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China planeja lua artificial para iluminação de rua

Hannah Fuchs ca
25 de outubro de 2018

Soa a megalomania, mas é sério: Pequim quer instalar enorme espelho solar no espaço para iluminar metrópole e economizar eletricidade. O que parece absurdo é uma ideia já antiga e que deixa muitas perguntas em aberto.

Lua verdadeira ilumina a cidade chinesa de Yinchuan em 2016Foto: picture-alliance/dpa

A China pretende lançar em órbita um satélite que usa refletores solares para simular uma lua artificial. O objetivo é substituir a iluminação pública na metrópole de Chengdu, no sudoeste chinês. O país pretende economizar anualmente por volta de 150 milhões de euros em eletricidade.

A ideia soa a megalomania, mas Wu Chunfeng, diretor da sociedade científica Tian Fu New Area Science Society e presidente da empresa CASC, que está intimamente ligada ao programa espacial chinês, revelou alguns detalhes ao jornal China Daily.

Pelo relato de Wu, os planos são bem concretos: já em 2020, um primeiro satélite de teste deverá ser lançado ao espaço. Por segurança, ele deverá primeiramente brilhar sobre um deserto, para verificar o funcionamento e os efeitos da iluminação. Se tudo correr bem, mais três satélites serão lançados em 2022.

A ideia não é completamente nova, afirma o Centro Aeroespacial Alemão (DLR). "Planos para construir iluminação artificial para áreas terrestres no espaço já existem desde a década de 1960", comenta um porta-voz do DLR.

Na década de 1990, a Rússia experimentou com espelhos dobráveis que foram projetados para lançar luz solar sobre a Terra. O projeto ficou conhecido como Space Mirror (Espelho Espacial), mas não funcionou como esperado.

Se o primeiro satélite, Znamja 2, não trouxe o brilho desejado devido a problemas técnicos, a segunda tentativa, em fevereiro de 1999, com o Znamja 2.5, teve ainda menos êxito: a vela solar não se desdobrou. O terceiro teste, Znamja 3, foi suspenso, junto com todo o programa.

Mas a ideia de uma lua falsa não foi completamente descartada. E certamente haveria áreas de aplicação para essa tecnologia solar. Na Noruega, por exemplo, já existe uma espécie de versão reduzida. Em Rjukan, enormes espelhos colocados nas montanhas refletem luz do sol para uma comunidade de 3.500 pessoas.

Assim como iluminar áreas próximas dos polos que não recebem luz solar no inverno, a iluminação noturna nas grandes cidades, como planejado pela China, também é uma aplicação possível da tecnologia.

Espelham refletem luz solar para moradores de vale em Rjukan, na NoruegaFoto: MEEK, TORE/AFP/Getty Images

As críticas a esse tipo de projeto são as mesmas até hoje. Assim como nos testes de colegas russos, muitas questões permanecem em aberto. Por exemplo, os efeitos concretos de uma lua adicional dificilmente podem ser previstos.

O ecologista populacional Reinhard Klenke, do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental, disse que há questões não esclarecidas no que diz respeito à poluição luminosa. "É sem dúvida uma ideia inteligente para economizar energia", diz Klenke, "mas, por outro lado, o impacto é muito grande, já que as condições de iluminação são alteradas numa área muito extensa".

Segundo estudos, mais de 80% da população mundial já vive sob um céu poluído luminosamente. Isso significa que a crescente iluminação de ruas, praças, casas ou monumentos obscurece a visão do céu estrelado.

Isso não é apenas um problema para os amantes das estrelas, mas também para a flora e a fauna. Além dos animais noturnos, que se orientam facilmente no escuro, a poluição luminosa também tem consequências negativas para as plantas, que precisam da transição do dia para a noite para realizar a fotossíntese.

Uma lua adicional "muda fundamentalmente as condições", explica Klenke, principalmente quando essa lua ilumina uma grande área, alterando as diferenças entre o dia, a noite e o crepúsculo.

Como acontece com todas as outras luzes artificiais, haverá efeitos sobre o biorritmo dos animais. "Ao longo de um largo período de tempo, isso pode ocasionar mudanças evolutivas. Os animais se adaptam. Isso não tem que ser algo necessariamente prejudicial, pode ser simplesmente diferente", diz Klenke.

No entanto, as mudanças seriam amplas: os animais poderiam mudar seu comportamento a longo prazo, as suas relações competitivas ficariam confusas e eles adaptariam a sua procura por alimentos.

Um exemplo: com a lua artificial, os predadores que normalmente não conseguem mais enxergar ao anoitecer podem ficar ativos por um longo período de tempo. E as presas, que procuram se esconder sob a proteção da noite, não vão mais encontrar esse refúgio. "Alguns indivíduos serão beneficiados, outros não", prevê o biólogo.

Insetos não conseguem distinguir entre luz artificial e luz da LuaFoto: picture-alliance/dpa/A. Weigel

Um grupo que poderá sair ganhando com a iluminação artificial lunar é o das mariposas. Elas voam em direção da luz artificial, já que se orientam pela luminosidade da Lua durante seus voos noturnos, mas não podem distingui-la das lâmpadas de rua e outras fontes luminosas.

"Esse é um dos piores efeitos da iluminação pontual", diz Klenke. Segundo o biólogo, isso contribuiu significativamente para o declínio na diversidade e quantidade de insetos nas últimas décadas. "E esse insetos fazem falta também na cadeia alimentar."

O ecologista populacional disse acreditar que, a longo prazo, as pessoas sofrerão mais que os animais. "As espécies que não conseguirem lidar com essa mudança vão desaparecer. Outras vão aproveitar as novas condições como oportunidade."

No final, as consequências de uma lua artificial também vão depender fortemente do controle da iluminação, explicou o biólogo do Instituto Helmholtz. Os cientistas chineses dizem que a superfície iluminada pode ser controlada até poucos metros em seu diâmetro, ou seja, a lua artificial pode ser capaz de iluminar uma área de 50 quilômetros quadrados – ou de apenas 10.

A lua chinesa deverá ter um brilho oito vezes mais intenso do que o satélite natural da Terra. "Mas isso corresponde a apenas um quinto da intensidade luminosa das luzes de rua. Seria interessante se fosse possível dispensar as lâmpadas", comenta Klenke.

Ele compara a intensidade da lua artificial com a Lua Cheia no inverno, quando a neve reflete a luz. "Isso faz diferença à noite, mas a Lua não é tão brilhante quanto uma lâmpada de rua." Portanto, a lua artificial não serviria como única fonte luminosa.

Mas essa também não é a intenção, diz Wu Chunfeng. Na entrevista ao China Daily, ele falou sobre a substituição de "algumas luzes de rua" e disse que a lua artificial também poderia ser usada no caso de apagões em regiões de catástrofe, por exemplo para apoiar operações de socorro e resgate.

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