Primeiro dia do ano marca entrada em vigor da lei que derruba, após mais de três décadas, a controversa política do filho único. Governo tenta corrigir envelhecimento da população e desproporção entre homens e mulheres.
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Após mais de três décadas, os casais na China poderão legalmente ter duas crianças. Nesta sexta-feira (01/01), entrou em vigor a lei que derruba a controversa política do filho único, que deixou marcas profundas na sociedade chinesa, como um envelhecimento da população e uma desproporção na quantidade de homens e mulheres.
Há mais de 35 anos, a liderança chinesa ordenou a política do filho único a seu povo para conter o rápido crescimento da população. A medida foi acompanhada de uma abrangente campanha educacional. Preservativos foram distribuídos, e as condições para aborto foram simplificadas.
Ela visava, além de conter a explosão populacional, reduzir a demanda por água e outros recursos naturais. Segundo estimativas, sem essa medida, o país teria 300 milhões de habitantes a mais do que os atuais 1,37 bilhão.
A decisão serviu para delinear prioridades nas metas de desenvolvimento econômico e social até 2020. A mudança que entra em vigor nesta sexta-feira é a maior liberalização da política chinesa de planejamento familiar, cujas restrições começaram a ser aliviadas em 2013, quando o Partido Comunista decidiu permitir um segundo filho a casais nos quais ambos os cônjuges eram filhos únicos.
Críticos, porém, afirmam que a mudança é muita pequena e tardia para corrigir os efeitos negativos da política do filho único na economia e na sociedade. Durante mais de 30 anos, casais que não seguiam à risca o planejamento familiar do governo eram punidos duramente, com penas que iam de multas e perda de emprego até a esterilização forçada.
Por sua política, a China pagou – e deve pagar ainda por um bom tempo – um preço elevado. A sociedade está envelhecendo rapidamente. Desde 1999, as Nações Unidas definem a China como "uma sociedade em envelhecimento". Naquela época, a proporção de pessoas com mais de 65 anos na população total ultrapassou a marca dos 7%. Em 2050, quase um quarto de todo o povo chinês terá mais que 65 anos, segundo estimativa da ONU.
No final dos anos 1970, uma chinesa tinha, em média, 4,22 filhos. Em 2014, esse número era 1,4. Atualmente, a proporção de famílias chinesas sem filhos é de 40%, segundo levantamento da Comissão de Planejamento Familiar.
Especialmente nas cidades grandes, muitos casais não querem mais de um filho. Como, sobretudo nas áreas rurais, as crianças do sexo masculino são preferidas, a política do filho único fez com que fetos femininos fossem abortados com mais frequência, além de estimular a prática do infanticídio de meninas recém-nascidas.
O governo chinês espera que, com a nova medida, cerca de três milhões de bebês nasçam por ano na próxima meia década. Assim, espera Pequim, até 2050 o país terá 30 milhões de pessoas aptas a reforçar a força laboral chinesa.
Ai Weiwei: um artista e a política
Celebrado no Ocidente, escultor, performer e criador de instalações foi tratado como criminoso na China. Depois de quatro anos, Ai Weiwei recebeu o passaporte de volta. E a primeira viagem programada é para a Alemanha.
Foto: Getty Images
Visto alemão
No dia 24 de julho de 2015, o artista chinês Ai Weiwei divulgou em sua conta no Instagram uma imagem do visto que obteve para viajar à Alemanha. O escultor, performer e criador de instalações irreverente ficou proibido de deixar a China durante quatro anos. O artista quer viajar a Berlim para ver o filho de seis anos, que vive na Alemanha desde 2014.
Foto: https://instagram.com
Passaporte de volta
O artista plástico e ativista social recebeu o passaporte de volta no dia 22 de julho de 2015. Acusado de fraude fiscal pelas autoridades chinesas, Ai Weiwei ficou detido de abril a junho de 2011. Desde então, o documento estava confiscado. "Quando peguei o documento senti que meu coração estava em paz", disse em entrevista ao jornal britânico "The Guardian".
