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Religião

China e Vaticano fazem acordo histórico para retomar laços

22 de setembro de 2018

Papa reconhece sete bispos indicados pelo regime chinês, como parte de um pacto rumo ao degelo diplomático. Relações entre Pequim e a Santa Sé foram rompidas há 67 anos, tendo a China sua própria Igreja Católica.

Papa Francisco se reúne com fiéis chineses em Roma, em foto de outubro de 2016
Papa Francisco se reúne com fiéis chineses em Roma, em foto de outubro de 2016Foto: picture-alliance/Pressefoto ULMER/A. Lingria

O Vaticano e a China anunciaram neste sábado (22/09) um acordo histórico que promete contribuir para o degelo das relações diplomáticas entre ambos, rompidas há quase 70 anos. O primeiro passo foi o reconhecimento por parte da Santa Sé de bispos nomeados pelo governo chinês.

Como parte do acordo, o papa Francisco aceitou neste sábado a nomeação de sete bispos chineses, entre os 60 indicados pelo regime do país nas últimas décadas sem o consentimento do Vaticano. Em outros países, é normalmente o pontífice quem nomeia os bispos locais.

Até então, a China vinha se recusando a aceitar que a nomeação viesse do Vaticano, uma vez que não reconhece o papa como chefe da Igreja Católica, enquanto a Santa Sé se negava a reconhecer que bispos fossem impostos pelo governo comunista, o que não ocorre em outros países.

Segundo um comunicado do Vaticano, os bispos chineses reconhecidos por Francisco são Giuseppe Guo Jincai, Giuseppe Huang Bingzhang, Paolo Lei Shiyin, Giuseppe Liu Xinhong, Giuseppe Ma Yinglin, Giuseppe Yue Fusheng e Vincenzo Zhan Silu.

"O papa Francisco deseja que, com as decisões tomadas, seja possível iniciar um novo caminho que permita superar as feridas do passado, realizando a plena comunhão de todos os católicos chineses", acrescenta a nota.

O acordo que trata da futura nomeação de bispos chineses, ainda provisório, foi assinado neste sábado em Pequim pelo subsecretário de relações do Vaticano com os Estados, Antoine Camilleri, e pelo vice-ministro do Exterior da China, Wang Chao.

O Vaticano não informou o conteúdo do acordo, mas fontes sugerem que, daqui em diante, é o papa quem terá a palavra final sobre a nomeação dos bispos, que serão, contudo, escolhidos com ajuda do governo em Pequim e seguindo algumas propostas do governo chinês.

Igreja Patriótica Chinesa é desvinculada do Vaticano. Com o acordo, espera-se que ambas Igrejas passem a ser uma sóFoto: Getty Images/K. Frayer

Falando de Vilnius, na Lituânia, onde Francisco estava em visita, o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, indicou apenas que o acordo servirá como um modelo para futuras nomeações de bispos, que lideram os fiéis em suas diversas dioceses espalhadas pelo mundo.

Burke acrescentou que o pacto "não é político, mas pastoral, a fim de permitir que os fiéis tenham bispos que estejam em comunhão com Roma mas, ao mesmo tempo, sejam reconhecidos pelas autoridades chinesas".

Com o pacto, a China e o Vaticano resolvem seu principal motivo de conflito. Os dois Estados cortaram seus laços diplomáticos em 1951, dois anos depois de o líder comunista Mao Tsé-tung ter estabelecido a República Popular da China.

À época, a Santa Sé excomungou dois bispos nomeados por Pequim, e as autoridades chinesas reagiram com a expulsão do núncio apostólico, que se assentou na ilha dissidente de Taiwan.

Desde então, o regime chinês só reconhece o catolicismo através de sua Igreja Patriótica Chinesa, desvinculada do Vaticano. Com o acordo deste sábado, espera-se que as duas Igrejas passem a ser uma só.

As tentativas de restaurar as relações bilaterais entre a China e o Vaticano foram retomadas com o pontificado de Francisco, tendo ambas as partes manifestado em diversas ocasiões vontade de melhorar seus laços.

Críticos, porém, condenam a retomada de laços pastorais entre os dois Estados, e chegaram a classificar o acordo deste sábado de traição. "Eles estão colocando o rebanho na boca dos lobos. É uma incrível traição", afirmou o cardeal Joseph Zen, ex-arcebispo de Hong Kong, que liderou a oposição ao pacto.

"As consequências serão trágicas e duradouras, não só para a Igreja na China, mas para toda a Igreja Católica, porque prejudica a credibilidade", acrescentou o cardeal, em entrevista à agência de notícias Reuters.

EK/ap/dpa/efe/lusa/rtr

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