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Choque entre militares e apoiadores de Morsi deixa dezenas de mortos

8 de julho de 2013

Forças Armadas e Irmandade Muçulmana se culpam mutuamente por confronto diante de um quartel no Cairo. Partido salafista retira apoio à formação de governo interino.

Foto: Mahmoud Khaled/AFP/Getty Images

Ao menos 42 pessoas morreram num violento confronto entre partidários da Irmandade Muçulmana e forças militares no Cairo na madrugada desta segunda-feira (08/07), segundo médicos da capital egípcia.

Segundo a Irmandade Muçulmana, os militares atiraram em apoiadores do deposto presidente Mohammed Morsi que estavam nas proximidades do edifício da Guarda Republicana onde supostamente Morsi se encontra detido.

"Os apoiadores de Morsi estavam rezando quando a polícia e o Exército dispararam munições e atiraram gás lacrimogênio contra eles. O ataque provocou cerca de 35 mortes e é provável que o número aumente", afirma comunicado da Irmandade.

Já as Forças Armadas afirmaram que "terroristas armados" haviam tentado invadir a sede do quartel-general da Guarda Republicana, matando um agente de segurança. Os soldados revidaram o ataque, afirmam os militares.

Anteriormente, circularam rumores no Cairo de que o Morsi estava no quartel. Além dos mortos, há mais de 300 feridos, disse um médico que atende nos serviços de emergência à agência de notícia AFP.

Os militares prenderam 200 pessoas, segundo informações próprias. Os detidos estariam de posse de armas de fogo e coquetéis molotov, afirma nota das forças militares.

Fim do apoio salafista

Como consequência imediata, o influente partido salafista al-Nour, que inicialmente apoiava a intervenção militar, decidiu retirar-se das negociações para a formação de um governo interino no Egito. "Decidimos nos retirar imediatamente das negociações", afirmou o porta-voz Nader Bakkar, nesta segunda-feira, através do Twitter. Ele disse que a decisão é uma reação ao "massacre" em frente à sede da Guarda Republicana no Cairo.

As conversas para a formação do novo governo já enfrentavam obstáculos mesmo antes do conflito desta segunda-feira. No domingo, al-Nour já havia rejeitado a nomeação do Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei para assumir a chefia interina de governo no Egito. Os salafistas também expressaram dúvidas sobre a possível escolha do tecnocrata Siad Bahaa, cujo nome está agora em cogitação.

Dificilmente os militares conseguirão sustentar um vácuo político em tempos de levantes violentos e estagnação econômica no maior país árabe, que tem 84 milhões de habitantes. O al-Nour é o segundo maior partido islamista do Egito. A ajuda do partido salafista é vital para dar às novas autoridades algum tipo de apoio dos islamistas.

Vida e morte

Cenas de batalhas de rua entre opositores e apoiadores de Morsi no Cairo, em Alexandria e em outras cidades do país alarmaram importantes aliados do Egito, incluindo os países europeus, de quem os egípcios recebem importante ajuda, e Israel, que tem um tratado de paz com o Egito desde 1979.

Ao menos 35 pessoas morreram devido aos tumultos violentos na última sexta-feira e sábado. Enquanto o domingo foi aparentemente calmo, a visão de milhares de pessoas se reunindo em diversas partes do Cairo foi uma lembrança de que a situação não está sob controle.

Aparentemente, o Exército estava contando com a exaustão e com o início do Ramadã, o mês de jejum dos muçulmanos que começa nesta terça-feira, para acalmar os manifestantes. No entanto, mesmo antes do incidente desta segunda-feira, muitos estavam determinados a não desistir e até mesmo sacrificar a vida pela sua causa.

Crise de financiamento

Para muitos, a queda do primeiro presidente eleito livremente no Egito foi um duro golpe e levantou temores da volta da opressão de décadas que tiveram de suportar sob o regime autocrático de Hosni Mubarak. Por outro lado, centenas de milhares de opositores de Morsi se reuniram na Praça Tahrir neste fim de semana, para celebrar a saída do presidente ligado à Irmandade Muçulmana.

O Exército negou que tenha executado um golpe de Estado, afirmando estar simplesmente apoiando a realização da vontade popular após os protestos contra Morsi em 30 de junho último. As pessoas culpam a Irmandade Muçulmana pela estagnação econômica, acusando-a de querer tomar o controle de todas as instituições do país – acusação que a Irmandade rejeita terminantemente.

O presidente do Banco Central do Egito fugiu para Abu Dhabi neste domingo, afirmaram autoridades no Aeroporto do Cairo, depois que a mídia egípcia afirmou que o país estaria procurando ajuda nos países do Golfo Pérsico após a queda de Morsi. Mais do que nunca, o país precisa agora da ajuda externa.

Desde o ano passado, a moeda local perdeu 11% do valor. O país pode estar a caminho de uma crise de financiamento caso não consiga acessar rapidamente dinheiro do exterior. Em junho, as reservas do Egito caíram de 1,12 bilhão de dólares para 14,92 bilhões de dólares, o suficiente para pagar três meses de importações.

CA/dpa/afp/rtr/lusa

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