Em meio ao agravamento das tensões com Ocidente, Moscou e Pequim ensaiam aprofundamento das relações bilaterais. Biden diz que Putin errou ao suspender a participação de seu país no tratado de desarmamento nuclear.
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O chefe da diplomacia da China, em visita a Moscou nesta quarta-feira (22/02), disse que seu país se comprometeu a aprofundar suas relações com a Rússia, no mesmo dia em que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, criticou a decisão do governo russo de suspender sua participação no acordo de desarmamento nuclear New Start.
Wang Yi, a principal autoridade chinesa a visitar a Rússia desde que os dois países declararam uma parceria "sem limites" semanas antes da invasão russa na Ucrânia, afirmou em reunião com o presidente russo, Vladimir Putin, que seu país está pronto para "aprofundar continuadamente nossa parceria estratégica".
Com esse objetivo, o líder russo disse que aguarda uma visita do presidente Xi Jinping a Moscou. "Estamos ansiosos pela visita de Xi à Rússia, já concordamos com antecedência", disse o líder russo, em meio a rumores sobre uma possível viagem do líder chinês à Rússia em abril ou maio.
Wang Yi afirmou que as relações russo-chinesas "não são dirigidas contra países terceiros". Na semana passada, ele disse na Conferência de Segurança de Munique que a China apresentará um plano para resolver a guerra na Ucrânia, iniciada pela Rússia em 24 de fevereiro do ano passado.
A China deve divulgar nesta semana a sua proposta para uma "solução política" para o conflito. Putin acusa Washington de elevar a guerra na Ucrânia a um conflito global com o envio de armamentos a Kiev.
Aliado próximo de Moscou, Pequim evitou apoiar ou condenar publicamente a invasão russa da Ucrânia, ao mesmo tempo que expressou repetidamente o seu apoio a Moscou face às sanções ocidentais.
"Impulso às relações"
Ao mesmo tempo, a China já declarou que a integridade territorial da Ucrânia deve ser respeitada, no momento em que a Rússia declarava a anexação de cinco regiões no leste ucraniano.
Putin, que raramente recebe autoridades estrangeiras que não sejam chefes de Estado, aproveitou o encontro para destacar os laços especiais entre Moscou e Pequim, e disse que os dois países estão "alcançando novos horizontes".
"Daremos um impulso ao desenvolvimento das nossas relações bilaterais", disse o líder russo. "As relações internacionais são hoje complicadas. Neste contexto, a cooperação entre a China e a Rússia é de grande importância para a estabilização da situação internacional."
Antes do encontro com Putin, Wang se reuniu com o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, que avaliou que as relações entre os dois países se desenvolvem "de forma segura e dinâmica".
"Apesar da forte turbulência no cenário internacional, demonstramos unidade e um desejo de defender os interesses de ambas as partes de acordo com as leis internacionais, assim como o papel central da ONU", disse Lavrov.
"A Rússia e a China continuam a coordenar as questões de política externa, a fim de alcançar um sistema mais justo, aberto e democrático", disse Lavrov. "A maioria dos países está interessada nisto", acrescentou.
Wang, por sua vez, assinalou que, "apesar da volatilidade da situação internacional, a China e a Rússia manterão sempre a sua determinação e avançarão com firmeza e confiança".
A Rússia e a China iniciarão na próxima sexta-feira exercícios militares conjuntos na África do Sul, que deve incluir uma fragata russa equipada com uma nova geração de mísseis hipersônicos.
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Biden critica saída russa do acordo de desarmamento
A suspensão da participação da Rússia do pacto de desarmamento nuclear New Start (Strategic Arms Reductions Treaty – Tratado Estratégico para Redução de Armas), anunciada por Putin em seu discurso sobre o estado da nação nesta terça-feira, foi ratificada pelo Parlamento russo.
Entretanto, os ministérios russos da Defesa e do Exterior afirmaram que Moscou continuará a acatar as restrições impostas pelo acordo no que diz respeito à quantidade de ogivas nucleares e de mísseis capazes de transportá-las que um país pode possuir.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Putin "cometeu um erro" ao decidir suspender a participação de seu país no pacto.
Em um encontro com países aliados da Otan na Polônia, o americano rejeitou as acusações de que Washington e seus aliados estariam tentando controlar ou destruir a Rússia, e acusou Moscou de cometer crimes contra a humanidade, como ao atacar alvos civis, o que o Kremlin nega.