Foto: Instagram/Ai Weiwei
Flores pela liberdade
Ai Weiwei fez uma campanha de 600 dias para recuperar o passaporte. Ele fotografou diferentes ramos de flores na cesta de uma bicicleta em frente ao seu ateliê e divulgou as imagens diariamente em sua conta no Instagram.
Foto: https://instagram.com
"Berlin, eu te amo"
Proibido de deixar a China, Ai Weiwei começou a dirigir um filme via Skype com a ajuda de um produtor alemão. "Berlin, ich liebe dich" ("Berlim, eu te amo") deve ser lançado no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale), em 2016. O filme, que faz parte da série "Cities of love", trata da relação do artista com seu filho, Ai Lao.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Schulze
Superstar e provocador
Para muitos chineses, o escultor, performer e criador de instalações Ai Weiwei representa uma espécie de consciência social. Ele se engaja por maior liberdade de opinião em seu país e critica a repressão política de uma forma que alcança o grande público.
Foto: picture-alliance/dpa
Título revelador
A maior exposição de Ai Weiwei – "Evidence" ("prova") foi inaugurada em 2014 no museu Martin-Gropious-Bau, em Berlim. O título é pertinente, pois, em 34 esculturas e instalações, ele reflete sobre a realidade social da China. "Wooden stools", por exemplo, reúne 6 mil bancos de madeira no pátio interno do espaço de exposições, organizados de acordo com um reticulado geométrico.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Tradição e modernidade
Os bancos, oriundos da dinastias Ming e Qing, foram coletados no norte da China pelo artista e seus colaboradores ao longo de vários anos. Antigamente eles compunham o inventário padrão das residências chinesas, sendo herdados de geração em geração, dentro das famílias. Desde a Revolução Cultural, contudo, os bancos não são mais peças únicas de madeira, e sim artigos de massa, de matéria plástica.
Foto: Mathias Völzke
81 dias
Sem mandado de prisão, em 2011 o artista foi mantido num presídio secreto fora de Pequim, vigiado 24 horas por dias por câmeras e policiais militares, com a luz acesa dia e noite. Acusado de sonegação de impostos, teve seu passaporte apreendido e só foi libertado após pressão internacional. Ele reproduziu essa cela com precisão em Berlim, intitulando a obra "81" – número de dias de seu cativeiro.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Vigilância marmórea
Mesmo depois de libertado, o dissidente, hoje com 57 anos, continuou sob vigilância. Diante de seu ateliê em Pequim estão instaladas 17 câmeras, o Estado sabe sempre quem entra ou sai. Mas, pelo menos artisticamente, Ai Weiwei virou a mesa, esculpindo os aparelhos em mármore, com todos os detalhes: um símbolo da própria repressão política, através do filtro da arte.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
"Souvenir from Shanghai"
Até algum tempo atrás, o governo de Pequim ainda tentava se beneficiar da popularidade de Ai Weiwei. Ele foi encorajado a montar um estúdio em Xangai, como parte de uma gigantesca aldeia de artistas. Em 2011, como suas críticas desagradavam ao Partido Comunista, o ateliê já pronto foi demolido. Em Berlim, o artista expõe os destroços, dentro de uma cama de madeira tradicional chinesa.
Foto: Getty Images
Crustáceos ambíguos
Em protesto contra a demolição de seu estúdio, Ai Weiwei promoveu uma "festa de caranguejos", irritando Pequim mais uma vez. Pois a palavra chinesa para o crustáceo é foneticamente idêntica a "he xie", a "harmonia" tão exaltada como imagem ideal da sociedade chinesa pela propaganda do regime. Os caranguejos em Berlim são de porcelana.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Bicicletas evocativas
Ai Weiwei mandou soldar 150 bicicletas para essa impressionante instalação. Ele não só lembra como esse meio de transporte está sendo extinto na China, em favor dos automóveis, mas também evoca um espetacular processo de fachada. Alguns anos atrás, um jovem foi preso por andar com uma bicicleta não registrada, sofreu maus tratos no cárcere e mais tarde chegou a ser condenado à morte.