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China isola cidades para conter surto de coronavírus

24 de janeiro de 2020

Milhões de pessoas na província de Hebei são confinadas, e eventos do Ano Novo chinês são cancelados. Número de mortos sobe para 25. OMS descarta emergência global, apesar de casos registrados em diversos países.

Temores da disseminação da doença em larga escala levaram autoridades chinesas a isolar cidades
Temores da disseminação da doença em larga escala levaram autoridades chinesas a isolar cidadesFoto: AFP/M. Ralston

A China colocou cerca de 20 milhões de pessoas sob confinamento nesta quinta-feira (23/01) em cidades localizadas no centro de um misterioso surto de doenças respiratórias causadas por um coronavírus. Autoridades de saúde confirmaram que o número de mortos aumentou para 25, com 830 pessoas infectadas.

Temores quanto a uma maior disseminação da doença levaram autoridades de saúde em todo o mundo a agir para evitar uma pandemia global.

Agências de saúde na China e no exterior temem que a taxa de infecção possa aumentar com a aproximação do feriado do Ano Novo chinês, de 25 de janeiro a 18 de fevereiro, quando centenas de milhões de pessoas viajam pelo país ou para o exterior.

Por precaução, Pequim cancelou as tradicionais celebrações que reúnem todos os anos enormes multidões nos templos da cidade. A histórica Cidade Proibida será fechada a partir deste sábado.

A Comissão Nacional de Saúde da China havia confirmado nesta quinta-feira 17 mortes na província central de Hubei, onde se localiza Wuhan, a cidade de 11 milhões de pessoas onde o surto teve início. Já na província de Hebei, ao sul de Pequim, autoridades confirmaram a morte de um homem de 80 anos infectado pelo coronavírus, sendo esta a primeira morte fora do local de origem.

O tráfego aéreo e ferroviário a partir de Wuhan está suspenso por tempo indeterminado, e a passagem nos pedágios das estradas que levam à cidade foi bloqueada, gerando pânico entre os que permanecem dentro da área de contenção e temores quanto a uma possível escassez de alimentos e desinfetantes.

"O isolamento de 11 milhões de pessoas é algo sem precedentes na história da saúde pública", afirmou o representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Pequim, Gauden Galea.

Pouco depois do isolamento de Wuhan, autoridades da vizinha Huanggang anunciaram a suspensão do transporte público e ferroviário a partir da meia-noite. A população de 7,5 milhões de pessoas recebeu ordens de não deixar a cidade. O mercado central, cinemas e parte do comércio permanecerão fechados.

A cidade de Ezhou, de 1,1 milhão de habitantes, também em Hubei, anunciou o fechamento de sua estação de trens. Outras três cidades na província impuseram restrições ao transporte público ou ao tráfego rodoviário.

A emissora estatal CCTV informou que o governo está destinando 1 bilhão de yuans (144 milhões de dólares) para medidas de prevenção e controle da epidemia em Hubei, enquanto três equipes de cientistas tentam desenvolver uma vacina.  

As autoridades suspeitam que a fonte primária do surto, iniciado em dezembro, sejam animais silvestres comercializados ilegalmente em um mercado em Wuhan, a partir de onde o vírus começou a se espalhar. Os sintomas são febre e cansaço, acompanhados de tosse seca e, em muitos casos, dificuldades respiratórias.

Medidas tomadas em outros países

Passageiros vindos das regiões afetadas são vistoriados e examinados em aeroportos americanos e europeus e em vários centros de transporte público na Ásia.

A Tailândia confirmou quatros casos da doença, enquanto Cingapura, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e os Estados Unidos relataram um cada. Hong Kong, com duas infecções detectadas, transformou dois acampamentos de férias em estações de quarentena, como medida de precaução. O Vietnã afirmou que dois cidadãos chineses no país foram diagnosticados com a doença.

A misteriosa pneumonia, transmitida principalmente pelas vias respiratórias, é causada por uma nova cepa de coronavírus, identificada como 2019-nCoV (Novel Coronavírus 2019). A vice-ministra da Comissão Nacional de Saúde da China, Li Bin, alertou que existe a possibilidade de o vírus sofrer mutação, possibilitando uma disseminação maior da doença.

O governo classificou o surto na mesma categoria da epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que se espalhou pela China em 2003, causando 646 mortes no país e 813 em todo o mundo, de acordo com dados da OMS. Essa categorização implica o isolamento compulsório de pacientes e a possível aplicação de medidas de quarentena.

OMS descarta emergência global

O Comitê de Emergência da OMS, composto por 16 especialistas independentes, decidiu nesta quinta-feira que o surto do novo coronavírus não constitui uma emergência global de saúde, mas afirmou que acompanha a evolução da doença minuto a minuto.

"Não se enganem, porém. Isso é uma emergência na China", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. "Entretanto, ainda não se tornou uma emergência global, o que ainda poderá acontecer", observou.

"A China tomou as medidas que acredita serem apropriadas para conter a disseminação em Wuhan e outras cidades. Esperamos que seja eficiente e de curta duração", disse Ghebreyesus.

RC/afp/rtr

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