Enchentes, deslizamentos, cidades inteiras arrasadas. Tragédia no oeste da Alemanha já deixou mais de 100 mortos. Christoph Hasselbach, repórter da DW, mora na região afetada e conta o que viu.
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"Até a noite de quarta-feira (14/07) choveu sem parar por quase 24 horas em nosso vilarejo na região do Eifel, oeste da Alemanha. Choveu muito. Era como uma tempestade constante, só que sem relâmpagos ou trovões.
Por volta das 17h30, dirijo-me aos correios em Bad Münstereifel. Em uma ladeira no caminho, escorre água pela rua. E penso: vamos ver onde isso vai dar.
Quando retorno, meia hora depois, a água já subiu tanto que hesito por um momento. Com duas rodas, ainda é possível pela calçada. Mas certamente não por muito tempo. Meia hora depois, provavelmente eu não teria chegado em casa.
Chuva sem parar
No momento, estamos cuidando da casa de vizinhos que saíram de férias. De manhã, tudo estava bem no porão. Por volta das 19h, fomos verificar mais uma vez. Tudo estava debaixo d'água até o topo do primeiro degrau da escada. A eletricidade havia caído e a bomba para drenagem não estava funcionando. Um freezer cheio de suprimentos tinha que ser esvaziado.
Pouco depois, uma vizinha diz que o porão dela também estava inundado. Em seguida, outro casal. Nós nos dividimos e esvaziamos vários porões juntos da melhor maneira que pudemos, horas a fio. Eis o espírito de comunidade!
Como cena de um ataque aéreo
Um vizinho chega atrasado porque estava ajudando um amigo em um apartamento subterrâneo, que obviamente estava completamente devastado. Ele conta que o caminho de volta para nosso vilarejo estava praticamente fechado. Ele havia tentado todas as rotas de acesso, e apenas uma era transitável, ainda que com dificuldade. Vales inteiros estavam submersos.
Somente no dia seguinte fomos descobrir a extensão da inundação: em Bad Münstereifel, as enormes pontes de pedra sobre o rio Erft haviam sido destruídas. Massas de entulho haviam rolado até o centro histórico da cidade, que agora parece ter sido palco de um ataque aéreo. Chega a ser indescritível!
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Telefone, internet e rede celular sem sinal
Perguntamos como estão as coisas a um amigo, que é dono de uma livraria em uma bela casa de arquitetura enxaimel: "Não há mais loja", responde.
Telefone e internet estão sem sinal. A rede celular só funciona com interrupções. Alguns parentes não têm eletricidade nem água. Todo o vilarejo onde vivem está sendo evacuado pois uma barragem ameaça romper. Decidimos abrigá-los conosco.
Pessoas isoladas do mundo exterior
Um membro mais velho da família passa pelo mesmo. Mas ele está isolado do mundo exterior porque a ponte para sua casa foi destruída. Tentamos descobrir como trazê-lo até nós através de caminhos pela floresta. Ele diz que prefere esperar mais um dia e ver o que acontece.
A última enchente em Bad Münstereifel ocorreu em 2006. Naquela época, o Erft também transbordou de suas margens e inundou o centro da cidade. Diferente, desta vez, é a extensão do fenômeno, os montes de entulho, as pontes destruídas. E todos os povoados vizinhos isolados do mundo exterior. Os danos parecem enormes! E a terrível questão permanece: será que as mudanças climáticas irão nos aprontar mais disso no futuro?"
A devastação causada pelas enchentes na Alemanha
Fortes tempestades provocam caos no oeste da Alemanha. Enchentes, deslizamentos e desabamentos de casas deixaram mais de 160 mortos e um rastro de destruição.
Foto: Polizei/picture alliance/dpa
Desabamento de casas
Uma foto disponibilizada nesta sexta-feira (16/07) pelo governo do distrito de Colônia mostra as enchentes em Erftstadt-Blessem. Casas foram engolidas por deslizamentos e várias pessoas estão desaparecidas.
Foto: Rhein-Erft-Kreis/dpa/picture alliance
Rios turbulentos
Em tempos normais, o Kyll é um pequeno afluente do Mosela. Ele flui da região belga da Valônia para os estados federais alemães da Renânia do Norte-Vestfália e Renânia-Palatinado. No distrito de Bitburg-Prüm, na região do Eifel, que foi particularmente afetado pela tempestade, o Kyll transbordou nas proximidades de Erdorf e inundou partes do vilarejo.
Foto: Harald Tittel/dpa/picture alliance
Enchente na metrópole
Colônia, a quarta maior cidade da Alemanha, com cerca de um milhão de habitantes, também foi afetada pelo desastre das enchentes – como nesta passagem subterrânea , onde se vê apenas o topo de um carro que se projeta da água.
Foto: Marius Becker/picture alliance/dpa
Um vilarejo devastado
Na pequena cidade de Schuld, na região do Eifel, cerca de 50 quilômetros ao sul de Colônia, ruas e casas inteiras foram destruídas pelas torrentes. Esta foto feita por um drone mostra a extensão da destruição.
Foto: Christoph Reichwein/TNN/dpa/picture alliance
Inundação histórica do Ahr
No vale do rio Ahr, as chuvas desencadearam a enchente do século. Quando os indicadores de nível da água falharam na noite de quarta-feira (14/07), o Ahr já estava dois metros acima do recorde anterior. As ruas de Esch (distrito de Ahrweiler) foram tomadas por enxurradas. Vários vilarejos e cidades da região estão completamente inundados.
Foto: Thomas Frey/dpa/picture alliance
Mais de 100 mortos
A primeira fatalidade nas inundações foi relatada na região de Sauerland. Lá, após uma missão de resgate na cidade de Altena, um bombeiro caiu na água ao voltar para o veículo de emergência e foi levado pela correnteza. "Pouco tempo depois, ele só foi resgatado morto", anunciou mais tarde a polícia. A pequena cidade, que se encontra em grande parte inundada, também teve deslizamentos de terra.
Foto: Markus Klümper/dpa/picture alliance
Ajuda do Exército
Alertas de desastres foram emitidos em muitas regiões do oeste da Alemanha. Isso facilita a coordenação entre as autoridades – e a cooperação com a Bundeswehr, as forças armadas alemãs. Com um veículo blindado de resgate e equipamentos pesados de varredura, os soldados avançam para reparar os danos causados pelas enchentes na cidade de Hagen.
Foto: Roberto Pfeil/dpa/picture alliance
Bairros evacuados
Em Leichlingen, os residentes ajudaram uns aos outros durante as enchentes do rio Wupper. Devido às fortes chuvas, o nível do rio subiu tanto que partes da cidade tiveram que ser evacuadas. A área abaixo da represa do Murbach foi particularmente afetada, com ameaças de rompimento de uma barragem.
Foto: Roberto Pfeil/dpa/picture alliance
Em vão
Na quarta-feira (14/07), os bombeiros presentes na área do desastre tentaram prevenir o pior. Uma barreira de madeira deveria proteger o município de Mayschoss, no vale do rio Ahr, das águas torrenciais. No fim, os esforços foram em vão – as forças da natureza prevaleceram.
Foto: Thomas Frey/dpa/picture alliance
Conexões de tráfego interrompidas
Trem parado à noite na estação ferroviária de Kordel, no distrito de Trier-Saarburg, na Renânia-Palatinado. Parte do local foi inundado pelas águas do rio Kyll. O tráfego local e de longa distância está interrompido em grandes partes do oeste da Alemanha, assim como o fornecimento de energia.