H. Mund/W. Herzog/C. Albuquerque4 de abril de 2016
Alejandro Aravena é agraciado em Nova York com o Prêmio Pritzker, considerado o Oscar da arquitetura. Ele defende a importância da disciplina na busca por soluções, particularmente na área de habitação coletiva.
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O arquiteto chileno Alejandro Aravena, de 48 anos, recebe na noite desta segunda-feira (04/04), na sede da ONU em Nova York, a medalha do Prêmio Pritzker. Dotado de 100 mil dólares, ele é considerado o Oscar da arquitetura.
Aravena é o quarto latino-americano a receber a honraria, depois do mexicano Luis Barragán (1980) e dos brasileiros Oscar Niemeyer (1988) e Paulo Mendes da Rocha (2006). No ano passado, o arquiteto alemão Frei Otto (1925-2015) foi o primeiro arquiteto a receber o Prêmio Pritzker póstumo.
A maior parte dos trabalhos de Aravena, baseado em Santiago, se encontra no Chile, mas ele também fez projetos no México, na Alemanha, na Suíça e nos Estados Unidos. O arquiteto também é o diretor da Bienal de Arquitetura de Veneza de 2016.
O júri do Pritzker destacou o trabalho do chileno no coletivo Elemental, um grupo de arquitetos de Santiago cujo foco está em projetos de interesse público e impacto social. O grupo já projetou mais de 2.500 unidades habitacionais economicamente acessíveis, incluindo uma chamada "casa boa e meia", que permite aos moradores completar eles mesmos os trabalhos de construção.
Habitação em foco
Em entrevista à Deutsche Welle, Aravena falou sobre os desafios da área da habitação coletiva. "Se tendemos a julgar a qualidade da habitação social somente pelo aspecto formal ou pela beleza, então, não entendemos que a real necessidade é ser capaz de abordar as questões econômicas, financeiras, ambientais e sociais durante a fase de projeto", comentou.
Segundo o arquiteto, a falta de moradia atinge hoje 2 bilhões de pessoas em todo o mundo. "E eu acho que, para estes números e para a escala da demanda, não temos ofertas suficientes de projetos e ideias corretas. Acredito ver agora mais boa vontade e um número maior de boas intenções. É um começo, mas não é suficiente para soluções mais eficientes", afirmou Aravena.
"Para se ter uma ideia, das 3 bilhões de pessoas morando em cidades atualmente, um bilhão vive abaixo da linha de oportunidade. Mas em 2030, teremos uma população urbana de mais de 5 bilhões de pessoas, e 2 bilhões estarão abaixo da linha de pobreza. Isso significa que teremos de construir uma cidade de um milhão de pessoas a cada semana", disse o chileno.
Disciplina coletiva
Ao receber a notícia do prêmio, Aravena já havia comentado por email: "Arquitetura é uma disciplina coletiva. Então, penso com gratidão em todas as pessoas que contribuíram para dar forma à enorme diversidade de forças em jogo."
Em entrevista à DW, o chileno disse que iria com todos os sócios do escritório e suas famílias para a premiação em Nova York. "Tudo que faço é com parceiros, é através da mão de trabalhadores, com outras disciplinas. Eu não posso fazer um projeto sozinho. Não é que eu acordo uma manhã com um enorme desejo de fazer um prédio de escritório, alguém tem que precisar dele", disse Aravena. "É preciso se esforçar por algo que é maior que você mesmo e produzir coisas com conhecimento e com mãos, que não são as nossas."
Questionado sobre a importância do prêmio que recebe nesta segunda-feira, Aravena respondeu que o Pritzker chama a atenção do mundo para a arquitetura e sua capacidade de oferecer soluções. "Acho que este prêmio é extremamente importante para comunicar à sociedade que há uma disciplina que pode contribuir com um tipo diferente de conhecimento. E, para esta disciplina, existem desafios nos quais é possível que não tenhamos prestado atenção até agora, e é hora de fazê-lo", concluiu.
Arquitetura latino-americana no MoMA
Após 60 anos, Museu de Arte Moderna de Nova York realiza primeira exposição sobre arquitetura latino-americana e resgata interesse pela produção arquitetônica da região.
Foto: Archivo Miguel Rodrigo Mazuré
Igreja Cristo Obrero, no Uruguai
A exposição "América Latina em Construção: Arquitetura 1955-1980" retrata a produção arquitetônica de um momento sem precedentes de urbanização na América Latina e que foi acompanhado de uma política estatal de crescimento econômico, conhecida como desenvolvimentismo. Na fotom vê-se a igreja Cristo Obrero, construída em 1958 pelo arquiteto Eladio Dieste em Atlántida, no Uruguai.
Foto: Archivo Miguel Rodrigo Mazuré
Brasília em sala especial
A exposição ocupa 1.200 metros quadrados e conta com cerca de 500 documentos oriundos de 11 países. Ela dá continuidade à última exposição realizada pelo MoMA sobre a arquitetura latino-americana, em 1955. Segundo Carlos Eduardo Comas, um dos curadores da mostra, o Brasil está representado com obras marcantes. Como se vê na imagem, Brasília ganhou uma sala especial no MoMA.
