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Chefe do principal organismo de ciência da UE renuncia

8 de abril de 2020

Em carta, Mauro Ferrari, que estava há apenas três meses no comando do Conselho Europeu de Pesquisa, reclamou falta de coordenação e colaboração de Estados-membros no combate à covid-19.

EU Symbolbild Bürokratie
Sede da Comissão Europeia, em BruxelasFoto: picture-alliance/dpa/I. Kjer

O presidente do Conselho Europeu de Pesquisa (ERC), principal organismo da União Europeia para o financiamento da ciência, renunciou ao cargo nesta terça-feira (07/04), pouco mais de três meses depois de assumir a função. Em uma carta divulgada pelo jornal Financial Times, Mauro Ferrari apontou ter ficado "desapontado" e "extremamente incomodado" com a resposta europeia à pandemia de covid-19.

"(Minhas) motivações idealistas foram esmagadas por uma realidade muito diferente, nos breves três meses desde que assumi o cargo. A pandemia de Covid-19 iluminou sem piedade o quanto eu estava enganado: em tempos de emergência, pessoas e instituições se voltam à sua natureza mais profunda e revelam seu verdadeiro caráter", escreveu Ferrari.

O ex-presidente falou que seus problemas na chefia do ERC começaram em março, "quando se tornou evidente que a pandemia seria uma tragédia de proporções, possivelmente, sem precedentes". Na ocasião, ele afirma ter pedido a criação de um programa especial para combater a covid-19 no âmbito do ERC.

"Pensei que, nessa altura, os melhores cientistas do mundo teriam acesso aos melhores recursos e oportunidades para combater a pandemia, com novos medicamentos, vacinas, ferramentas de diagnóstico e abordagens comportamentais baseadas na ciência, em vez das muitas vezes improvisadas intuições dos líderes políticos", disse.

No entanto, ele afirma que a ideia do programa foi rejeitada pelos 21 membros do conselho científico do ERC antes mesmo de qualquer discussão sobre seu formato e alcance. Posteriormente, segundo ele, sua "decepção foi parcialmente aliviada" quando a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediu aconselhamento sobre como a pandemia deveria ser abordada.

Ferrari afirma que elaborou um plano nos dias que se seguiram. Só que, segundo ele, o fato de ter trabalhado diretamente com Von der Leyen acabou gerando conflito com vários setores da Comissão Europeia, e o plano "se desintegrou".

"Eu estou extremamente decepcionado com a resposta europeia ao covid-19 no que diz respeito à ausência de coordenação das políticas de saúde entre os Estados-membros, à recorrente oposição a iniciativas coesas de apoio financeiro", completou.

"Receio ter visto o suficiente tanto da governança da ciência quanto das operações políticas na União Europeia. Nestes três longos meses, conheci muitos indivíduos excelentes e comprometidos, em diferentes níveis da organização do ERC e da Comissão Europeia. No entanto, perdi a fé no próprio sistema. E agora os tempos exigem ações decisivas, focadas e comprometidas - um chamado à responsabilidade por todos aqueles que aspiram fazer a diferença contra essa tragédia devastadora."

Ferrari, um italiano de 60 anos e especializado em nanomedicina, foi apresentado em maio do ano passado como o novo presidente do ERC. Ele assumiu o posto em 1° de janeiro último para um mandato de quatro anos.  Em 2020, o orçamento do ERC é de cerca de 2 bilhões de euros (11,3 bilhões de reais).

JPS/ots

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