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Chico Teixeira volta a Berlim com "Ausência"

Marco Sanchez7 de fevereiro de 2015

Novo filme do cineasta brasileiro trata da difícil entrada de um menino de 15 anos na vida adulta. Projeto já havia participado da Berlinale em 2012 como parte do Co-production Market do festival.

Berlinale 2015 Ausência EINSCHRÄNKUNG
Cena do filme "Ausência", apresentado na mostra Panorama este ano na BerlinaleFoto: Berlinale 2015

"Ausência" tematiza infância interrompida

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Ausência, segundo longa do cineasta Chico Teixeira, marca não só sua volta à Berlinale, mas também o retorno a Berlim de um projeto que já esteve na cidade procurando parcerias no Co-production Market do festival em 2012.

"Eu ainda estava trabalhando no argumento. Foi em Berlim que percebi diferentes lados da história e mudei o título. As pessoas esperavam um filme sobre circo e, na verdade, o que eu queria contar era a história desse menino", conta Teixeira em entrevista à DW Brasil.

Originalmente intitulado O circo de Santo Amaro, o filme coloca o circo em segundo plano para focar em Serginho (Matheus Fagundes), um jovem lidando com a nova situação de sua família.

"Você tem que ouvir os personagens. Eles são um mergulho profundo dentro de você. Houve mudanças no projeto partindo de discussões que eu tive com distribuidores em Berlim", diz o diretor cujo primeiro longa, A casa de Alice, fora selecionado para a Berlinale em 2007.

Consequências de um abandono

A ausência do título se faz presente em seu prólogo. Dentro de um carreto, três homens dirigem-se a uma casa. Um deles está de mudança. Nos objetos que retira desse universo, ele cria o vazio que depois vai permear o destino dos personagens.

"No começo, eu queria falar dos bastidores do circo e comecei a perceber que não era isso. Eu tinha que falar da solidão desse garoto de 15 anos. Do abandono dele", explica Teixeira.

Além de "Ausência", Chico Teixeira (foto) também dirigiu o longa "A Casa de Alice"Foto: AP

A câmera realista do cineasta passa a acompanhar o primogênito da família. Sem uma figura paterna, Serginho procura seu lugar em um mundo que ele está começando a descobrir em sua completitude e complexidade.

O menino assume o papel de homem da casa, driblando suas obrigações da vida adolescente. Ele passa a trabalhar na feira com o tio. Em casa, ele tem que cuidar do irmão menor e da mãe, perdida entre os bicos que faz para ganhar dinheiro, sua dor e o álcool.

"Ele fica muito ressentido com a saída do pai de casa, que gerou um buraco na vida dele. Quando temos um desafeto, vamos procurar esse amor em outra pessoa. O Serginho ficou sem chão. Na procura de carinho, ele começa a migrar seus sentimentos", explica o cineasta.

Sexo como busca da afetividade

Ao mesmo tempo em que começa a entender como a vida adulta funciona, Serginho passa a procurar o afeto que lhe falta. Na feira, ele encontra certa liberdade e independência. Se do tio ele não recebe afeição, o rapaz busca conforto em sua amizade com Mudinho e Silvinha. Outro escape para sua dura realidade são suas visitas ao circo.

Em sua timidez, Serginho encontra proteção durante as visitas à casa do professor Ney. Essa busca começa a se intensificar de maneira que o próprio jovem não entende. A sexualidade começa a permear suas relações, dentro e fora do seu círculo familiar.

"Eu queria ter esse lance da sedução na história. No fundo, o filme é extremamente sexual, mas no escuro. Tudo está camuflado no não dito. É uma sexualidade que ele ainda não entende porque ela ainda não está definida", explica o diretor.

Ao mergulhar no universo da classe média baixa, o cineasta busca verdade em personagens onde a sinceridade é a única alternativa de sobreviver, mesmo que isso os prive de amor e compreensão. Nesse turbilhão de emoções, Serginho só consegue enxergar futuro no único pedacinho de ilusão que resta em sua vida.

"Fazer cinema é um mergulho muito grande dentro de você mesmo. Não me sinto um cineasta, mas um artista, porque tudo que você vê na tela vem das minhas vísceras, do meu estômago, do meu coração, da minha angústia", afirma Teixeira.

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