Foto: 2015 The Museum of Modern Art, New York
Construção Brasileira
Já nos anos 1940, a Arquitetura Moderna Brasileira passou a atrair atenção mundial. Em 1943, também como parte da política de boa vizinhança na Segunda Guerra, o MoMA inaugurou a exposição "Brazil Builds" ("Construção Brasileira"). Nos anos 1950, essa cultura experimental arquitetônica se espalhou do México ao Chile, diz o MoMA. Na foto tem-se a vista aérea da construção de Brasília em 1957.
Foto: Arquivo Publico do Distrito Federal
Praça dos Três Poderes
Entre os desafios da modernização esteve a construção de cidades inteiras. A ideia de transferir a capital do Brasil para o planalto central já nasceu no século 19, mas o local exato da nova cidade foi escolhido somente em 1955. Oscar Niemeyer assumiu a direção dos projetos e Brasília se tornou uma vitrine para a nova arquitetura. Na foto, tem-se uma visão da Praça dos Três Poderes.
Foto: Leonardo Finotti
Museu no Rio de Janeiro
A arquitetura brasileira está bem representada em Nova York. A foto mostra o pergolado do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, concebido no início da década de 1950 por Affonso Eduardo Reidy. Lá está também a maquete do Ministério da Educação no Rio de Janeiro, primeiro arranha-céu moderno, projetado por Lúcio Costa e equipe em 1936, além dos croquis de Oscar Niemeyer para o edifício da ONU.
Foto: Núcleo de Documentação e Pesquisa – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escola Nacional de Artes Plásticas de Havana
Segundo os curadores da mostra, depois da revolução de 1959, Cuba ofereceu um modelo opcional ao desenvolvimentismo capitalista, com novas atitudes frente ao espaço público e à relação entre o edifício e a paisagem, o que levou a formas e soluções arquitetônicas ousadas. Como a Escola Nacional de Artes Plásticas de Havana, construída pelo arquiteto Ricardo Porro entre 1961 e 1965.
Foto: Archivo Vittorio Garatti
Habitação social na Colômbia
Depois da Segunda Guerra, a América Latina enfrentou um intenso crescimento urbano. A região se tornou um laboratório de ideias de habitação e um mostruário do investimento governamental em infraestrutura habitacional. Na foto vê-se um complexo de habitação social, projetado por Rogelio Salmona e Hernán Vieco, em San Cristóbal, nos arredores da capital colombiana, Bogotá, entre 1963 e 1966.
Foto: Paolo Gasparini/Fundación Rogelio Salmona
Guerra Fria arquitetônica
Segundo os curadores da mostra, a habitação se tornou objeto de disputa ideológica durante a Guerra Fria. Programas como Aliança para o Progresso, dos EUA, se confrontaram com a exportação soviética de tecnologia de pré-fabricação para Cuba e para o Chile de Salvador Allende. Na foto, vê-se o complexo residencial Torres del Parque, construído por Rogelio Salmona em Bogotá entre 1964-1970.
Foto: Leonardo Finotti/Leonardo Finotti
Arquitetura mexicana tipo exportação
Após a Segunda Guerra Mundial, a América Latina também exportou arquitetura em forma de expertise, edifícios e projetos. O México forneceu escolas para diversos países, como a ex-Iugoslávia, Itália, Índia e Indonésia. A imagem mostra o interior do Pavilhão Mexicano na Trienal de Milão, projetado em 1968 por Eduardo Terrazas, com inspiração no logotipo olímpico.
Foto: Eduardo Terrazas Archive
Hotel Humbold, na Venezuela
Caracas era uma cidade calma até a descoberta de petróleo na Venezuela, nos anos 1920. Investimentos externos e migrantes rurais a transformaram numa metrópole. Nos anos 1950, o ditador Marcos Pérez Jiménez lançou um programa nacional prometendo a "transformação racional do ambiente físico". Dele fez parte a construção do Hotel Humbold por Tomás José Sanabria, em 1956, em Caracas.
Foto: Fundación Alberto Vollmer
Cepal no Chile
Entre 1955 e 1980, os arquitetos latino-americanos estiveram intimamente envolvidos com a ideia do desenvolvimentismo, a doutrina de que o Estado deveria promover a modernização e a industrialização em todos os setores. Um dos símbolos dessa época é a sede da Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe (Cepal), construída por Emilio Duhart, entre 1962 e 1966, em Santiago, Chile.
Foto: Courtesy PUC Archivo de Originales
Banco de Boston em Buenos Aires
Construído entre 1959 e 1966 pelo arquiteto Clorindo Testa, em Buenos Aires, o prédio do Banco de Boston é uma das obras-primas do período abrangido pela exposição. Testa projetou um tipo totalmente inédito de bloco urbano construtivo, criando uma nova permeabilidade entre o interior e o espaço público. A exposição "América Latina em Construção" está em cartaz no MoMA até 19 de julho.
Foto: Archivo Manuel Gomez Piñeiro, Courtesy of Fabio Grementieri