Qu Dongyu vence pleito para chefiar agência da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO). Ele sucede a José Graziano, que ficou oito anos no cargo. Com eleição, China reforça sua posição nas Nações Unidas.
Anúncio
O vice-ministro de Agricultura da China, Qu Dongyu, venceu neste domingo (23/06), em Roma, a eleição para chefiar a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) pelos próximos quatro anos.
O biólogo chinês derrotou os candidatos da França e da Geórgia ao obter no primeiro turno 108 votos, ou seja, mais de 50% dos votos dos 194 países participantes.
A candidata francesa e da União Europeia, Catherine Geslain-Lanéelle, recebeu 71 votos, enquanto o ex-ministro georgiano de Agricultura Davit Kirvalidze obteve apenas 12.
Qu, de 55 anos, deverá assumir o cargo de diretor-geral em 1° de agosto, substituindo o brasileiro José Graziano da Silva.
Desde 2012, a chefia da FAO era ocupada por José Graziano, que permaneceu durante dois mandatos, de 2012 a 2015 e de 2015 a 2019. O brasileiro havia entrado na FAO em 2006, quando foi nomeado diretor-geral adjunto para a América Latina e Caribe.
Durante sua campanha, Qu propôs se concentrar na erradicação da fome nas regiões pobres, modernizar a agricultura nas zonas tropicais e secas, promover a digitalização e inovar os modelos de cooperação.
"Quero agradecer à minha pátria depois destes 40 anos de reformas bem-sucedidas e política aberta", disse o representante chinês em suas primeiras palavras após ganhar a eleição, na qual só houve uma abstenção.
Qu tem 30 anos de experiência, que engloba desde o desenvolvimento de tecnologias digitais na agricultura até a introdução do microcrédito em áreas rurais.
Com a eleição de Qu, a China reforça sua posição no sistema das Nações Unidas num momento de disputa comercial com os Estados Unidos e com projetos como o da Nova Rota da Seda, que inclui grandes investimentos em países terceiros.
"Pequim fez um grande esforço para conseguir cargos mais altos na ONU nos últimos anos", disse Richard Gowan, analista do International Crisis Group, de Bruxelas.
O país enfrenta atualmente uma epidemia de febre suína que está dizimando seu rebanho, bem como uma guerra comercial com os Estados Unidos que o está forçando a buscar cereais e soja em outros lugares.
As crises levaram o setor de alimentos ao topo das prioridades do governo, disse Pequim na carta de candidatura de Qu à chefia da FAO.
A FAO fez soar o alarme sobre a crescente insegurança alimentar e os altos níveis de desnutrição. A eleição de Qu para o comando da agência sediada em Roma vem num momento em que a luta para erradicar a fome mundial está sendo prejudicada pelo aquecimento global e pelas guerras.
A fome atribuída aos efeitos combinados do clima extremo e errático, da desaceleração econômica e dos conflitos, particularmente na África e no Oriente Médio, aumentou nos últimos três anos.
O sucessor do brasileiro José Graziano da Silva terá que implementar políticas para alimentar uma população mundial que deve aumentar de 7,7 bilhões para 9,7 bilhões de pessoas em 2050.
CA/afp/lusa/efe
______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube
A origem de 10 alimentos que hoje são globalizados
A maioria do que se coloca no prato diariamente procede de lugares espalhados pelo mundo. Um novo estudo do Centro Internacional para a Agricultura Tropical (CIAT) identificou a origem de alimentos considerados globais.
Foto: picture-alliance/Ch. Mohr
Manga, verde, amarela ou rosa – e asiática
Ela é tropical e parece bem brasileira, mas originalmente surgiu no Sul da Ásia. A manga, assim como o coco, foi trazida para o Brasil com a colonização portuguesa e se adaptou bem ao clima. Ela faz parte da dieta de alimentos não nativos, que vem crescendo no mundo em consequência de preferências culturais, desenvolvimento econômico e urbanização, conforme comprovou o estudo do CIAT.