Os aliados da Otan e outros apoiadores já enviaram à Ucrânia dezenas de bilhões de dólares em armamentos e munições. Recentemente, eles prometeram enviar tanques de guerra modernos, embora ainda evitem atender aos pedidos de Kiev por aviões de combate.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, alertou a China contra um possível envio de armas à Moscou, o que gerou indignação em Pequim.
rc/md (Reuters, Lusa, AFP)
Um ano de guerra da Ucrânia: uma linha do tempo em imagens
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia. Em um ano de combates, milhares de soldados e civis perderam a vida. Relembre os fatos mais marcantes nesta linha do tempo.
Foto: Anatolii Stepanov/AFP/Getty Images
Um dia sombrio para milhões
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, os ucranianos foram acordados por explosões como esta na capital, Kiev. A Rússia havia iniciado uma invasão em grande escala, marcando o maior ataque de um país contra outro desde a Segunda Guerra Mundial. A Ucrânia imediatamente declarou a lei marcial. Estruturas civis passaram a ser atacadas e logo começaram a ser relatadas as primeiras mortes.
Foto: Ukrainian President s Office/Zuma/imago images
Bombardeios impiedosos
O presidente russo, Vladimir Putin, insiste ainda hoje tratar-se de uma "operação militar especial" e que o objetivo é tomar as regiões de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia. Moradores de Mariupol se abrigaram em porões por semanas. Muitos morreram sob os escombros. Um ataque aéreo russo em março a um teatro da cidade onde centenas se refugiavam foi condenado por grupos de direitos humanos.
Foto: Nikolai Trishin/TASS/dpa/picture alliance
Êxodo em massa
A guerra na Ucrânia forçou uma emigração nunca vista na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, mais de 8 milhões de pessoas fugiram do país. Só a Polônia acolheu 1,5 milhão de pessoas, mais do que qualquer outro Estado da UE. Milhões de pessoas, principalmente do leste e do sul da Ucrânia, foram forçadas a fugir.
Foto: Anatolii Stepanov/AFP
Cenas de horror em Bucha
Após algumas semanas, o exército ucraniano conseguiu expulsar as forças russas de áreas no norte e nordeste do país. O plano da Rússia de sitiar Kiev fracassou. Depois que as regiões foram libertadas, a extensão das atrocidades tornou-se aparente. Imagens de civis torturados e assassinados em Bucha, perto de Kiev, deram a volta ao mundo. As autoridades relataram 461 mortes.
Foto: Carol Guzy/ZUMA PRESS/dpa/picture alliance
Devastação e morte em Kramatorsk
O número de vítimas civis em Donbass aumentou rapidamente. As autoridades pediram à população civil para recuar para áreas mais seguras, mas os mísseis russos também atingiram as pessoas enquanto tentavam escapar, inclusive em Kramatorsk. Mais de 61 foram mortos e 120 ficaram feridos na estação ferroviária da cidade em abril, quando milhares esperavam para fugir para um local mais seguro.
Durante os ataques aéreos russos, milhões de ucranianos buscaram refúgio em algum tipo de abrigo. Para as pessoas próximas às linhas de frente dentro do alcance da artilharia, os porões se tornaram segundos lares. Moradores de grandes cidades também buscaram abrigo dos mísseis. Em Kiev (foto) e em Kharkiv, as estações de metrô funcionam como locais seguros.
Foto: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images
Alto risco nuclear em Zaporíjia
Nas primeiras semanas após a invasão, a Rússia ocupou uma grande área das regiões sul e leste da Ucrânia, inclusive as proximidades de Kiev. Os combates se espalharam para as instalações do complexo nuclear de Zaporíjia, no sudeste, que está sob controle russo desde então. A Agência Internacional de Energia Atômica enviou especialistas para a usina e pediu uma zona segura ao redor da instalação.
Foto: Str./AFP/Getty Images
Resistência desesperada em Mariupol
O exército russo manteve Mariupol sob cerco por três meses, impedindo o envio de munição e outros suprimentos. O complexo siderúrgico Asovstal era o último reduto ucraniano na cidade, abrigando milhares de soldados e civis. Depois de um ataque prolongado, em maio de 2022 milhares de soldados russos assumiram o controle da usina, capturando mais de 2 mil pessoas.
