Cidade do Cabo: novo paraíso para alemães
14 de abril de 2004Estados Unidos, Canadá e Austrália estão entre os destinos prediletos dos alemães que vão tentar a vida no exterior. Cerca de 100 mil pessoas deixam o país todos os anos. Em princípio, eles se sentem atraídos por qualquer lugar bonito, onde o sol brilhe mais do que na Alemanha.
Em várias regiões, o alemão se transformou na segunda língua local, tal é a concentração de turistas e imigrantes vindos da Alemanha. Isso não vale apenas para Maiorca, na Espanha. A nova moda, no momento, é a África do Sul, mais precisamente a Cidade do Cabo.
Livraria alemã, negócio de compra e venda de automóveis, agência de viagens alemã, escola alemã, agência de empregos alemã. E até nos restaurantes pode ser que o garçom receba o freguês falando alemão, quando suspeita a sua origem.
Sensação de férias o ano todo
A principal razão do entusiasmo é simplesmente a beleza da cidade e a qualidade de vida, como disse Ralf Erdner à Deutsche Welle. "Você sai do escritório e praticamente está de férias. São 20 minutos até a próxima vinícola, cinco minutos até a praia, dez até o Shopping Waterfront. O que você quiser fazer – alpinismo, mergulho, velejar ou jogar golfe – tudo é muito barato e de fácil acesso, sem engarrafamento e sempre com sol".
Ralf Erdner está há dez anos na Cidade do Cabo, onde fundou a International Business Network. A firma presta consultoria junto a investidores alemães, assessorando-os em questões econômicas, fiscais e jurídicas. Seu trabalho foi mudando com o tempo, o que tem a ver com a onda migratória da Alemanha:
De turistas a empresários
"Antes vinham muitos alemães que queriam um imóvel para passar as férias. Depois veio gente que queria morar seis meses na África do Sul e seis meses na Alemanha, portanto aproveitando ao máximo o verão em cada hemisfério. A seguir chegaram os primeiros que decidiram se dedicar a alguma atividade econômica. E essa é a tendência agora. Se tudo começou com a procura de imóveis de férias, agora temos mais pequenos e médios empresários," analisa Erdner.
A tendência é crescente. Stefan Hippler, sacerdote na comunidade alemã da Cidade do Cabo, calcula em 100 mil o número de alemães vivendo na região. "A Cidade do Cabo parece ser o sonho de muitos, inclusive dos aposentados. E tornou-se algo assim como a terra prometida, onde as pessoas procuram sua felicidade, o que, em parte, já não é possível na Alemanha."
Sem medo da criminalidade
Procurar sua sorte, acumular experiências - esse é o caso de Patrick Kornherr, que estudou medicina em Leipzig. Atualmente ele faz um estágio de quatro meses numa clínica perto da cidade, o que, para ele, é um desafio:
"Aqui há muito mais acidentes do que na Alemanha. Basta ver como as pessoas andam nas rodovias e quando acontece alguma coisa, as conseqüências são muito mais graves para os pedestres. E também temos a criminalidade, as lutas de rua..."
Na Cidade do Cabo e seus subúrbios, algo que faz parte do quadro diário. A criminalidade é algo que preocupa os alemães, mas não é motivo para abandonar o sonho de uma vida melhor. É o que diz Susanne Funk, que administra uma pensão, ao pé da Montanha da Mesa, uma das atrações no sul do continente africano.
"A gente acaba se adaptando e se acostuma à sensação de perigo. Pessoalmente, eu vivi tantas coisas positivas e bonitas, que não me vem à cabeça a idéia de voltar. Eu fico contente de passar férias na Alemanha. Mas se eu aprecio isso é porque na minha passagem está sempre o local de retorno: a Cidade do Cabo".
Salsicha e cerveja alemã também emigraram
Saudades só mesmo da família e dos amigos, pois a oferta de produtos alemães já é tão grande na Cidade do Cabo que ninguém sente falta de nada. Gabi Wimmer, de Freiburg, por exemplo montou um açougue com uma pequena lanchonete, onde oferece tudo que é tipicamente alemão: kasseler – carne de porco defumada – salsichas, linguiças, frios variados. E até pepinos em conserva, pão e doces.
Onde há alemães, não pode faltar uma cervejaria. Ali Wolfgang Ködel, de Bayreuth, serve a marca bávara Paulaner: "Nós fazemos aqui nossa própria cerveja da Oktoberfest. Temos a nossa weissbier (cerveja com trigo e cevada), clara e escura. E também comida da Baviera. A nossa lingüiça branca é tão boa quanto a de Munique, e os joelhos de porco assados (schweinshaxen) não ficam atrás".
Ralf Erdner, que é de Berlim, diz que só sente falta da currywurst, um tipo de lingüiça bem berlinense, temperada com curry. Algumas coisas só tem mesmo na Alemanha. Por enquanto.