Ciclones submarinos na costa brasileira
5 de janeiro de 2005Até agora os oceanólogos partiam do princípio de que nas profundezas do Oceano Atlântico as águas corriam tranqüila e continuamente. Nada poderia estar mais longe da realidade: a dois mil metros de profundidade, redemoinhos com 300 quilômetros de diâmetro varrem o oceano a uma velocidade de cerca de 150 metros por hora. A descoberta, realizada na costa brasileira, partiu de cientistas do Instituto Leibniz de Oceanologia (IFM-Geomar), sediado em Kiel.
Há quatro anos, eles instalaram no fundo do mar, ao sul de Recife, aparelhos para medição de correntes. Uma vez por ano, eles retiravam o equipamento para ler os resultados, voltando a depositá-lo no mesmo local. "De início ficamos surpresos pela forte flutuação das correntes", informa Marcus Dengler, do Instituto Leibniz, "mas com a ajuda de modelos de simulação pudemos identificá-la como redemoinhos".
Redemoinhos reveladores
Esses lentos ciclones submarinos são chamados "eddies", no jargão dos oceanólogos. Eles formam-se a cada 60 dias, quando a Corrente Atlântica se dispersa, ao alcançar a costa brasileira, absorvendo as águas profundas. Em seguida, os redemoinhos movimentam-se em direção ao sul, ao longo das paredes continentais, numa área em que o fundo do mar cai de 100-200 metros para 3500 metros de profundidade.
Ao contrário dos ciclones que se formam no ar, os ciclones submarinos não constituem perigo para seres humanos ou embarcações, porque ocorrem muito abaixo da superfície, asseguram os cientistas. Por outro lado, podem ser um importante indicador de alterações no sistema de correntes atlânticas. Este transporta água aquecida para o norte, nas camadas superiores do mar, e água fria para o sul, nas profundidades, e exerce importante influência sobre o clima do planeta.
Influência global
Os modelos desenvolvidos pelos pesquisadores de Kiel demonstram que os eddies só se formam se o afluxo de águas profundas do Atlântico Norte é suficientemente forte. Assim, a alteração ou o desaparecimento dos redemoinhos pode ser uma importante indicação de mudanças em toda a Corrente Atlântica, e portanto também na Corrente do Golfo, o fluxo de águas mornas entre a América e a Europa.
Graças à Corrente do Golfo do México, grande parte do oeste e norte europeus possui um clima mais ameno do que seria de esperar, dada a latitude geográfica em que se situam. Uma interrupção dessa corrente causaria uma forte alteração do clima na Europa. Uma catástrofe como no filme O dia depois de amanhã está fora de cogitação, porém os europeus certamente teriam que passar a vestir roupas ainda mais quentes.