Foto: Dmytro 'Orest' Kozatskyi/AFP
Um símbolo de resistência
A Rússia conquistou a Ilha das Cobras, no Mar Negro, no primeiro dia da guerra. Um diálogo entre militares ucranianos e russos, na qual os ucranianos se recusaram a se render, se tornou viral. Em abril, os ucranianos afirmaram ter afundado o navio de guerra russo Moskva, uma das duas embarcações envolvidas no ataque à ilha. Em junho, a Ucrânia disse ter expulsado os russos da ilha.
Foto: Ukraine's border guard service/AFP
Número de mortos incerto
O número exato de mortos na guerra permanece incerto. Segundo a ONU, pelo menos 7.200 civis foram mortos e outros 12 mil, feridos – mas os números reais podem ser muito maiores. A quantidade exata de soldados ucranianos tombados também é incerta. Em dezembro, o conselheiro presidencial da Ucrânia, Mykhailo Podolyak, estimou o número em até 13 mil. Estatísticas imparciais não estão disponíveis.
Foto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance
Divisor de águas para a Ucrânia
O envio de armas ocidentais à Ucrânia tem sido um assunto polêmico desde o começo da guerra, mas elas demoraram a chegar a Kiev. Os lançadores de foguetes Himars, fabricados nos EUA, foram uma ajuda decisiva. Eles permitiram que os militares ucranianos cortassem o abastecimento de munição para a artilharia russa e provavelmente também contribuíram para as contraofensivas bem-sucedidas da Ucrânia.
Foto: James Lefty Larimer/US Army/Zuma Wire/IMAGO
Alívio a cada libertação
No início de setembro, os militares ucranianos conduziram uma contraofensiva bem-sucedida em Kharkiv, no nordeste do país. Os russos, surpreendidos, recuaram rapidamente, deixando para trás equipamentos, munições e até evidências de supostos crimes de guerra. Os militares ucranianos também conseguiram libertar Kherson, no sul, e seus moradores comemoraram a chegada dos soldados ucranianos.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Explosão na ponte da Crimeia
No início de outubro, ocorreu uma grande explosão na ponte que a Rússia construiu sobre o Estreito de Kerch, ligando à Crimeia, península ucraniana que Moscou ocupa desde 2014. A ponte foi parcialmente destruída. A Rússia afirma que um caminhão da Ucrânia carregado de explosivos causou os danos, mas as autoridades em Kiev não assumiram a responsabilidade pelo ataque.
Foto: AFP/Getty Images
Ataques maciços à infraestrutura de energia
Poucos dias após a explosão na ponte da Crimeia, a Rússia começou a atacar em grande escala a infraestrutura de energia da Ucrânia. Quedas de energia ocorreram de Lviv a Kharkiv. Desde então, esses ataques se tornaram rotina. Devido aos enormes danos às usinas de energia e outras infraestruturas civis, as pessoas na Ucrânia enfrentam quedas de energia e escassez de água quase diariamente.
Foto: Genya Savilov/AFP/Getty Images
Apoio do mundo ocidental
Mensagens diárias por vídeo do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em que ele relata a situação no país e sobre a guerra em andamento, são vistas por milhões de pessoas. Zelenski não só conseguiu unificar a população de seu país, mas também ganhou o apoio do Ocidente. A integração europeia progrediu muito sob a sua liderança, e a Ucrânia está a caminho da adesão à UE.
Foto: Kenzo Tribouillard/AFP
Esperando por tanques Leopard 2
A defesa da Ucrânia depende muito da ajuda externa. Um grupo de países liderado pelos EUA ofereceu um pacote de bilhões de dólares em ajuda humanitária, financeira e militar. O envio de artilharia pesada foi muito debatido no Ocidente, em grande parte devido a preocupações com a reação da Rússia. Mas a Ucrânia acabará recebendo tanques ocidentais, em sua maioria Leopard 2, de fabricação alemã.
Foto: Ina Fassbender/AFP/Getty Images
Uma cidade em ruínas
Há meses, batalhas sangrentas acontecem em Bakhmut, na região de Donetsk. Desde que as tropas ucranianas perderam o controle do vilarejo de Soledar no início de 2023, defender a cidade tornou-se ainda mais difícil. Em janeiro, o serviço secreto da Alemanha relatou perdas diárias de três dígitos do lado ucraniano. Mas acredita-se que o número de mortos na Rússia seja ainda maior.