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Chipre: líder turco compara Verheugen com oficial nazista

(ms)1 de abril de 2004

O líder da população turca no Chipre, Rauf Denktasch, comparou a postura do comissário encarregado da ampliação da UE, o alemão Günter Verheugen, com a de um oficial nazista.

O comissário Verheugen é vítima de ataques verbaisFoto: AP

"Ele tenta conseguir o que quer gritando como se fosse um oficial nazista." Com esta frase, Rauf Denktasch, 80 anos, líder da população turca no Chipre, classificou a postura do alemão Günter Verheugen, comissário encarregado da ampliação da UE, durante o encontro em prol de um acordo para a reunificação da ilha.

Denktasch não participou da maratona de oito dias de negociações em Bürgenstock, na Suíça, que reuniu, entre outros, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan e autoridades da Turquia, Grécia e políticos greco-cipriotas e turco-cipriotas, mas acompanhou atentamente todo o processo de debate do plano de unificação política das duas partes da ilha.

Rauf DenktashFoto: AP

Após o encerramenrto das negociações, que não resultaram na esperada assinatura de um acordo, Denktasch declarou, em entrevista, que Verheugen não tem o direito de interferir no impasse. "Quem lhe deu o direito de se meter? Com que direito ele marcha sobre meus homens como se fosse um general nazista?", questionou o líder turco.

A ira de Denktasch foi desencadeada pelo comportamento do comissário da ampliação da UE, que, a seu ver, estaria sendo partidário na questão do Chipre, favorecendo a Grécia. "Tanta parcialidade é inaceitável. Ele exerce uma enorme pressão contra os turcos-cipriotas para atender aos interesses dos greco-cipriotas. Ele está tentando influenciar os representantes da ONU", afirmou o líder turco.

Mediação sem o sucesso desejado

As tratativas para a reunificação do Chipre já se arrastam de longa data. Às portas de ingressar na União Européia (1º de maio) e sem um consenso à vista, o secretário-geral da ONU fez uma última tentativa para superar as diferenças. O esforço, entretanto, foi em vão.

Visivelmente cansado, Kofi Annan encerrou a longa maratona de negociações na noite de terça-feira (31/03) admitindo que seu plano para a reunificação não atende a todas as exigências mas engloba os interesses e preocupações mais relevantes, e por isto poderia ter sido aceito por ambas as partes.

Sem alternativa

O secretário-geral da ONU, Kofi AnnanFoto: AP

Kofi Annan deixou claro que não havia alternativa para o seu plano. "Estou seguro de que, como nenhum outro, ele oferece a melhor e mais justa chance de paz, bem-estar e estabilidade. Já foram desperdiçadas muitas oportunidades no passado. Pelo bem de todos, eu lhes peço: não cometam o mesmo erro novamente", apelou o secretário-geral da ONU.

Em sua última versão, o plano prevê que o Chipre se tornaria uma república federativa constituída por dois cantões autônomos e um governo único.

Plebiscito

No dia 24 de abril, o plano de Kofi Annan será submetido a um plebiscito, cujo resultado será decisivo. Caso não seja aprovado na parte turca, apenas o sul da ilha, greco-cipriota e reconhecido pela comunidade internacional, entrará na União Européia. O norte, ocupado pelos turcos e reconhecido apenas pela Turquia, ficará isolado.

O documento concede apenas um direito limitado de retorno aos gregos que abandonaram o norte da ilha depois que as tropas turcas invadiram a região, resultando na divisão do Chipre em 1974. Também não haveria qualquer mudança nos limites territoriais.

Reações

O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyid Erdogan, lamentou o fracasso das negociações. Na sua opinião, a última versão do documento oferecia uma solução permanente e justa, pelo que ele desejaria que fosse aprovado por todos os envolvidos. Denktasch, por sua vez, já anunciou que pretende fazer propaganda contra a aprovação do plano de paz no previsto plebiscito.

Já os gregos foram mais comedidos. "Uma pena que tenha sido, mais uma vez, impossível atingir um consenso", disse o primeiro-ministro da Grécia, Costa Caramanlis.

A imprensa grega teceu diversas críticas ao documento, afirmando que o secretário-geral da ONU teria feito muitas concessões para a Turquia.

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