiegel, publicada neste fim de semana, o cientista escocês disse que a comunidade internacional valoriza demais a meta estabelecida no Acordo de Paris.

"Não devemos nos desesperar e cair em um estado de choque se as temperaturas globais aumentarem nesse patamar", afirmou.

Em outra entrevista concedida à agência alemã de notícias DPA, ele explicou mais detalhadamente os motivos que o levaram a essa conclusão.

"Se comunicarmos constantemente a mensagem de que estamos fadados à extinção, isso vai paralisar as pessoas e evitar que elas adotem as medidas necessárias para controlarmos as mudanças climáticas", afirmou.

"O mundo não vai acabar com mais de 1,5 ºC", disse Skea. "De qualquer forma, será um mundo mais perigoso", acrescentou.

Ele observou que o fracasso em limitar o aquecimento global deve gerar inúmeros problemas e tensões sociais, mas ainda não implicaria em uma ameaça existencial à humanidade.

O escocês Jim Skea, de 69 anos, trabalhava na Imperial College de Londres desde 2009Foto: Melissa Walsh/IPCC/dpa/picture alliance

Estimativas da ONU sugerem que as medidas adotadas pelos países para conter o aquecimento do planeta não serão suficientes para atingir a meta estipulada pelo Acordo de Paris.

Skea, nascido em Dundee, na Escócia, é formado em física e elaborou sua tese de doutorado em pesquisas sobre energia. Ele trabalhava no Imperial College de Londres desde 2009.

O pesquisador de 69 anos esteve envolvido com o IPCC desde a sua fundação nos anos 1990, do qual foi nomeado como presidente na quarta-feira da semana passada.

À Spiegel, ele disse haver boas razões para sermos otimistas na batalha contra o aquecimento global.

"Cada medida que adotamos para enfraquecer as mudanças climáticas já ajuda", observou, acrescentando que isso se torna cada vez mais economicamente viável.

Para ele, o objetivo maior em curto prazo deve ser a expansão das energias renováveis para reduzir as emissões resultantes da geração de energia através dos combustíveis fósseis e da combustão dos veículos motorizados.

"A longo prazo, nós provavelmente não conseguiremos viver sem soluções tecnológicas como a captura de CO2 no subsolo."

Abstinências individuais não bastam

Skea acredita que uma área onde haverá grandes dificuldades será mudar os estilos de vida das pessoas. A seu ver, nenhum cientista deve dizer às pessoas como elas têm de viver e o que devem comer.

"A abstinência individual é algo bom, mas, isoladamente, não trata as mudanças na extensão necessária", disse o cientista. "Se quisermos viver de maneira mais consciente em relação ao clima, precisaremos de uma infraestrutura completamente nova. As pessoas não passarão a utilizar bicicletas se não houver ciclovias", argumenta.

O escocês também quer adaptar o IPCC de modo a fornecer alertas melhores e mais direcionados a grupos específicos de pessoas, sobre de que modo elas podem combater as mudanças climáticas.

Ele se refere a grupos como planejadores urbanos, proprietários de terras e empresários.

"Tudo isso diz respeito a pessoas reais e suas vidas reais, não abstrações científicas", afirmou à DPA

Em seu mandato à frente do IPCC, Skea também espera obter avanços sobre de que forma e para onde as verbas devem ser enviadas no intuito de lidar com a questão globalmente.

"Há bastante dinheiro no mundo; o desafio é fazer com que seja direcionado para os lugares certos", concluiu.

Políticas insuficientes

Na semana passada, em um entrevista após derrotar a candidatura da pesquisadora brasileira Thelma Krug para a presidência do IPCC, ele disse que as políticas adotadas pelos países para lidar com o aquecimento global não foram suficientes.

"[Os governos] não colocaram em prática políticas suficientemente ambiciosas para possibilitar que as metas de Paris fossem alcançadas", afirmou, citado pela agência de notícias Reuters.

"O fato de essas coisas estarem acontecendo não é, de certa forma, surpreendente, mas, sim, a velocidade com que isso nos atingiu e, a não ser que adotemos novas ações para reduzir as emissões, veremos isso ficar pior".

rc (AFP, Reuters, DPA)

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