Foto: DW/A. Chatterjee
Arroz para meio mundo
O arroz vem originalmente da China mas virou item básico da dieta de mais da metade da população mundial. A produção de cada quilo exige de 3 mil a 5 mil litros de água. Em alguns países produtores, a contaminação por arsênico dos lençóis freáticos é tão forte, que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) alertou para as consequências do consumo do cereal.
Foto: Tatyana Nyshko/Fotolia
Trigo nosso de cada dia
O trigo já era cultivado há mais de 7 mil anos na região do Mar Mediterrâneo. Na forma de pão ou de outras massas, como o macarrão, é um dos alimentos mais importantes do mundo. Cultivado em enormes campos de monocultura, o cereal é também usado para alimentar animais . Os campeões do cultivo são China, Índia, Estados Unidos, Rússia e França.
Foto: Fotolia/Ludwig Berchtold
Milho, dos astecas aos transgênicos
Originário do Centro do México, o milho hoje é plantado em todos os continentes. Apenas 15% da safra vai parar nos pratos, pois a maior parte serve como ração para animais. A indústria o aproveita, ainda, para fabricar xarope de glucose e produzir combustível. Nos Estados Unidos, cerca de 85% da produção é de milho transgênico, e outros países vão pelo mesmo caminho.
Foto: Reuters/T. Bravo
Batata, dos Andes para a Europa
As batatas consumidas hoje em dia são variações de espécies silvestres dos Andes, na América do Sul. Só há cerca de 300 anos o tubérculo passou a ser cultivado em grande escala na Europa, sendo fundamental na dieta de países como a Alemanha e Irlanda. Atualmente, porém, o cultivo da batata no continente está em declínio, enquanto cresce nos maiores centros de produção: China, Índia e Rússia.
Foto: picture-alliance/dpa/J.Büttner
Açúcar, de cana ou beterraba
A cana-de-açúcar vem do Oeste da Ásia, embora não se saiba exatamente de onde. Já há mais de 2.500 anos era usada para adoçar. O Brasil é atualmente o principal produtor, com grande parte da safra destinada ao bioetanol, também para exportação. A colheita é um trabalho árduo e, em geral, mal pago. O açúcar de cana é mais barato no mercado mundial do que o de beterraba, originário da Europa.
Foto: picture-alliance/RiKa
Banana, a preferida global
Cheia de vitaminas, a banana engorda menos do que reza sua fama. Fruta preferida em escala mundial, ela tem origem no Sudoeste Asiático. Hoje é cultivada principalmente na América Latina e Caribe, a custos tão baixos que saem mais baratas na Alemanha do que as maçãs cultivadas no próprio país. As condições para os trabalhadores rurais costumam ser ruins e há uso intensivo de pesticidas.
Foto: Transfair
Café, prazer com reflexos sociais
Procedente da Etiópia, o café é a segunda bebida mais consumida e principal fonte de renda de cerca de 25 milhões de produtores no mundo. Contando-se as famílias, são 110 milhões de pessoas dependentes das flutuações do mercado mundial. Contudo vem ganhando espaço a negociação por cooperativas e empresas de comércio justo. Mais de 800 mil pequenos agricultores já aderiram a esse sistema.
Foto: picture-alliance/dpa/N.Armer
Chá, relíquia colonialista
O chá vem da China e era servido aos imperadores. Tirando a água pura, é a bebida mais consumida do planeta: a cada segundo, mais de 15 mil xícaras são ingeridas. Considerado bebida nacional na Inglaterra, o chá ainda hoje é produzido principalmente nas antigas colônias do Império Britânico, como o Quênia, Índia e Sri Lanka. As condições do trabalho no campo são catastróficas.
Foto: DW/Prabhakar
Cacau, presente dos deuses
Os astecas, na atual América Central, usavam os grãos de cacau como moeda e oferenda. Também preparavam com eles uma bebida que diziam vir dos deuses. Não é difícil de acreditar: hoje o chocolate é amado no mundo inteiro. Produzido numa estreita faixa próxima ao Equador, o cacau sofre flutuações de preço no mercado mundial que afetam duramente os pequenos agricultores.