Segunda maior cidade da África do Sul enfrenta pior seca em quase um século. Aproxima-se data em que água encanada deve ser cortada, quando moradores passarão a receber apenas 25 litros de água por dia.
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Em cerca de dois meses e meio, os habitantes da Cidade do Cabo poderão ficar sem água encanadacaso não ajam decisivamente para conter os efeitos da pior seca a atingir a segunda maior cidade da África do Sul em quase um século.
Os níveis das represas que abastecem a cidade, de 4 milhões de habitantes, voltaram a cair, de 26,6% na semana passada para 25,3% nos últimos dias, segundo dados apresentados nesta quarta-feira (24/01) pelas autoridades responsáveis pelo abastecimento de água. Há um ano, esses níveis eram de quase 40%.
Os reservatórios ao redor da Cidade do Cabo estão abaixo dos níveis ideais há mais de três anos. A crise aumenta os temores por parte dos cidadãos de serem forçados a enfrentar filas para obter rações diárias de água, o que, segundo estimativas deverá ocorrer a partir do dia 12 de abril, chamado de "dia zero". As autoridades locais afirmam que o abastecimento de água encanada será cortado quando os níveis dos reservatórios baixarem para 13,5%.
Se confirmada a tendência, os moradores terão de coletar rações diárias de 25 litros de água em 200 pontos de distribuição. Um banho de chuveiro utiliza em média 15 litros de água por minuto, e um vaso sanitário consome 15 litros a cada descarga, segundo a campanha sul-africana para conscientizar sobre o uso da água WaterWise.
Os habitantes da Cidade do Cabo receberam a ordem de utilizar diariamente no máximo 87 litros de água. A partir de 1º de fevereiro, essa quantidade será reduzida para 50 litros por dia.
A cidade conseguiu reduzir praticamente à metade o consumo de água, de 1,1 bilhão de litros em 2016 para 586 milhões nos dias atuais. Entretanto, a redução drástica no consumo se reflete no valor arrecadado com as contas de água, acarretando prejuízos aos cofres públicos.
A crise representa uma séria ameaça à industria de turismo na cidade, que recebe anualmente em torno de 2 milhões de visitantes. Apenas o distrito central de negócios deve ser poupado do corte no abastecimento.
Em razão da seca, a África do Sul, o sétimo maior produtor mundial de vinhos, deverá ter neste ano a menor colheita de uvas em mais de uma década.
RC/afp/rtr
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Água, bem precioso e escasso
Especialistas do mundo afora se encontram anualmente em Estocolmo para a Semana Mundial da Água. Apesar de vital, o acesso fácil à água potável ainda não é algo normal e evidente no planeta Terra.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Muita água, pouca para beber
A sobrevivência humana depende da água e, apesar de mais de 70% da Terra ser coberta pelo líquido, isso não significa que ela esteja disponível em abundância. Dos 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos existentes em nosso planeta, apenas 2,5% são potáveis. E das reservas globais de água doce, apenas 0,3% é de acesso relativamente fácil, em rios ou lagos.
Foto: AFP/Getty Images
Mais gente precisa de mais água
Desde 1950, a demanda mundial por água cresceu cerca de 40%, e aumentará ainda mais devido ao crescimento populacional global. O uso excessivo e a poluição tornam as reservas de água doce cada vez mais raras. A escassez severa afeta principalmente os países ao sul da Linha do Equador.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Escassez apesar do Amazonas
Até mesmo em países como o Brasil – cujo Amazonas é o rio mais rico em água doce do planeta – sofrem com a escassez do fluído precioso. O contínuo desmatamento da floresta amazônica alterou as condições climáticas no continente sul-americano, resultando em cada vez menos chuvas no restante do país.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
Seca do século
Em 2015, a falta de chuva no Brasil até acarretou a pior seca dos últimos 80 anos. Durante o verão inteiro praticamente não houve nenhuma precipitação pluvial. Os grandes reservatórios ficaram vazios, e a população de São Paulo sofreu racionamento. Apesar disso, os grandes plantadores de frutas seguiram sendo abastecidos com enormes volumes d'água para a rega de seus campos.
Foto: picture-alliance/dpa/Aaron Cadena Ovalle
Alimentos de alto consumo hídrico
Também na Europa o cultivo de consumo hídrico intensivo é um problema; especialmente na Espanha, onde, em cerca de 30 mil hectares de plantações, se produz grande parte dos produtos agrícolas da Europa. Volta e meia, poços são drenados ilegalmente e deixados secos ou salobros. O tratamento das águas subterrâneas é extremamente caro e depende de subsídios públicos.
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15.400 litros para um quilo de carne
Mais água ainda é empregada na produção de carne bovina. Para um quilo de carne, são necessários 15.400 litros d'água, principalmente no cultivo da comida para o gado. Com a melhora da qualidade de vida em países como a China e o consequente aumento do consumo de carne, estima-se que o dispêndio crescerá acentuadamente nos próximos anos.
Canais entre sul e norte da China
O país mais populoso do mundo já enfrenta problemas suficientes com o "ouro líquido": em algumas províncias do norte da China, os cidadãos têm menos água per capita do que nas regiões desérticas do Oriente Médio. O governo compensa transportando a água doce do sul para o norte em enormes canais. Contudo também se estima que 80% das águas subterrâneas do país estejam contaminadas.
Foto: picture alliance/AP Images/Ma jian
Mudança climática agrava escassez
As perspectivas futuras do planeta tampouco inspiram otimismo: devido à mudança climática, 40% mais seres humanos serão afetados pela falta d'água, segundo cálculo do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam. A escassez será sentida principalmente no sul da China, sul dos EUA, Oriente Médio e na região do Mar Mediterrâneo.