Choques elétricos viram terapia contra o câncer
25 de junho de 2013A intervenção não parece muito extraordinária: com uma agulha milimétrica, o médico perfura o corpo do paciente. Uma tela ao lado do cirurgião mostra o caminho a ser percorrido. No monitor, com a ajuda de um aparelho de raio-X, é possivel ver com clareza a agulha e movimentá-la com segurança até seu destino – que poderia ser, por exemplo, um tumor no fígado.
Nas mãos dos cirurgiões, a fina agulha funciona como um aquecedor de imersão: ela é aquecida por alguns instantes quando toca o tumor e as células cancerosas morrem.
Esse processo, no entanto, tem desvantagens, explica Christian Stroszczynski, diretor do Instituto de Radiologia do Hospital Universitário de Regensburg. "Às vezes, pode haver complicações, especialmente se o tumor estiver perto de vasos sanguíneos ou órgãos como o estômago." Nesse caso, o calor atinge não só as células doentes, mas também células vizinhas saudáveis, causando um efeito colateral indesejado.
Alta tensão em vez de calor
Os médicos apostam agora em um novo método, conhecido como eletroporação irreversível. A intervenção também é feita com a ajuda de agulhas finas, mas, em vez de calor, pequenos choques de alta tensão são enviados às células. "Até seis agulhas são colocadas diretamente nas células cancerosas que recebem o choque elétrico", diz Stroszczynski. "Com isso, as células com câncer se rompem e, depois, são eliminadas pelo organismo."
Como as células cancerosas têm alta concentração de água, elas respondem aos choques elétricos bem mais rápido que as células saudáveis. Isso aumenta a expectavia de que o tratamento atinja os tumores de forma menos agressiva.
Christian Stroszczynski testou o novo método em 35 pacientes com câncer de fígado – esse órgão pode ser facilmente alcançado pelas finas agulhas. "Os resultados iniciais mostram que o método foi um sucesso, bem aceito pelo corpo e de baixo risco." Estudos em outras clínicas também mostraram resultados promissores.
Sem resultados a longo prazo
Inicialmente, o método está sendo testado apenas em poucos centros alemães de pesquisa, principalmente no tratamento de tumores hepáticos que não podem ser operados. No futuro, caso a eletroporação irreversível comprove sua eficácia, ela poderá também ser utilizada em outros órgãos, como próstata e pâncreas.
Ainda não se sabe se o tratamento com choque elétrico elimina o câncer definitivamente, ou se a doença pode voltar depois de algum tempo. Especialistas ainda não têm a resposta. "Por enquanto, nós estamos otimistas", diz Stroszczynski, "mas temos que esperar mais alguns anos para fazer uma comparação aprofundada com outras terapias."
Em relação ao método que utiliza o calor, a desvantagem do choque elétrico é que, para evitar que ele cause danos aos pacientes com arritmia cardíaca, o procedimento precisa ser realizado sob anestesia geral.