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Tesla alemã faz visitas de inspeção a funcionários doentes

26 de setembro de 2024

Empresa realizou dezenas de visitas surpresa nas residências de funcionários que se ausentaram alegando motivos de doença. Sindicato critica política. Empresa defende medida e se queixa de alto índice de ausências.

Vista aérea da megafábrica da Tesla em Grünheide, Alemanha
Quase 12 mil funcionários trabalham na "gigafábrica" da Tesla nos arredores de BerlimFoto: Patrick Pleul/dpa/picture alliance

A direção da fábrica da Tesla no estado alemão de Brandemburgo vem ordenando visitas surpresa de inspeção nas residências de funcionários que se ausentarem do trabalho alegando motivos de doença.

A política foi revelada em uma reportagem publicada nesta quarta-feira (25/09) pelo jornal Handelsblatt, que teve acesso ao áudio de uma reunião interna no qual diretores da filial alemã se queixaram das ausências e discutiram os resultados das inspeções. A adoção da medida foi criticada pelo sindicato de metalúrgicos do país como uma "ação absurda".

No áudio da reunião, realizada na semana passada, segundo o jornal, dois diretores da "gigafábrica" de Grünheide, nos arredores de Berlim, conversaram sobre como alguns inspetores foram recebidos com "agressividade" quando tocaram a campainha das residências dos funcionários ausentes. 

Ainda segundo a reportagem, o diretor de produção André Thierig e o diretor de Recursos Humanos da filial, Erik Demmler, também insultaram funcionários com alto índice de ausências, dizendo que eles "não têm honra". "Nós não vamos tolerar que algumas pessoas tenham que arcar com mais peso em suas costas porque outros não estão com vontade de ir ao trabalho", disse Thierig na reunião. "Não há lugar nesta fábrica para pessoas que não queiram sair da cama."

A fábrica de Grünheide foi inaugurada em 2022, e conta com cerca de 12 mil funcionários. A Tesla, que tem o bilionário Elon Musk como CEO, é a maior empregadora privada do estado alemão de Brandemburgo. A fábrica, no entanto, costuma ser alvo de controvérsias, como críticas de ambientalistas sobre a derrubada de árvores para a expansão da planta, além de reportagens que abordam denúncias de assédio, desorganização e más condições de trabalho.

De acordo com a direção da fábrica, a taxa de ausência médica na fábrica em Grünheide chegou a 17% em agosto e 11% nos primeiros dias de setembro. Em termos estatísticos, os funcionários da Tesla ficam doentes com mais frequência do que a média nacional. De acordo com o Departamento Federal de Estatística, a média em toda a Alemanha foi de 6,1% no ano passado e de 5,2% no setor automobilístico em geral.

Após revelação, Tesla defende política de visitas de inspeção

Após a reportagem do Handelsblatt, o diretor da fábrica, André Thierig, disse não enxergar a adoção da política como algo incomum, e que "muitas empresas o fazem".

Ele ainda disse que a medida passou a ser cogitada a após uma quantidade acima do normal de funcionários se declararem doentes durante os meses do verão, na metade do ano. "às vezes, [a quantidade de ausências] chegava a 15% do total ou mais", disse.  "Queríamos apelar para a ética de trabalho da força de trabalho", disse ele, afirmando que a empresa não descarta realizar mais visitas de inspeção no futuro.

"Identificamos cerca de 200 funcionários que estão recebendo salários normalmente, mas que que sequer trabalharam este ano. Eles apresentam novos atestados médicos a cada seis semanas", disse Thierig. "Selecionamos duas dúzias de casos."

"Em nossas análises, alguns fenômenos se tornaram aparentes: nas sextas-feiras e nos plantões noturnos, um total de 5% a mais de funcionários se declara doente em comparação aos outros dias da semana", disse o diretor.

Ele argumentou ainda que isso não ocorre em razão de más condições de trabalho e sugeriu que alguns funcionários estariam tirando vantagem do sistema de bem-estar social da Alemanha. Ainda segundo o diretor, entre os mais de 1.500 funcionários com contratos temporários que trabalham nas mesmas condições, o índice de ausências por motivo de saúde é de apenas 2%.

"Nós informamos os trabalhadores sobre as visitas em uma reunião da empresa e explicamos a nossa perspectiva", disse Thierig. "Isso foi recebido com grande aprovação pelos funcionários. Anteriormente, já tínhamos relatos de trabalhadores que estavam frustrados com o alto nível de ausência de seus colegas."

Sindicato critica carga de trabalho excessiva

A política de inspeção foi criticada pelo sindicato dos metalúrgicos IG Metall, que anteriormente já havia criticado a direção da Tesla, alegando que os funcionários da fábrica de Grünheide são alvos constante de extrema pressão, assédio e frustração, além de sofrerem com um alto número de acidentes de trabalho.

"[É uma] ação absurda", disse Dirk Schulze, diretor do sindicato dos metalúrgicos IG Metall para a região de Brandemburgo, Berlim e Saxônia, após a revelação da política de inspeção.

"Funcionários de todas os departamentos da fábrica se queixam de cargas de trabalho extremamente pesadas", observou. "Quando há menos funcionários, os doentes são colocados sob pressão e os que já estão sobrecarregados recebem cargas de trabalho adicionais."

"Se a direção da fábrica quiser realmente reduzir o número de dias de ausências de funcionários, deve quebrar esse círculo vicioso", criticou Schulze.

Legalidade das inspeções

Ao jornal Handelsblatt, advogados trabalhistas afirmaram que as visitas realizadas pela Tesla não são ilegais. "Essas visitas domiciliares são permitidas se houver suspeita de que o atestado médico seja falso", disse o especialista em direito trabalhista Till Heimann, de Frankfurt. "O empregador tem permissão para fazer essa visita para se proteger de fraudes", acrescentou o advogado de Düsseldorf, Julius Reiter.

No entanto, eles apontaram que os funcionários também têm o direito de se negar a receber essas visitas não anunciadas ou não atender à companhia. "É nesse ponto que o direito à privacidade entra em jogo", disse Heimann.

jps/rc (dpa, ots)

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